Papers by Alipio De Sousa Filho

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Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFRN. Doutor em sociologia pela Sorbonne. Profes... more Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFRN. Doutor em sociologia pela Sorbonne. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFRN. Resumo Este artigo trata de uma compreensão teórica que será chamada construcionista crítica e que será abordada como uma teoria amplamente praticada pelas ciências humanas, embora não se tenha feito designar como tal. Este trabalho sustenta que um construcionismo filosófico, sociológico e antropológico, de longa data, afirma-se, cada vez mais, nas análises sobre indivíduo, cultura e sociedade e, notadamente, nos estudos sobre gênero e sexualidade. Nele, procura-se apresentar pressupostos e postulados gerais do construcionismo crítico, relacionando-o às análises de diversos autores e correntes. Partindo da hipótese geral segundo a qual as realidades humano-sociais, em toda sua diversidade e em todos os seus aspectos, são produtos de construção humana, cultural e histórica, o construcionismo crítico exprime a própria vocação das ciências humanas e opõe-se a todas as tentações substancialistas e essencialistas, notadamente as tentativas de biologização do social, muito difundidas atualmente. Palavras-chave: construcionismo; construcionismo crítico; teoria construcionista crítica; teoria social; realidade; real.
Configurações, May 23, 2023

Bagoas: estudos gays - gênero e sexualidades, 2009
The article discusses the "sexual orientation" concept as significant to think about the
homosex... more The article discusses the "sexual orientation" concept as significant to think about the
homosexuality and other sexual variants. The article proposes a critique to substantiality
and naturalization to what is called as "orientation", which through the discourse of
militant or specialists came to be understood as a natural substance, biological or
psychological. Emphasizes the need for a critical use of the concept, to avoid prejudiced
and conservative appropriations, which makes the politic-epistemological task of its
unsubstantiality something important. As critique of essentialism - whether as the
perspective of the biologizing, whether in the perspective of the psychologizing - the
article proposes to understand "sexual orientation" as a synonym for more choices,
options, preferences, constructions and practices of desire, of eroticism, of sexuality.
Keywords: Sexual Orientation. Essentialism. Substantiality. Biologism.Criticism. Desire.
Choice.
Resumo
O artigo discute o conceito de “orientação sexual” como significante para pensar a
homossexualidade e demais variantes sexuais. Propõe a crítica à substancialização e à naturalização do que se passou a chamar de "orientação", que, por meio do discurso
militante ou de especialistas, passou a ser compreendida como uma substância natural, biológica ou psicológica. Destaca a necessidade de um uso crítico do conceit, para evitar apropriações preconceituosas e conservadoras, o que torna a tarefa políticoepistemológica de sua dessubstancialização algo importante. Como crítica do
essencialismo – seja na perspectiva biologizante, seja na perspectiva psicologizante –, o artigo propõe entender “orientação sexual” como um sinônimo a mais para as escolhas, opções, preferências, construções e práticas do desejo, do erotismo, da sexualidade.
Palavras-chave: Orientação sexual. Essencialismo. Substancialização. Biologismo.
Crítica. Desejo. Escolha.

Itinerarius Reflectionis, 2008
No transcorrer das últimas décadas do século passado, diversos movimentos sociais organizam-se tr... more No transcorrer das últimas décadas do século passado, diversos movimentos sociais organizam-se trazendo à tona a discussão sobre as necessidades fundamentais do homem. As lutas destes movimentos sociais consubstanciaram-se nos direitos da criança e do adolescente, dos índios, das mulheres, dos negros, dos homossexuais, dos portadores de necessidades especiais, na luta pela preservação da natureza, contra a violência e por um mundo menos desigual. Nesse cenário histórico, emerge a luta pela inclusão de segmentos significativos da população no campo político, econômico, cultural e educacional. No campo educacional, a inclusão tem sido vista de maneira equivocada, o que tem levado os educadores a pensarem a inclusão somente das pessoas com deficiências físicas. A inclusão busca se opor a exclusão, privilegiando a igualdade dentro da instituição escolar, dando ênfase a uma educação que busque garantir a aprendizagem das pessoas que necessitam da mesma. A escola, para fazer frente às dif...
Revista Inter-Legere, 2020
O negacionismo anti-ciência dos nossos dias é claramente praticante de um obscurantismo que não p... more O negacionismo anti-ciência dos nossos dias é claramente praticante de um obscurantismo que não pode ser pensado como sendo o fenômeno do obscurantismo como conhecido na história social até aqui. Sendo da ordem de racionalizações deliberadas de irracionalismos e dedicado a uma pauta política influente, somente pode ser compreendido-e designado por seu justo título-como um obscurantismo cínico. O exemplo da afirmação burlesca que "a terra é plana" é quase uma caricatura desse cinismo que milita pela negação do conhecimento científico, mas igualmente serve de metáfora suprema da opção dos negacionistas por tentar desautorizar e invalidar o pensamento teórico-filosófico-científico por qualquer que seja a via. Mesmo quando certas vias sejam elas mesmas pseudociências, opinião ignorante, retórica ideológica anti-intelectualista e anti-ciência.

cientista social, professor da UFRN Editor da Revista Bagoas: estudos gays, gênero e sexualidades... more cientista social, professor da UFRN Editor da Revista Bagoas: estudos gays, gênero e sexualidades/UFRN Autor de "Tudo é construído! Tudo é revogável! A teoria construcionista crítica nas ciências humanas" (Cortez Editora,2017) Inegáveis são os avanços que ocorreram no nosso país em relação à institucionalização dos direitos de gays, lésbicas e transgêneros, por lutas e pressões do movimento LGBTI e por iniciativas dos poderes executivo, judiciário e, embora bem menos, do poder legislativo. Hoje, no Brasil, LGBTI podem formalizar seus casamentos em cartórios, realizar substituição de nomes em documentos (por mudança de identidade de gênero), realizar adoções de crianças, registrá-las como filhos/filhas de casais gays, efetivar diversos atos jurídicos, econômicos e sociais junto ao Estado, instituições e empresas, entre outros exemplos de direitos e institucionalizações que lhes garantem a igualdade na participação e interação social na vida coletiva e pública brasileira. E inegável também é a contribuição de TVs, rádios, jornais, revistas e editoras brasileiras na promoção, por meio de muitas formas, da estima social e respeito à existência gay e em defesa dos direitos daqueles que assumiram pública e politicamente suas identidades LGBTI: programas, novelas de TV, entrevistas, artigos, reportagens, livros etc. que buscam retratar a existência gay, sem descuidarem de chamar atenção também para o que ainda resta de desestima social e negação de reconhecimento para o caso de bom número de pessoas LGBTI.
Alipio de Sousa Filho, Sociólogo, professor da UFRN O tema público da Parada LGBT de São Paulo, n... more Alipio de Sousa Filho, Sociólogo, professor da UFRN O tema público da Parada LGBT de São Paulo, na sua edição 2015, não poderia ter sido pior escolhido: "Eu nasci assim, eu cresci assim: respeite-me!" Mas não espanta que o tema tenha sido dessa maneira elaborado. Há algum tempo, o movimento LGBT, no Brasil, tem dado demonstrações que iria dar uma quinada à direita, cedendo às pressões conservadores, advindas principalmente das correntes religiosas vinculadas às igrejas evangélicas e seus cúmplices.
Alípio de Sousa Filho -professor da UFRN. Editor da revista Bagoas.

-efeitos da ideologia, crítica e desideologização 1 Alípio Sousa Filho, sociólogo, professor do D... more -efeitos da ideologia, crítica e desideologização 1 Alípio Sousa Filho, sociólogo, professor do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-graduação em Filosofia da UFRN A luta por uma subjetividade moderna passa por uma resistência às duas formas atuais de sujeição, uma que consiste em nos individualizar de acordo com as exigências do poder, outra que consiste em ligar cada indivíduo a uma identidade sabida e conhecida, bem determinada de uma vez por todas. A luta pela subjetividade se apresenta então como direito à diferença e direito à variação, à metamorfose. Gilles Deleuze Imaginário social e ideologia Entre as diferentes possíveis maneiras de tratar o imaginário social, gostaria de desenvolver uma reflexão em torno da relação entre imaginário e ideologia. É bem verdade que o conceito de ideologia anda em desuso, e muitos autores em ciências sociais abandonaram a referência à ideologia como existindo. Embora também se possa constatar que, usem ou não o termo ou o conceito, nos estudos que realizam sobre fenômenos diversos, a ideologia ali está, em muitos casos apenas nomeada de outra maneira. De minha parte, estou convencido que falar de ideologia continua útil e uma condição de desvelar fenômeno que, por sua própria natureza, ganha em permanecer oculto; enquanto nossos estudos, ao abordá-lo, ganham em criticidade. Quando temos por assunto o imaginário social, estamos diante de imagens, representações, arte, ideias, crenças, mitos e tudo o mais que seja decorrente da produção imaginária humana. Como já se apontou, as sociedades humanas constroem mais ou menos variavelmente seu próprio imaginário e todas elas são dotadas de um modo de produção de imagens e de representações sociais imaginárias cujo lugar que 1 Palestra na mesa-redonda "Imaginário social e educação ao longo da vida", no II Colóquio Internacional do Imaginário, realizado em Natal, em 5 de agosto de 2011, pelo Instituto Kennedy de Educação. Publicado em SOUSA, Bertulino José e CÂMARA, Helder Cavalcante (Org.) Imaginário: novos desafios, novas epistemologias. Coimbra: CIEDA, 2012, p. 561-584.

Este artigo trata de uma compreensão teórica que será chamada construcionista crítica e que será ... more Este artigo trata de uma compreensão teórica que será chamada construcionista crítica e que será abordada como uma teoria amplamente praticada pelas ciências humanas, embora não se tenha feito designar como tal. Este trabalho sustenta que um construcionismo filosófico, sociológico e antropológico, de longa data, afirma-se, cada vez mais, nas análises sobre indivíduo, cultura e sociedade e, notadamente, nos estudos sobre gênero e sexualidade. Nele, procura-se apresentar pressupostos e postulados gerais do construcionismo crítico, relacionando-o às análises de diversos autores e correntes. Partindo da hipótese geral segundo a qual as realidades humano-sociais, em toda sua diversidade e em todos os seus aspectos, são produtos de construção humana, cultural e histórica, o construcionismo crítico exprime a própria vocação das ciências humanas e opõe-se a todas as tentações substancialistas e essencialistas, notadamente as tentativas de biologização do social, muito difundidas atualmente.

Professor Associado do Departamento de Ciências Sociais da UFRN. Doutor em Sociologia pela Sorbon... more Professor Associado do Departamento de Ciências Sociais da UFRN. Doutor em Sociologia pela Sorbonne (Paris V). [email protected] The concept's policy: subversive or of the sexual orientation concept conservative? Critique to essentializing Resumo O artigo discute o conceito de "orientação sexual" como significante para pensar a homossexualidade e demais variantes sexuais. Propõe a crítica à substancialização e à naturalização do que se passou a chamar de "orientação", que, por meio do discurso militante ou de especialistas, passou a ser compreendida como uma substância natural, biológica ou psicológica. Destaca a necessidade de um uso crítico do conceito, para evitar apropriações preconceituosas e conservadoras, o que torna a tarefa políticoepistemológica de sua dessubstancialização algo importante. Como crítica do essencialismo -seja na perspectiva biologizante, seja na perspectiva psicologizante -, o artigo propõe entender "orientação sexual" como um sinônimo a mais para as escolhas, opções, preferências, construções e práticas do desejo, do erotismo, da sexualidade. Palavras-chave: Orientação sexual. Essencialismo. Substancialização. Biologismo. Crítica. Desejo. Escolha.
Proporemos aqui entender que existe uma relação estrutural entre cultura, ideologia e representaç... more Proporemos aqui entender que existe uma relação estrutural entre cultura, ideologia e representações. De início, convém esclarecer que o que concebemos por ideologia é algo, se não inteiramente, em grande medida diferente do conceito utilizado por legiões de autores em filosofia e ciências humanas. Assim como totalmente afastado do sentido dado ao termo por um certo senso comum social que já o tornou "conceito" da vida cotidiana: a ideologia como sinônimo de opinião, idéias, convicções.
Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFRN. Doutor em Sociologia pela Sorbonne. alipio... more Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFRN. Doutor em Sociologia pela Sorbonne. [email protected] Pensar a existência e, especialmente, em sua relação com a subjetividade, talvez seja uma questão demasiadamente contemporânea. De todo modo, não é seu caráter temporal e tão atual problema que não pertença ele ao rol das questões importantes e desafiadoras que enfrentam filósofos, cientistas sociais e historiadores.

Os mitos têm a idade dos humanos. Poderíamos dizer que os mitos nasceram com os primeiros homens.... more Os mitos têm a idade dos humanos. Poderíamos dizer que os mitos nasceram com os primeiros homens. É provavelmente mais exato dizer que os mitos surgiram com os primeiros agrupamentos humanos. Estamos aqui assinalando a natureza coletiva do mito, tanto quanto a da existência humana. E, ainda, a relação entre um fato e outro. Na história humana, não há casos de indivíduos que tenham existido sozinhos. Exceto na ficção da literatura e do cinema, os humanos existiram sempre em grupos e este fato permitiu as condições que fizeram a espécie humana adquirir suas características atuais (a linguagem, o bipedismo, etc.), tanto quanto a aquisição desses atributos constituiu condições favoráveis à vida de grupo. A significado. Embora o mito cosmogônico goze de prestígio especial entre os mitos, pois a criação do mundo precede todo o resto -a "história primordial" do grupo fornecendo o modelo para todas as outras "histórias" -, todo mito conta a história de um começo, conta a forma como qualquer coisa surgiu: o mundo, o homem, uma espécie animal, uma instituição social, etc. Assim, contando os começos, os mitos fornecem explicações para o sentido da existência das coisas e do próprio homem. A narrativa das "origens" (acontecimentos fabulosos que tiveram lugar no surgimento do universo, animais, vegetais, humanos, ou no aparecimento da diferença sexual, do casamento, da família, do trabalho, da morte ou que revelam igualmente como os seres sobrenaturais tomam parte nesses acontecimentos, tornando-os "sagrados", etc.) traz implícita a explicação do fundamento de tudo existente, dando sentido à existência individual e coletiva.

O artigo procura abordar a problemática teórica em torno do conceito de ideologia -o abandono do ... more O artigo procura abordar a problemática teórica em torno do conceito de ideologia -o abandono do seu emprego por certos autores e sua confinação a uma definição restrita em termos marxistas (a ideologia como ponto de vista de uma classe particular) -, destacando sua importância para as análises da cultura, do simbólico, do imaginário social. Procura igualmente trazer a contribuição dos estudos antropológicos e sociológicos para pensar a ideologia como fenômeno de cultura (o modo de operar de todo sistema cultural), ligado aos efeitos de significação/simbolização de toda estruturação social, ao cada uma delas ratificarem-se no simbólico como ordens de caráter natural, universal, necessário, divino, negando-se como ordens contingentes, culturais, históricas, particulares, humanas. O artigo aborda ainda o fracasso de toda ideologia em sua pretensão em fazer a realidade contingente, arbitrária e convencional aparecer como uma realidade-toda ou uma verdade-toda, fracasso que se expressa nas diversas formas de transgressão da realidade e nas redefinições do simbólico que se vão produzindo na dinâmica das transformações sociais.
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Papers by Alipio De Sousa Filho
homosexuality and other sexual variants. The article proposes a critique to substantiality
and naturalization to what is called as "orientation", which through the discourse of
militant or specialists came to be understood as a natural substance, biological or
psychological. Emphasizes the need for a critical use of the concept, to avoid prejudiced
and conservative appropriations, which makes the politic-epistemological task of its
unsubstantiality something important. As critique of essentialism - whether as the
perspective of the biologizing, whether in the perspective of the psychologizing - the
article proposes to understand "sexual orientation" as a synonym for more choices,
options, preferences, constructions and practices of desire, of eroticism, of sexuality.
Keywords: Sexual Orientation. Essentialism. Substantiality. Biologism.Criticism. Desire.
Choice.
Resumo
O artigo discute o conceito de “orientação sexual” como significante para pensar a
homossexualidade e demais variantes sexuais. Propõe a crítica à substancialização e à naturalização do que se passou a chamar de "orientação", que, por meio do discurso
militante ou de especialistas, passou a ser compreendida como uma substância natural, biológica ou psicológica. Destaca a necessidade de um uso crítico do conceit, para evitar apropriações preconceituosas e conservadoras, o que torna a tarefa políticoepistemológica de sua dessubstancialização algo importante. Como crítica do
essencialismo – seja na perspectiva biologizante, seja na perspectiva psicologizante –, o artigo propõe entender “orientação sexual” como um sinônimo a mais para as escolhas, opções, preferências, construções e práticas do desejo, do erotismo, da sexualidade.
Palavras-chave: Orientação sexual. Essencialismo. Substancialização. Biologismo.
Crítica. Desejo. Escolha.
homosexuality and other sexual variants. The article proposes a critique to substantiality
and naturalization to what is called as "orientation", which through the discourse of
militant or specialists came to be understood as a natural substance, biological or
psychological. Emphasizes the need for a critical use of the concept, to avoid prejudiced
and conservative appropriations, which makes the politic-epistemological task of its
unsubstantiality something important. As critique of essentialism - whether as the
perspective of the biologizing, whether in the perspective of the psychologizing - the
article proposes to understand "sexual orientation" as a synonym for more choices,
options, preferences, constructions and practices of desire, of eroticism, of sexuality.
Keywords: Sexual Orientation. Essentialism. Substantiality. Biologism.Criticism. Desire.
Choice.
Resumo
O artigo discute o conceito de “orientação sexual” como significante para pensar a
homossexualidade e demais variantes sexuais. Propõe a crítica à substancialização e à naturalização do que se passou a chamar de "orientação", que, por meio do discurso
militante ou de especialistas, passou a ser compreendida como uma substância natural, biológica ou psicológica. Destaca a necessidade de um uso crítico do conceit, para evitar apropriações preconceituosas e conservadoras, o que torna a tarefa políticoepistemológica de sua dessubstancialização algo importante. Como crítica do
essencialismo – seja na perspectiva biologizante, seja na perspectiva psicologizante –, o artigo propõe entender “orientação sexual” como um sinônimo a mais para as escolhas, opções, preferências, construções e práticas do desejo, do erotismo, da sexualidade.
Palavras-chave: Orientação sexual. Essencialismo. Substancialização. Biologismo.
Crítica. Desejo. Escolha.
outorgou ao termo ideologia um sentido que o tornou sinônimo de uma inversão da gênese e do caráter da realidade social, ao esta adquirir a aparência de autônoma em relação à própria sociedade e aos seus agentes. A autonomização da realidade social – e de suas instituições, mecanismos, lógicas, práticas, agentes, crenças, valores etc. – com
relação à sociedade destaca-se, na visão de Marx e Engels, como a principal característica da ideologia. Isto é, a realidade social com aspecto de algo que existe sem a participação da ação humana, sem história, uma quase-natureza, realidade transcendental ou divina. Em várias passagens dessa obra, os autores assinalam o caráter “ilusório” que a realidade passa a possuir como um efeito da ideologia. Não no sentido de algo que não existe verdadeiramente, mas, por força da ideologia, isto é, de representações imaginárias, simbólicas e metafísicas, a realidade social (e tudo nela existente) é transfigurada,
adquirindo formas que não correspondem aos processos e práticas que lhe dão origem, sustentação e possibilitam sua reprodução. Adquirindo, principalmente, uma ilusória aparência de realidade que existe por si mesma, eterna e universal, pelas muitas maneiras que “ilusões” (“ilusão de uma época”, “ilusão política”, “ilusão religiosa”) tornam-se as
formas de sua explicação e representação.