Sonhos da noite eleitoral Passa Palavra

GALLI, Fernanda Correia Silveira; BIZIAK, Jacob dos Santos; ZOPPI FONTANA, Mónica Graciela (Orgs.). O não-sentido como espaço de (re)existências: processos de subjetivação na pandemia. São Paulo: Pedro&João, 2020. , 2020

O Pandemônio, palácio de Satã, ergue-se subitamente construído no Inferno; os pares infernais ali se assentam em conselho." John Milton 2020

2020

A noite do desejo-Reflexões sobre uma novela de Dostoiévski THE NIGHT OF THE DESIRE-REFLECTIONS ABOUT A NOVEL BY DOSTOIÉVSKI José Manuel Heleno* RESUMO O nosso intuito é refletir sobre a noção de desejo a partir de Noites brancas, uma novela de Dostoiévski. É nela que se mostram várias figuras do desejo (como diria R. Barthes), em particular a relação entre desejo e solidão, desejo e alucinação e as astúcias que são consubstanciais ao próprio desejo. Mais do que escolher o que desejamos é antes o que se descobre que é fundamental para a compreensão da nossa vida.

A relevância adquirida pelo pensamento de Michel Foucault em inúmeros campos disciplinares, profissionais e de militância política é circunstância bem conhecida. Apesar disso, poucos se têm dedicado a investigar as cinco visitas feitas pelo filósofo ao Brasil, nos anos de 1965, 1973, 1974, 1975 e 1976. O presente artigo aprecia as diretrizes ético-político-epistemológicas que recém começamos a pôr em prática em uma pesquisa histórica acerca dessa presença de um Foucault-corpo em nosso país. Trata-se, pois, de um work in progress. E se "trabalho em curso" soa a tradução literal, cumpre lembrar que enquanto a expressão em inglês costuma evocar algo valioso, a vernácula geralmente entorta narizes: o que está "em curso" não está pronto e acabado; logo, precisaria sê-lo antes de galgar a nobreza da edição, e suas primeiras elaborações deveriam manter-se na sombra ou, no máximo, ocupar o extratexto (cf. Lourau, 2004) -apêndice, rodapé, anexo etc. -de um escrito finalizado/totalizado. No entanto, convidada a elaborar um artigo para uma coletânea que tem por eixo a Ética, nada me pareceu mais adequado do que compartilhar esses jogos preliminares cheios de hesitações e ainda sem destino definido, já que a meu ver constituem o principal vetor do ato investigativo: o trabalho de auto-transformação, de tornar-se distinto do que se é, de tentar pensar de outro modo, de forjar novas imagens da verdade.

Palíndromo, 2022

O presente artigo tem como objetivo refletir sobre o processo criativo da obra "Sonhos trans(bordados)", elaborada entre os anos de 2020 e 2021, durante a pandemia da COVID-19. Através da narrativa autobiográfica e da metodologia a/r/tográfica, a autora narra e reflete sobre a pesquisa, a criação artística e as reverberações educativas do seu trabalho, com a intenção de fomentar, em sua comunidade, a ideia de preservação da memória dos sonhos. O bordado livre é a técnica escolhida para este "trabalho de aranha" de construção de redes e, também, para o desafio das representações imagéticas, emaranhando texto, arte têxtil, sonhos e utopias. Palavras-chaves: Processo criativo. Memória. Sonhos.

Na obra das Passagens, Walter Benjamin desejou realizar uma filosofia material, verdadeira "arqueologia da modernidade", em torno da Paris do século XIX, para revelar o século XX. Quando o filósofo investiga o século XIX para compreender o século XX, está considerando que o modo de dominação das consciências, através da criação de imagens de sonhos, que a indústria cultural da sociedade do espetáculo exerce hoje, de forma hegemônica, tem ali sua origem. Durante treze anos (1927-1940) Benjamin ocupou-se do trabalho das Passagens. O livro, tal como o conhecemos, é composto pelos escritos deixados em Paris, aos cuidados de Georges Bataille, quando o autor tentava escapar à barbárie do nazismo. Tentativa malograda na fronteira França-Espanha. Em Port-Bou, a 22 de setembro de 1940, Benjamin suicidou-se. O livro foi publicado na Alemanha 42 anos após sua morte. Das Passagen-Werk, editado por Rolf Tiedemann, reúne o material coletado para realização da obra: a obra das Passagens não existe enquanto texto acabado. Na tradução francesa, O trabalho das passagens, recebe o título de Paris, capitale de XIX siècle. No Brasil é apenas Passagens, mantendo a polissemia do termo. As primeiras notas sobre as Passagens datam de 1927, o projeto é iniciado sob influência da obra Le Paysan de Paris, de Louis Aragon, lançada no ano anterior. Poeta ligado ao movimento dadá, e depois ao surrealismo, Aragon protesta em seu livro contra a demolição de antigos quarteirões de Paris ameaçados de desaparecerem para dar lugar a novas e amplas avenidas. Para tanto, o poeta faz uma ligação entre a paisagem natural e a paisagem urbana: se a primeira é capaz de despertar no homem sentimentos arcaicos, a paisagem urbana também expressa uma nova mitologia. Olhando a cidade como paisagem natural, através do camponês, seu personagem, Aragon lança um olhar nostálgico às formas de vida condenadas ao desaparecimento, pelo ritmo incansável da modernidade. É um olhar acusador e capaz de ver o culto insensato ao progresso. O trabalho das Passagens era então (1927) denominado "Passagens de Paris-Uma Magia Dialética". O projeto é interrompido em 1929 e, por muito tempo, só se tem notícias das Passagens através da coleta de dados que Benjamin fazia na Bibliothèque Nationale de Paris. Até que, em 1934, o autor escreve a Scholem que está se preparando para retomar as "Passagens Parisienses", e uma das tarefas a realizar será revisar o amplo material reunido. Material anotado em cadernos numerados, codificados, pelo próprio Benjamin, através de um sistema que utiliza números e letras e constituídos pelo entrelaçamento de abundantes citações-850 obras são citadas-com reflexões do próprio Benjamin. Temos assim o caderno A para "Passagens", o caderno B para "Moda", etc... É a transcrição destes cadernos que compõe o corpo central da obra. O manuscrito mistura idiomas e é impossível saber como ele seria organizado. Tiedemann comparou estes cadernos, recheados de citações e reflexões aforísticas, ao material para a construção de um edifício cuja planta ninguém conhece, e do qual só foram edificadas a fundação e a estrutura de alguns andares. Segundo Benjamin, as citações e os dados materiais teriam o papel principal: a teoria e a interpretação seriam o pano de fundo. A