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2021, Perspectivas
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No ensaio Que é a literatura? publicado originalmente em 1947, Jean-Paul Sartredesenvolve os seus argumentos em resposta às duras críticas que recebia em razão do princípiodo engajamento característico de suas obras literárias. Esses críticos entendiam que Sartreutilizava a literatura como pretexto para propagar e defender suas teses políticas e filosóficas,produzindo assim um tipo de literatura engajada, distorcendo e empobrecendo o sentido nobreda arte das belles-lettres. Em resposta a essas críticas, a intenção de Sartre é fazer uma exaltaçãoda literatura, compreendendo-a como um livre desvendamento do sentido de mundo por meiode um objeto imaginário, um pacto de generosidade entre autor e leitor. Com objetivo dediscutir o sentido filosófico da literatura, este artigo se fundamenta na ontologiafenomenológica de Sartre e nos argumentos apresentados pelo autor em resposta a seus críticos,apresentando o princípio de engajamento a partir do conceito de intencionalidade daconsciência ...
Sartre relacionou-se, de várias formas, com o cinema. Não o fez sistematicamente, nem com constância. Dado que foi a vários níveis que esse contacto se deu, parece-nos que é possível abordar as relações de Sartre com o cinema segundo duas perspectivas principais, ou seja, que melhor se harmonizam com o objecto a abordar. Uma, panorâmica, que tenderia a fornecer uma perspectiva geral dos diversos tipos de aproximação que o filósofo francês praticou relativamente ao cinema; e outra que, procedendo por eleição de uma dominante, privilegiasse um desses tipos, tornando-o central. Uma abordagem como esta segunda, tomaria, obviamente, as outras formas de contacto como secundárias ou até, mais organicamente, subsidiárias da dominante. Até certo ponto, é a este segundo modelo de abordagem que damos preferência, procurando compreender o modo como a importância atribuída pelo escritor ao cinema, notória, mesmo quando não explícita, em momentos e tipos de textos privilegiados de crítica literária, condicionou e influenciou a sua reflexão poética.
Analytica , 2019
Jean-Paul Sartre (1905-1980) é celebrado como o filósofo da liberdade. Pelas linhas das variantes formas de expressividade realizadas pelo autor, a liberdade adquire sentido filosófico, ético, político e social. Em O ser e o nada, o conceito é entendido como a liberdade absoluta do sujeito, que o obriga a agir com e contra os entraves da situação; na Crítica da razão dialética, a liberdade é pensada como condição necessária da libertação individual e coletiva. Isso signifi-ca que a ontologia da liberdade desemboca na moral e na política 2 de modo a reconfigurá-las 1 O presente artigo é ao mesmo tempo o resultado do aprofundamento de uma discussão levantada na minha tese de doutorado e a defesa de um posicionamento metodológico de estudo e leitura de Sartre. Agra-decimentos à FAPESP pelo financiamento da pesquisa (Processo 2012/0254-2). Cf. Hilgert, 2017. 2 "É por isso que um dia escreverei, como meu legado, um testamento político. […] O que eu gostaria de mostrar é como um homem se volta para a política, como ele é cooptado por ela, como ele é tornado outro pela política. É preciso lembrar-se que eu não era ligado à política e que, ainda assim, a política me transformou a ponto de que, por fim, eu fui obrigado a me envolver. E é isso que é surpreendente! Eu vou contar o que fiz nesse
Boitempo disponibiliza aos leitores de língua portuguesa ao mesmo tempo que a versão em língua inglesa é lançada (Nova York, Monthly Review Press, 2012), foram inseridos pelo autor capítulos novos e alguns publicados anteriormente como parte do livro Estrutura social e formas de consciência II: a dialética da estrutura e da história (São Paulo, Boitempo, 2011). Todos foram, porém, revistos e atualizados para esta edição. NOTA DO TRADUTOR A coleção de ensaios Situations, bastante citada por Mészáros, compõe-se de dez volumes publicados originalmente em francês, pela Gallimard, entre 1947 e 1976. Os sete primeiros volumes foram lançados em Lisboa pela Europa-América, e o décimo, pela A. Ramos. O primeiro volume, Situações 1: críticas literárias, foi publicado no Brasil em 2006 pela Cosac Naify e alguns textos foram editados separadamente, como Que é a literatura? (2. ed., São Paulo, Ática, 1993). Em inglês, há também uma edição intitulada apenas Situations, que não se refere ao primeiro volume da série, mas sim a uma coletânea de ensaios retirados de todos os volumes. Prefácio à edição ampliada PREFÁCIO À EDIÇÃO AMPLIADA Em abril de 1992, o periódico trimestral Radical Philosophy, em uma entrevista publicada no número 62, fez-me a seguinte pergunta: "Você conheceu Sartre em 1957. Por que decidiu escrever um livro sobre ele? ". Esta foi minha resposta: Contudo, a mais "escandalosa" das recusas de Sartre talvez seja sua rejeição do Prêmio Nobel[16], em 1964. Muito embora diga com toda a clareza em uma carta ao Comitê do Prêmio Nobel que, com igual firmeza, declinaria do Prêmio Lenin, na hipótese improvável de que este lhe fosse concedido, André Breton acusa-o de realizar uma "operação de propaganda favorável ao bloco oriental"[17]. Sartre é acusado de um suposto golpe publicitário premeditado, calculado (como se necessitasse desesperadamente de publicidade, como o surrealismo, que perdera seus encantos), embora tenha escrito, em particular, à Academia Sueca assim que começaram a circular boatos de que o Prêmio podia ser-lhe concedido, tentando evitar uma decisão a seu favor, o que tornaria desnecessária toda publicidade. Isso con rma a sabedoria de Fichte, ou seja, de que quando os fatos não se ajustam às ideias preconcebidas, "um so schlimmer für die Tatsachen", "tanto pior para os fatos". A única instituição que permanece curiosamente distante dessa disputa pela alma de Sartre é a Igreja. Mas, por outro lado, a Igreja tem a rme tradição de primeiro queimar os supostos heréticos-como nos recorda o destino de Joana D'Arc-para elevá-los à condição de santidade muito tempo depois de mortos. 3 Não se pode, assim, negar que Sartre provoque paixões intensas. E, quando rejeita as generosas ofertas de integração, é atacado com indignação ainda maior: pois haveria algo mais perverso do que morder a mão que quer alimentá-lo? Existe ainda outro estratagema: a pretensa indiferença. Esta, porém, não funciona muito com Sartre, como ilustra bem seu antigo adversário Mauriac. Quando Sartre assume a responsabilidade pelo jornal perseguido do grupo maoista, La Cause du Peuple, Mauriac escreve, em tom de superioridade: "A ânsia por martírio que Sartre possui não é razão para que se encarcere esse caráter incuravelmente inofensivo"[18]. Algumas semanas depois, Sartre responde a todos que adotam essa forma de abordagem de Mauriac: "Eles dizem, com frequência, pois essa é a artimanha da burguesia, que quero ser um mártir e fazer com que me prendam. Mas não me agrada absolutamente ser preso-muito pelo contrário! O que me interessa é que não me prendam, pois desse modo posso demonstrar, e comigo meus camaradas, Louis Malle ou alguém mais, que há dois pesos e duas medidas"[19]. Pode-se ver aqui claramente de que modo Sartre, cercado pelo coro de risos satisfeitos do establishment, consegue êxito não só em desenredar-se de uma situação difícil-a despeito das disputas desiguais que caracterizam quase todos os confrontos em que está envolvido-como também em acabar por cima (um resultado pouco provável). Pois, se o prendem, haverá uma gritaria mundial a respeito da prisão de Sartre por crime de opinião (isto é, um delito político, e não criminal); e, se não o prendem, temerosos das consequências na opinião mundial, é preciso admitir de
Sartre Hoje Vol. 1, 2017
O problema da imagem e do imaginário sempre ocupou lugar central no itinerário sartriano. Não seria um abuso afirmar que é a partir de suas análises acerca da consciência imaginante que o autor desenvolve seu principal conceito filosófico, a liberdade. Com sua crítica à maneira pela qual o problema foi tradicionalmente enfrentado, inaugura-se um novo paradigma na historiografia do conceito. Instaura-se a necessidade de se considerar a imagem como um ato da consciência, realizando assim a definitiva cisão com a tradição substancialista da imagem. Doravante, não se pode mais, impunemente ao menos, considerar a imagem como uma coisa que habita a subjetividade humana. A imagem se configura, para Sartre, como um ato intencional da consciência imaginante.
A questão que se começa por pôr é a de saber se Jean-Paul Sartre foi um leitor desinteressado de poesia, ou seja, se a sua leitura dos poetas foi feita pelo puro «prazer do texto» ou se, pelo contrário, tinha um objectivo de captar o que, no poema, é pensamento. Esta pergunta tem a resposta incluída se pensarmos nos poetas que Sartre privilegia, ao longo dos seus textos: de Baudelaire a Mallarmé, de Francis Ponge a Jean Genet, trata-se de poetas (Genet só muito parcialmente poeta) que projectam na sua obra uma reflexão sobre o ser e a palavra, sobre o mundo e o texto, que Sartre vai utilizar como exemplo da sua concepção filosófica do homem. «Nous ne pensons pas, disait un jour le poète Francis Ponge, nous sommes pensés» 1 : ser pensado, eis o que o homem pode propor no espaço da sua totalidade, uma vez que o pensar do interior de si, o pensar-se, representa uma diminuição ou uma redução do ser face a essa totalidade que só pode vir do seu exterior. Francis Ponge, neste aspecto, é exemplar. Para Sartre ele é um exemplo radicale é na sua poesia que Sartre vai encontrar o projecto de separar o homem de si próprio, para se poder pensar, quando o poeta se objectiva na linguagem: «L'homme est langage, dit-il. Et il ajoute ailleurs, avec une sorte de désespoir : «Tout est parole.»(…) notons pour l'instant ce parti pris de considérer l'homme du dehors, à la manière des behaviouristes. Nulle part, en son oeuvre, il ne sera question de pensée.» 2 Sartre considera que a poesia tem essa capacidade, na objectualização da palavra, de separar a linguagem do pensamento: «Et l'idéal de Ponge, c'est que ses oeuvres, composées de mots-choses, qui survivront á son époque et peut-être à son espèce, deviennent choses á leur tour.» 3 Temos aqui formulado o ideal da palavra-coisa, que supera a dicotomia estabelecida por Sartre entre «les mots», por um lado, e «les choses», por outro. A poesia permite realizar essa fusão, mas ao mesmo tempo mantém a separação entre a palavra e a coisa, sendo essa distinção fundamental para autonomizar a conceptualidade 1 «Saint Genet comédien et martyr», pág. 94. 2 «Situations I», p. 22 3 Idem, pág. 233.
Phainomenon
sabre a psicanalise, a sua critica a hip6tese freudiana de um inconsciente, o seu p r6 p rio p rograma de psicana lise existencial suscitaram ao longo da se g unda metade do Seculo XX muitas reac 9 6es, nao raras vezes excessivas, redundando em leituras equivocas do seu pensamento: Aqui, perfilharei a posi 9 ao de Betty Cannon quando afirma que o existencialista frances " (...) concebeu uma filosofia ao mesmo tempo p or e contra Freud"'. Lon g e, pois, estou daqueles que denunciam um even tual p roblema narcisico de p ersonalidade ou um mundo esquiz6ide em Sartre (p osi 9 6es defendidas por James Masterson e Dou g las Kirsner, res p ectiva mente). Mesmo q ue fosse o caso, e dificil estabelecer al g uma relevancia neste forma de ar g umentar, sobretudo p ara al g uem, como Sartre, q ue recusou classificar o outro de 'doente mental' e afirmou, como ainda ha al g >-= u=n=s ____ _ anos Michel Contat lembrou, q ue " (...) a 'loucura' e a p enas uma maneira entre outras, possiveis, de 'realizar a condi 9 ao humana' ." 2 Limitar-me-ei, na p resente ocasiao, a introduzir o pro g rama sartreano de uma psicanalise existencial, mas centrando a aten 9 ao no debate sobre a existencia, ou nao, de uma t6pica do p siquismo humano que reserve um lugar para o lnconsciente (lcs). lsto, tendo como interlocutor p rivile g iado Sigmund Freud. Assim, p rocederei a uma ex p osi 9 ao em tres p artes:-Primeiramente, ex p orei um con j unto de ob j ec � oes, que classificarei de ordem ontol6 g ica ou, se se p referir, metafisica, a hip6tese freudiana da existencia de um lcs, ob j ec 9 6es q ue valerao sobretudo como afirma 9 ao de um determinado entendimento do q ue e, e deve ser, segundo Sartre, o Cs.
2017
O objetivo da presente pesquisa é analisar como Jean-Paul Sartre apresenta temas de ontologia e moral nas suas obras de teatro e de literatura. Propondo que a compreensão sobre o que é o homem se fez também reflexão literária e dramatúrgica, este trabalho apresenta o resultado do estudo feito das obras de ficção de Jean-Paul Sartre a fim de acompanhar a evolução do seu pensamento de ontologia e moral. A hipótese levantada por esta pesquisa é a de que há um modo privilegiado de conhecer e desvendar o interesse sartriano de compreender o homem: pela aproximação entre filosofia e ficção e entre ontologia e moral.
Kriterion-revista De Filosofia, 2008
RESUMO Este artigo pretende investigar, nos romances de Jean-Paul Sartre, a tessitura entre forma literária, investigação fi losófi ca e escolha ética implicada no trabalho do escritor.
Revista Contrapontos, 2021
Este artigo tem como objetivo discutir alguns aspectos da filosofia sartriana que revelem uma intersecção entre sua filosofia (e também sua biografia) e o que se pode chamar, muito genericamente, de processo educacional, isto é, fatos e fenômenos que apresentam, de modo direto ou indireto, um lastro pedagógico mais ou menos evidente em sua produção filosófica. Do ponto de vista metodológico, realizamos uma pesquisa bibliográfica, buscando a interação entre filosofia e educação, tendo como resultado parcial da referida pesquisa a ideia do ato pedagógico como um ato libertário, numa linhagem de pensamento capaz de aproximar Sartre e Paulo Freire.
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Kínesis - Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia, 2021
Outramargem, 2015
J.P. Sartre e os desafios à psicologia contemporânea, 2017
Revista Controvérsia, 2024
Revista Dissertatio de Filosofia
Deise Quintiliano Pereira, 2021
Cadernos de Ética e Filosofia Política, 2022