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Arte como transcendência - Breve leitura de Gadamer

2014

Abstract

Falar da relação de algo com a transcendência parece, à partida, tarefa pouco viável a partir da filosofia do recém falecido filósofo alemão, Han-Georg Gadamer 1. Não é, de facto, a filosofia hermenêutica o pensamento da finitude e da imanência por atonomásia, como protesto contra todas as desmedidas pretensões idealistas e transcendentais? Ora, se Gadamer é considerado um dos «patriarcas» da hermenêutica filosófica, como encontrar na sua filosofia qualquer indício da relação entre arte e transcendência? Os problemas enunciados repousam, contudo, em pressupostos nada menos problemáticos. Em primeiro lugar, não é de todo correcto que a hermenêutica filosófica seja exclusivamente pensamento da imanência. A sua dimensão ontológica, tal como desenvolvida paradigmaticamente por Gadamer na terceira parte da sua obra mestra, Verdade e Método, abre caminhos de referência irrecusavelmente transcendente, mesmo em continuidade com as tradições idealistas-apesar de as pretender corrigir em elementos fulcrais. A experiência do belo é disso paradigma, como veremos mais adiante 2. «A experiência hermenêutica tem a ver com a Tradição. Ela é que tem que vir à experiência. Mas a tradição não é apenas um acontecer a ser conhecido e dominado pela experiência, mas sim linguagem, ou seja, fala a partir de si mesma, com um tu.»