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2019, A Cor das Letras
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Eça de Queirós (1845-1900) é muito mais conhecido pelos seus romances realistas, entretanto, o autor se dedicou a elaboração de muitos outros gêneros, como o conto e a crônica, e até mesmo reelaborou histórias de santos. Visto que são três as revisitações hagiográficas de Eça, neste estudo, averiguaremos uma delas, a que está inacabada “São Frei Gil”. Essas narrativas, escritas durante a última década de vida, vieram a público postumamente, em 1912, em Últimas páginas. Em “São Frei Gil”, Eça retoma a lenda egidiana, preexistente em Portugal, ambientando na Idade Média a história do santo que pactuou com o Diabo. Nossa proposta é a de analisar a forma como a narrativa é construída e, se é possível, com efeito, afirmar que o escritor, ao fim de sua vida, havia se acomodado e se resignado com o velho Portugal e com os poderes instituídos, deixando de lado a escrita irônica para dar vazão a uma produção de enaltecimento pátrio. Para tanto, verificaremos de que maneira se realizou o diál...
Revista A Cor das Letras, 2019
Resumo: Eça de Queirós (1845-1900) é muito conhecido pelos seus romances, entretanto o autor se dedicou à elaboração de muitos outros gêneros textuais, como o conto e a crônica, e até mesmo reelaborou histórias de santos. Visto que são três as revisitações hagiográficas de Eça, neste estudo, averiguaremos uma delas, a que está inacabada "São Frei Gil". Essas narrativas, escritas durante a última década de vida, vieram a público postumamente, em 1912, em Últimas páginas. Em "São Frei Gil", Eça retoma a lenda egidiana, preexistente em Portugal, ambientando na Idade Média a história do santo que pactuou com o Diabo. Nossa proposta é a de analisar a forma como a narrativa é construída e, se é possível, com efeito, afirmar que o escritor, ao fim de sua vida, havia se acomodado e se resignado com o velho Portugal e com os poderes instituídos, deixando de lado a escrita irônica para dar vazão a uma produção de enaltecimento pátrio. Para tanto, verificaremos de que maneira se realizou o diálogo com a tradição pregressa da lenda e como o narrador discorre acerca de Gil, da ambientação e de outras personagens. Dialogaremos, sobretudo, com as propostas de Antonio Abstract: Eça de Queirós (1845-1900) is much better known for his novels, however the author devoted himself to elaborating many other textual genres, such as the short story and the chronicle, and even reworked saints' stories. Since there are three hagiographic revisits of Eça, in this study, we will investigate one of them, the unfinished "São Frei Gil". These narratives, written during the last decade of life, were made public posthumously in 1912 in the Last Pages. In "São Frei Gil", Eça takes up the egidian legend, pre-existing in Portugal., Setting in the Middle Ages the story of the saint who agreed with the Devil. Our proposal is to analyze the way the narrative is constructed and, if it is possible, in fact, to affirm that the writer, at the end of his life, had settled down and resigned himself to the old Portugal and to the instituted powers, leaving it to him. aside the ironic writing to give vent to a production of exalting country. To this end, we will see how the dialogue with the previous tradition of the legend took place and how the narrator talks about Gil, the ambiance and other characters. We will talk, above all, with the proposals of Antonio
2005
Era uma vez um rapazinho muito dotado intelectualmente, filho de gente da corte-o pai, alcaide-mor de Coimbra, fora da roda de D. Afonso Henriques, nosso primeiro rei. Tão dotado era que, diz Eça de Queirós, mal aprendeu a ler, logo devorou os 33 volumes que constituiam a bem dotada livraria do mosteiro de Santa Cruz. Depois disto, nada mais teria o mosteiro para lhe oferecer, de modo que pensou partir para estudar medicina na Universidade de Paris. Nesta decisão lhe foi favorável o próprio rei, D. Sancho I, que muito desejava ter médicos no reino, e para tanto, em 14 de Setembro de 1199, destinou 400 morabitinos para bolsas de estudo aos escolares do mosteiro de Santa Cruz que quisessem ir doutorar-se a França. No tempo de Gil Rodrigues, ainda só havia um médico em Santa Cruz, doutorado em Paris, Mendo de nome. Gil Rodrigues partiu com os criados. Ao chegar perto de Toledo, sai-lhes à frente um belo jovem montado a cavalo que indaga quem ele é, para onde vai e com que intenção. Gil responde e o cavaleiro argumenta que sim, a medicina não era mau futuro, mas para alcançar glória, riqueza e poder, ali em Toledo havia mestres muito melhores. Nas Covas de Toledo podia tirar o curso completo de Magia Negra. Gil Rodrigues deixa-se convencer, e entra na escola de nigromantes, cujas aulas se davam debaixo da terra. Findo um ano, o Grão-Mestre dos Demónios chamou-o de lado e fez-lhe a seguinte proposta: "Se daqui para a frente, Gil, desejas permanecer connosco mais tempo, é absolutamente indispensável que faças uma profissão de vida mais estrita; é que, quem pretende possuir esta ciência tem que dar ao demónio um documento feito com o próprio sangue, pelo qual lhe sujeita o corpo e a alma e renuncia junto de Deus à sua justificação, assim como a Deus, à fé e ao baptismo, e se a alguém mais tem apreço é necessário renegá-lo" (Frei Baltasar de S. João, p. 30). Gil escreveu e assinou com sangue, e o Demónio guardou o documento. Sete anos passou Gil na universidade subterrânea de Toledo, sem comer nem beber, pois tal não era necessário, substuído o alimento pelo contínuo êxtase. Já mestre nigromante, segue então para França. Em Paris correram-lhe tão bem os estudos de Medicina que breve ficou famoso pelas extraordinárias curas que realizava. Mas Gil dedicava grande parte do tempo à libertinagem, de modo que certo dia apareceu-lhe em visões um cavaleiro
Anais do XIII Congresso Internacional da ABRALIC Internacionalização do Regional, 2013
ABSTRACT: During the first years of the 1890s, Eça de Queirós committed himself to writing three lives of saints. The author revisited the history of São Frei Gil, Santo Onofre and São Cristóvão, developing fictions that, in addition to proposing to report biographical events, very close to the official hagiographies disseminated by the Catholic Church, also added information that differs from the details drawn from the stories related by Tradition. Called Vidas de santos or Lendas de santos, the queirosian narratives were compiled by Luís de Magalhães in the posthumous volume Ultimas páginas (1912), from which we know them today. In this work I will analyze what is considered the first of the Lives or Legends of saints, São Frei Gil, trying to demonstrate that in Eça's revisitation of the life of this medieval Portuguese saint, we have several elements of social criticism conveyed in works previously published by the author. , a fact that problematizes the false impression that the Lives or Legends of saints are disconnected from the critical discourse that consecrated Eça de Queirós as one of the greatest writers of Realism in Portuguese. RESUMO: Durante os primeiros anos da década de 1890, Eça de Queirós empenhou-se na escrita de três vidas de santos. O autor revisitou a história de São Frei Gil, Santo Onofre e São Cristóvão, desenvolvendo ficções que, além de se proporem a relatar acontecimentos de cunho biográfico, muito próximos dos relatos das hagiografias oficiais difundidas pela Igreja Católica, também acrescentou informações que destoam dos detalhes extraídos das histórias relatadas pela Tradição. Denominadas como Vidas de santos ou Lendas de santos, as narrativas queirosianas foram coligidas por Luís de Magalhães no volume póstumo Últimas páginas (1912), de onde as conhecemos hoje. Neste trabalho analisarei aquela que é tida como a primeira das Vidas ou Lendas de santos, São Frei Gil, procurando demonstrar que na revisitação feita por Eça à vida deste santo português medieval, temos presentes diversos elementos da crítica social veiculada em obras anteriormente publicadas pelo autor, fato que problematiza a falsa impressão de que as Vidas ou Lendas de santos estão desvinculadas do discurso crítico que consagrou Eça de Queirós como um dos maiores escritores do Realismo em Língua Portuguesa.
Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, e que as informações acima sejam mantidas. Para maiores informações, escreva para <[email protected]>. Estamos em busca de patrocinadores e voluntários para nos ajudar a manter este projeto. Se você quer ajudar de alguma forma, mande um e-mail para <[email protected]> ou <[email protected]> A RELÍQUIA Eça de Queirós Decidi compor, nos vagares deste verão, na minha quinta do Mosteiro (antigo solar dos condes de Lindoso), as memórias da minha vida-que neste século, tão consumindo pelas incertezas da inteligência e tão angustiado pelos tormentos do dinheiro, encerra, penso eu e pensa meu cunhado Crispim, uma lição lúcida e forte. Em 1875, nas vésperas de Santo Antonio, uma desilusão de incomparável amargura abalou o meu ser; por esse tempo minha tia, D. Patrocínio das Neves, mandou-me do Campo de Santana onde morávamos, em romagem a Jerusalém; dentro dessas santas muralhas, num dia abrasado do mês de Nizam, sendo Poncio Pilatos procurador da Judéia, Élio Lama, Legado Imperial da Síria, e J. Cairás, Sumo Pontífice, testemunhei, miraculosamente, escandalosos sucessos; depois voltei, e uma grande mudança se fez nos meus bens e na minha moral. São estes casos, espaçados e altos numa existência de bacharel como, em campo de erva ceifada, fortes e ramalhosos sobreiros cheios de sol e murmúrio, que quero traçar, com sobriedade e com sinceridade, enquanto no meu telhado voam as andorinhas, e as moutas de cravos vermelhos perfumam o meu pomar. Esta jornada à terra do Egito e à Palestina permanecerá sempre como a glória superior da minha carreira; e bem desejaria que dela ficasse nas letras, para a posteridade, um monumento airoso e maciço. Mas hoje, escrevendo por motivos peculiarmente espirituais, pretendi que as páginas íntimas, em que a relembro, se não assemelhassem a um Guia Pitoresco do Oriente. Por isso (apesar das solicitações da vaidade), suprimi neste manuscrito suculentas, resplandecentes narrativas de ruínas e de costumes...
A obra de Eça de Queirós por leitores brasileiros: ensaios do Grupo Eça, 2015
O objetivo deste trabalho é, a partir de uma leitura intertextual, averiguar em que medida Eça de Queirós de fato dialoga com os textos franciscanos tradicionais para a composição de “As Histórias. Frei Genebro”. Para tanto, analisarei primeiramente o conto de Eça, logo depois aquele que se considera ser o seu intertexto, o episódio da história de Frei Junípero presente nos I Fioretti franciscano, e, por fim, finalizarei o estudo com a comparação entre os dois textos.
Portugal-China: 500 Anos, 2014
No tempo de Eça de Queirós, o Oriente estava na moda. E também na ordem do dia, do ponto de vista político, pois que por lá se decidiam questões relevantes de que dependiam poderes imperiais e interesses económicos. Mas nesse mesmo tempo, o Oriente era vastíssimo e incluía muitas terras, muitas gentes e muitas culturas. Do chamado Próximo Oriente ao Japão, dito do Sol Nascente para quem o considerava a partir de um lugar de observação eurocêntrico, iam distâncias consideráveis. Entre a Europa e o Japão estava o Império do Meio (entenda -se: no centro do planeta), ou seja, a China que resistia aos ventos da Revolução Industrial e que só pela força militar usada nas chamadas Guerras do Ópio se foi abrindo ao comércio com o Ocidente. A pouco e pouco, os estrangeiros deixaram de ser, como até então, bárbaros. Arrastam -se estas tensões e os derivados conflitos bélicos por várias décadas, ao longo do século , com consequências que o Eça da segunda metade de Oitocentos conhecia bem, sendo, como era, leitor atento da melhor imprensa de então.
Diálogos com a literatura portuguesa II, 2023
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Entheoria: Cadernos de Letras e Humanas ISSN 2446-6115, 2021
RESUMO: O presente trabalho objetiva refletir sobre a presença do sagrado e do profano na obra A relíquia (1887), do escritor português Eça de Queirós. A primeira parte da pesquisa busca compreender o processo de profanação do sagrado na obra eciana em questão, cujo apogeu se dá com a morte de Cristo e a não ocorrência de sua ressurreição. No decorrer do segundo subtítulo, almeja-se desenvolver uma leitura que entenda a mesma morte como um processo com a finalidade de sacralizar por meio da dessacralização a mensagem de Cristo, visto que, embora Jesus morra (dessacralização), sua mensagem transcende a morte e transforma-se em metáfora religiosa (sacralização). Por fim, na terceira parte, tenta-se compreender como são construídos os movimentos de profanação do sagrado e de dessacralizar para sacralizar através do emprego da paródia, utilizada 1) como recurso que vê no texto parodiado um alvo a ser destruído; ou 2) como meio de transformação histórico-literária usado com vistas ao estabelecimento da distância crítica. PALAVRAS-CHAVE: O sagrado; o profano; a paródia; A relíquia; Eça de Queirós.
Forma Breve, 2014
No decorrer da década de 1890, a santidade foi uma das principais temáticas a que Eça de Queirós dedicou atenção em seus escritos. Emblemáticas nesse sentido, são as lendas de santos ou vidas de santos, conjunto de textos no qual o escritor se propôs a narrar a vida de três santos: São Frei Gil, Santo Onofre e São Cristóvão. Para Jaime Cortesão (1949, p. 118), a temática idealista acerca das vidas dos santos já era um projeto de Eça muito antes do que se poderia pensar. De fato, já em 1884, em carta a Oliveira Martins, o escritor revelava: "[...] por probidade de artista eu tenho uma ideia de me limitar a escrever contos para crianças e vidas de grandes santos" (Queirós, 1967, p. 65).
2021
UIDB/04209/2020 UIDP/04209/2020Neste texto apresenta-se uma prática pedagógica que tem como objetivo potenciar experiências de investigação e de formação aos/às estudantes da ESE-IPS nas áreas da História e Património, numa relação ativa com as comunidades e as memórias coletivas. A História local é espaço de interseção entre História e memória e um palco privilegiado para o envolvimento das comunidades com o território e a memória coletiva. Assumindo-se o local como referente para a apropriação do passado dos territórios e das gentes, mas também para a projeção futura das comunidades, o projeto «Dossiê de Memórias Feira de Sant’Iago» propõe desafiar estudantes do ensino superior a conceberem a investigação como potenciadora de conhecimento e de envolvimento comunitário. Baseada na pesquisa em periódicos locais e na recolha de história oral sobre a Feira de Sant’Iago (Setúbal) procura-se que se adquiram competências de investigação, mas, também, conhecimentos acerca da sociedade set...
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