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O consumo como ideologia

Abstract

Quando se fala dos tempos e das sociedades actuais, o seu verdadeiro problema, o mesmo é dizer, o problema da sociedade pós-Moderna, é a invasão da mentalidade mercantilista e quantificadora a todos os domínios do pensamento. Isto significa a absolutização do valor de troca associado aos processos de alienação do homem, que hoje é visível ao nível de um totalitarismo electrónico. O valor táctico vital, é, em qualquer caso, sempre objecto de regulação, força e incentivo ou estimulação. Por isso, esta religião do consumo surge como conduta activa e colectiva, mesmo como instituição, já que não é apenas fruição, mas essencialmente dever, à maneira de um fun system, como afirmava Baudrillard. Em vez de elevação da 'razão crítica', assistimos a uma vaga de alienação e 'coisificação desracionalizadas', formadoras do nosso modo de vida contemporânea. A técnica, ao permitir essa difusão massificada, está ao serviço do 'interesse' dominante de todas as corporações do entretenimento, persuade através da publicidade e da propaganda, manipulando o cidadão e induzindo-o ao consumo desregulado, gastando dinheiro e alimentando, com isto, a indústria e o mercado técnico-mercantil (sistema). Daqui à crise da dívida' vai um passo! Lipovetsky, de resto, refere-se a este totalitarismo económico dos mercados, quando refere que a própria cultura passou a estar sujeita a um claro domínio das multinacionais americanas, e a uma tendência crescente de concentração das indústrias da comunicação. A vida gira, pois, sempre em torno da eficácia e do binómio ilimitado produção-consumo acrítico, assente na absolutização da distinção e no desejo de mobilidade. É por isso que assistimos a uma aceleração sistemática de expansão e procura de tudo o que é novo, raro, distinto e 'actual', libertando o princípio do prazer e livrando-o de todas as carências e inibições. Os princípios clássicos da ubiquidade, repetitividade e estandardização manipulatórios, fazem da moderna cultura de massas ou indústria cultural, um meio de controlo manifestamente psicológico, e de condicionamento das necessidades. A comunicação torna-se sinónimo de pura astúcia e sedução, visando o critério perpétuo da rentabilidade e do lucro, remetendo o sujeito ao nível do 'homem unidimensional', de que nos falava Marcuse, isolado e preso na engrenagem da produtividade infinita. Tal facto torna-o um mero joguete do superfulo de necessidades fúteis, traduzíveis igualmente em simples mercadorias efémeras e perecíveis, as quais se mostram na espectacularidade estética, e encarecimento emocional das veleidades singulares. Pode dizer-se, na realidade, que existe um processo de produção concertado e mecanizado de criação e fomento de aspirações compulsivas, pauperizando psicologicamente o homem, já que o induziria a um utópico estado de satisfação gigantesca, a partir de uma propensão quase natural para a felicidade. A publicidade vai dar-lhe essa aura de espectacularidade, fantasia e sedução, que o alimentam. Da dialéctica Cultura Moderna/Cultura Hipermoderna, podemos traçar os vectores essenciais da sua distinção substancial, a partir dos binómios dever ser/desejo, conhecimento/distracção, e absolutização/efemerização. Agora, a imagem protagonizada no Écrã global, supera e extingue o valor do conteúdo centrado outrora no livro, tal como o dinheiro superou a honra! Vejamos esta dialéctica cultural entre o Moderno e o pós-Moderno, no quadro abaixo representado: SACRALIZAÇÃO DO CONHECIMENTO CULTURA DE ESPÍRITO (ELITIZADA) CONHECIMENTO PODER Honra DEVER -SER Intelectualização Gloria Importância Sentido (futuro) Recolhimento Absolutização do Saber VERDADE LIVROS Limitação de informação UNIVERSALIZAÇÃO