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2011, e-Spania
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No ciclo arturiano em prosa, representado em Portugal por vestígios importantes, embora fragmentários, todos eles pertencentes ao ciclo do Pseudo-Boron, a linhagem assume uma importante função legitimadora. Entre os romances que constituem o ciclo, a Estória do Santo Graal e o Tristão em Prosa na sua parte inicial (a chamada préhistória tristaniana) remontam à origem, por um lado, das linhagens marcadas pelo carisma divino que desembocarão no herói do Graal, e por outro, da genealogia maldita de Tristão e do rei Marc, que anunciam o destino trágico dos amantes da Cornualha. Na Estória do Santo Graal, das três linhagens escolhidas, duas são herdadas de obras anteriores e passam para segundo plano face à que se inicia com o primeiro cavaleiro cristão, a linhagem cavaleiresca por excelência e a única rigorosamente agnática. Na pré -história tristaniana, pelo contrário, as aventuras dos antepassados de Tristão inauguram uma espécie de anti-linhagem que contraria os princípios da linearidade e da progressão temporal, fundando na desordem as origens do amante de Iseu.
Este artigo objetiva discutir inicialmente um gênero literário específico cuja maior singularidade é apresentar-se como uma forma literária híbrida -os chamados livros de linhagens, fontes genealógicas e narrativas da Idade Média portuguesa (séculos XIII-XIV). A ênfase da análise dirige-se ao Livro de linhagens do Conde Dom Pedro, compilado durante o reinado de Dom Afonso IV (W 1325-1357). O texto linhagístico é examinado como um espaço de poder, dentro do qual os grupos da nobreza são colocados diante de situações de inclusão e exclusão social, e o hibridismo textual -alternando a descrição genealógica com narrativas de diversos tipos -é visto como um recurso eficaz para o exercício destes poderes e micropoderes. Por fim, na parte final do artigo, busca-se discutir, a partir destas fontes históricas específicas que são os livros de linhagens, uma das mais importantes questões do período: as relações entre a Nobreza e a Realeza. O problema específico que permitirá examinar estas relações é o da construção discursiva de um certo imaginário cavalheiresco que encontra sua projeção em algumas das narrativas incluídas nos livros de linhagens.
1997
A primeira linhagem que estudaremos será a dos de Aguiar, uma das que provêm da "linhagem-mãe" dos Guedões a qual, como acabámos de ver, também se implantou na zona de Chaves. Terá sido nesta última região, mais concretamente em Aguiar da Pena que, ou por herança ou por outra forma de aquisição, Mem Pires, bisneto de Gueda, o Velho, se fixou 1 , sendo o primeiro a quem o Conde Dom Pedro dá o apelido Aguiar, continuado pelos seus descendentes. Destes, referiremos Martim Pires de Aguiar que, do seu casamento com uma bastarda de Gonçalo Mendes de Sousa I, teve dois filhos: Pêro Martins, primeiro dos Alcoforados 2 , e Nuno Martins, continuador do apelido Aguiar 3 . A deslocação da linhagem 4 , das altas terras de Chaves para as mais suaves do vale do Sousa, poderá explicar-se precisamente pelo casamento atrás referido, já que a barregã de 1 Os seus descendentes estão bem documentados nas Inquirições do século Xin (como já foi devidamente valorizado por MJ.BARROCA e AC. MORAIS, 1986, pp.53-54), para a zona referida. Às inquirições de 1220 e de 1258, apontadas por aqueles autores, acrescentem-se as de 1288/90, nas quais seu filho Pêro Mendes é referido como tendo possuído, no tempo de D.Afonso n, uma casa na vila de Soutelo (fg. de Santiago de Soutelo, j. de Aguiar da Pena), pela qual honrara toda a vila de Soutelo, e as de Monte Negrelo e de Pena Ossela (3 e 4 casais respectivamente, agora de sua linhagem), ficando tudo devasso (ANTT, Gavetas, IJJ-10-18). O apelido Alcoforado deverá ter tido origem numa alcunha e não num topónimo (Vd. Armoriai Lusitano, p.41). 3 O uso do apelido, porém, durou pouco tempo, pelo menos em Portugal, já que Nuno Martins apenas teve uma filha. Como referem os genealogistas, nomeadamente F. GAYO, 1989-90,1, p. 193, o apelido Aguiar volta a surgir em Portugal no reinado de D.Fernando, mas sem que haja prova documental que permita a ligação com os antigos de Aguiar, avançando-se inclusive a hipótese de serem provenientes da Galiza. No entanto, um sobrinho de Martim Pires de Aguiar, filho de sua irmã Maria Pires e de João Gomes do Vinhal, usou o apelido materno, que transmitiu aos seus descendentes e que esteve na origem do topónimo Aguilar de la Frontera, cujo senhorio pertenceu ao primeiro Gonçalo Ane? de Aguiar por doação de Afonso X de Castela (Vd H.DAVJD, 1989, p.6). Muito embora Martim Pires seja referido com bens em Aguiar da Pena, assim como suas irmãs (M.J.BARROCA e ACMORAIS, 1986, p.53), é provável que os seus descendentes tenham preterido aqueles bens pelos da zona de Sousa até porque, nos finais do século XTfl, os Alcoforados não são referidos com qualquer bem em Aguiar, e mesmo a filha de Nuno Martins casa numa linhagem (Medas) situada patrimonialmente em Aguiar de Sousa. De resto, como se verifica no trabalho acima citado, será nos descendentes das irmãs de Martim Pires que encontraremos ligações à terra de Aguiar da Pena. sua mulher, apenas se sabendo que foi pai de: Vm4 -DÓRDIA NUNES DE AGUIAR, que ce. Martim Sanches das Medas (Vd. MEDAS). Vni -PERO MARTINS ALCOFORADO L primeiro a usar este apelido, foi ce TERESA SOARES DE PATVA, de quem teve: VDT1 -Afonso Pires Alcoforado, que segue; VTfl2 -JOÃO PDRES TENRO, que surge diversas vezes referido no texto das Inq. de 1258 relativamente a bens situados no j. de Penafiel de Sousa 11 . Nas inq. do reinado seguinte, concretamente nas de 1288/90, aqueles bens, e outros que terá adquirido posteriormente a 1258 12 , estavam já na posse de sua mulher, ALDA MARTINS BOTELHO e de seus filhos 13 : 1X11 -LOURENÇO ANES CARNES L de quem o Conde D.Pedro diz ter sido Mestre da Ordem de Santiago depois de enviuvar (ZZ62B10). Se assim foi, já era viúvo em 1315, ano em que foi eleito 14 , e antes de 4 de Junho, pois que nesta data, e sendo já Mestre, D.Dinis ordenou que lhe Tinha 2 casais na fg de S a M" de Perozelo, cuja ig. era de sua apresentação e de seus parentes (P.M.H.-Inq., p.588b), e um na fg. de S.Martinho de Rio de Moinhos (p.581b). Assim, são referidos 3 casais da ig., na fg. de Santiago de Valpedre, trazidos por seus filhos, e que ficaram devassos (ANTT, Gavetas, VÏÏI-3-2 / Perg. 18); uma quinta há muito honrada, que fora sua, na fg de S a M 3 de Perozelo, por ela honrando toda a vila, tal como a traziam sua mulher e seus filhos no reinado de D.Dinis, não deixando lá entrar o porteiro -as Sentenças de 1290 permitiram que a honra ficasse como estava, mas com a entrada do porteiro (ANTT, Gavetas, VIII-3-2 /Perg.15); um casal de Paço de Sousa, na fg. de S.João de Luzim, por avoenga, e que ficou devasso (ANTT, Gavetas, VTfl-3-2 /Perg 16); na mesma fg. de Luzim a quinta de Paços, que era a meias dos mosteiros de Pendorada e de Paço de Sousa e que, tal como fora feito por si, os seus filhos e Lourenço Ganso traziam por honra, e foi deitada em devasso (ANTT, Gavetas, VJJJ-3-2 /Perg 16); e 2 casais de Pendorada na fg. de Santo Estêvão de Oldrões que os seus filhos defendiam porque foram da sua avoenga e ficaram devassos (ANTT, Gavetas, Vffl-3-2 /Perg. 16). As Sentenças de 1290 parece terem sido acatadas, pois que nas Inq. de 1301 o porteiro entrava na quinta de Perozelo e na honra anexa (ANTT, Inq. de D.Dinis, L°3, fl.29); não o foram, porém, para os bens da fg. de Luzim, que nas Inq. de 1307/11 se mostrou continuarem a ser honrados por seus filhos (ANTT, Inq. de D.Dinis, L°7, fl.68). Ainda em relação às últimas inq. referidas, se apontam 12 casais que os seus netos honravam nas fgs. de S.Martinho de Rio de Moinhos e de S.Salvador de Gândara (ANTT, Inq. de D.Dinis, L°7, fls.67 e 68). 13 Os bens destes deverão ser deduzidos da nota anterior, já que o texto das inq. citadas fala de filhos ou de netos de João Pires Tenro mas não especifica os respectivos nomes. 14 ML V.139. A sua eleição ocorre durante o período em que o monarca português procurou subtrair a ordem ao controle castelhano (Vd ML. V. 139v°-140v°). Mendes, filhos daquele 32 . Deve ter sido vassalo de Dom Pêro Fernandes Ponço das Astúrias I pois que, a rogo deste, testemunhou e selou uma carta de doação feita por aquele ao conde Dom Martim Gil, em Algeciras, em 5 de Setembro de 1309 33 ; de resto, o mesmo Dom Pêro, em 3 de Janeiro de 1313, em paga dos serviços que de si recebeu, doou-lhe para sempre todos os bens e direitos que tinha em Olaia, no termo de Torres Vedras 34 . No conflito que opôs o rei ao Infante D.Afonso tomou o partido do monarca 35 , na companhia de quem assistiu à pesca de um solho que, pelas suas invulgares dimensões, teve honras de lembrança régia 36 . Não voltamos a encontrá-lo vivo depois de 1324, quando o referimos junto a sua mulher, mas sim já falecido quando o seu filho entregou ao almoxarife de Moncorvo 12,5 lbs., que era a parte da dívida das 120 que deixara ao morrer, sobre a renda de Paradela, aldeia de Mogadouro 37 , o que explicará o tratamento "do Mogadouro". De sua mulher teve: X5 -AFONSO VASQUES ALCOFORADO, que acabámos de mencionar, em 25 de Fevereiro de 1346, na Torre de Moncorvo, a pagar parte de uma dívida deixada por seu pai 38 . Foi vassalo do rei, e com essa designação nos surge em Lisboa, a 31 de Julho de 1348, a doar à ig. da Alcáçova de Santarém umas casas que recebera de sua mãe, sitas na fg. de S a M 3 da dita vila, doação feita por alma de seus pais e avós maternos, que sempre tinham sido naturais da dita igreja 39 . Não sabe se casou (ZX26P6). X6 -ALDARA AFONSO ALCOFORADO H, que c.c. João Mendes de Vasconcelos (Vd. VASCONCELOS).
Há muitas formas de caracterizar o século VIII. Neste estudo, pretendi esclarecer o real alcance dos agentes de Córdova e de Oviedo no Ocidente peninsular e discutir a importante acção de berberes e de moçárabes naquele primeiro século do Emirato de Córdova e do reino das Astúrias. O resultado final é um contributo para a definição de um panorama mais rigoroso acerca de um século sobre o qual se sabe ainda tão pouco. Esclarecidas as “fronteiras” (ou a sua ausência) entre os blocos civilizacionais que, na Idade Média, protagonizaram a (re)conquista, pretendi estudar a forma como os agentes colonizadores asturianos e leoneses se instalaram no espaço entre os rios Douro e Mondego, a partir da segunda metade do século IX. Assumindo que existiram terras de ninguém - no sentido em que, durante muito tempo, largas faixas da Península Ibérica não estiveram vinculadas a poderes delegados de Córdova ou de Oviedo-León e que, por isso, mantiveram ou criaram fórmulas específicas de auto-regulação - concluo que a acção colonizadora setentrional terá sido tendencialmente pacífica (sem que subsista notícia acerca de enfrentamentos militares pela posse do território) e de uma extraordinária amplitude geográfica, que abarca praticamente todo a área entre o rio Côa e o Oceano Atlântico, e entre o rio Douro e regiões mais difusas a Sul da Serra da Estrela e do rio Mondego. Esta dinâmica colonizadora globalizante em direcção ao actual centro de Portugal, que a documentação da época situa sobretudo numa faixa ocidental mais litoral, entre Santa Maria da Feira e Coimbra, conhece-se especialmente graças aos contributos da História da Arte e da Arqueologia. No vasto território interior entre Penacova e Numão, entre Arouca e Trancoso, subsistem os vestígios materiais mais impressivos da primeira expansão do bloco cristão setentrional sobre o Ocidente peninsular. Neste âmbito, S. Pedro de Lourosa continua a ser a principal referência construtiva (enriquecida, em anos recentes, com novas e problemáticas leituras sobre o que representa). Mas a análise territorial mais profunda, que tive ocasião de sintetizar, reafirma a verdadeira importância de outros locais, como S. Pedro de Balsemão, o Mosteiro de Fráguas, S. Martinho da Várzea de Lafões, a Sé de Viseu, o castelo de Trancoso, a Senhora do Barrocal, a igreja do Prazo, e um número crescente de sítios onde os agentes asturianos e leoneses deixaram registo material da sua instalação. Durante século e meio, diferentes vagas da expansão asturiana e leonesa alteraram profundamente a paisagem construída do território. Entre os agentes da colonização conta-se um príncipe, um rei, diversas famílias condais, bispos, comunidades monásticas, presbíteros e um número indeterminado de homens e mulheres livres, atraídos pelas possibilidades oferecidas por toda uma região a presuriar. Os dados reunidos nesta tese asseguram ao centro do actual território de Portugal continental o estatuto de capítulo essencial para a história dos reinos de Astúrias e de Leão. Foi aqui que aquelas unidades políticas mais se expandiram para Sul até finais do século X. E é aqui que se encontram materiais em quantidade e qualidade inequívocas da sua presença.
Estudos arturianos: desafios e perspectivas para o estudo da Idade Média insular, 2024
Esta coletânea apresenta alguns estudos que foram desenvolvidos no Brasil sobre a Idade Média insular, com particular enfoque na Matéria da Bretanha, o conjunto de textos que forma o que hoje conhecemos como mundo arturiano. Ainda que nem todos os textos abordem diretamente o lendário monarca, a opção pela alcunha "Estudos Arturianos" se mostra valiosa na presente empreitada. Por um lado, pois o universo de Arthur é amplo e comporta uma variedade gigantesca de temas, narrativas, personagens e acontecimentos que, não raramente, se "desgarram" em tradições independentes. O que faz do termo "arturiano" um guarda-chuva pertinente para esse tipo de abordagem. Por outro, pois foi o gosto em comum pela literatura medieval concernente a este monarca que deu coesão ao grupo responsável pela obra. O Arturus Insularum, originado da experiência proporcionada pelo Insulae (Grupo de Estudos sobre Britânia, Irlanda e Ilhas do Arquipélago Norte, na Antiguidade e no Medievo), mas também de vários outros grupos, núcleos e laboratórios de nosso país, nasceu deste interesse em comum. Da intenção de contribuir com a popularização desses estudos e, em dada medida, encorajar jovens medievalistas a se aventurarem numa temática que, ainda hoje, é geradora de encanto e fascínio. A(O)s autora(e)s que participam desta coletânea se encontram em vários estágios da caminhada acadêmica, com perfis profissionais e vieses teórico-metodológicos que diversificam os trabalhos aqui apresentados. Além de uma obra de divulgação científica, Estudos Arturianos presta uma singela homenagem a um nicho particular da nossa medievalística, a(o)s profissionais que têm realizado esforços para consolidar os estudos da Idade Média Insular em nosso cenário acadêmico tupiniquim.
Este trabalho explora a história da Península Ibérica como fator extralinguístico na formação de galego e português desde a conquista pelo Império Romano até a formação do Reino de Portugal e do final do processo de Reconquista da Península pelos cristãos.
Transição estratigráfica em Almoínhas (Loures, Portugal): evolução das importações finas na Lusitania entre c.100 e c.320 d.C.. JOSÉ CARLOS QUARESMA PROFESSOR AUXILIAR CONVIDADO. FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS. UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA. INSTITUTO DE ESTUDOS MEDIEVAIS -FCSH/UNL [email protected]
As fontes itinerárias essenciais do estudo das vias romanas da Lusitânia, Itinerário de Antonino, Cosmografia do Anónimo de Ravena e Itinerário de Barro de Astorga indicam um total de 56 estações viárias, 27 das quais ainda não identificadas com segurança. O presente artigo aborda os diferentes problemas que ainda subsistem e as suas causas e procura actualizar o quadro da geografia viária lusitana.
De uma figura cimeira da cultura portuguesa como foi Damião de Góis, dir-se-ia que não restaria obra volumosa ainda por publicar: aqui se perfila porém o presente Livro de Linhagens de Portugal para desdizer tal presunção. Em boa hora, foi por fim dada à estampa esta obra mantida até agora sob forma manuscrita em diversas cópias dispersas por arquivos e bibliotecas. Espanta que tal lacuna tenha sido possível. Mas haverá razões que a expliquem.
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FERNÁNDEZ GARCÍA, M. I.; GÓMEZ MARTÍNEZ, E. (eds.) - La cerámica de mesa romana en sus ámbitos de uso. Terra sigillata hispánica. I encuentro de investigadores. 19 y 20 de octubre de 2018. Andújar. , 2019
História Indígena no Brasil (HIS0037), DEHIS-UFRN, 2008
SPAL. Revista de Prehistoria y Arqueología de la Universidad de Sevilla, 2020
Anais do VI Congresso Internacional de História, 2013
Roteiros e rotas, 2018
Revista de História da Sociedade e da Cultura, 2010