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Gilberto Freyre: e o mito se faz história

2000, Mediações - Revista de Ciências Sociais

Abstract

E m um recente artigo publicado no caderno "Mais" da Folha de São Paulo, o antropólogo Hermano Vianna desafia os leitores a encontrar, em qualquer das páginas de Casa Grande & Senzala, a expressão mais discutida quando se fala de Gilberto Freyre: "democracia racial". Esta tal de "democracia racial" ganhou importância, tomou-se verdadeiramente um "mito" e acabou por obliterar todo o restante da vasta e importantíssima obra daquele que, deixando de lado preferências pessoais, deveria ser considerado, sem dúvida alguma, o maior antropólogo/sociólogo brasileiro. É bem verdade que Hermano Vianna propõe uma falsa questão, já que a simples ausência da expressão "democracia racial" de forma alguma invalida as críticas que são dirigidas a Gilberto Freyre, pois outras expressões aparecem no livro e acabam por levar à mesma imagem que se pretende negar. Em Casa Grande aparecem expressões como "paraíso tropical", "doçura das relações de senhores e escravos", "fusão harmoniosa de culturas" e outras tantas mais. Entre defensores e críticos de Gilberto Freyre, notamos opiniões dicotômicas e maniqueístas que acabam por impedir uma leitura crítica e enriquecedora da obra freyriana e, em conseqüência, da realidade brasileira. Desde os anos de minha graduação, quando passei vários dias lendo o Casa Grande com espanto e admiração, não deixo de ouvir as pessoas dizerem: "Ler Gilberto Freyre ? Não é ele que fala de 'democracia racial'?". Desde aqueles anos, inúmeras gerações de alunos de Ciências Sociais terminaram seus cursos sem terem lido uma única linha escrita por Gilberto Freyre. É uma pena. O objetivo deste trabalho é tentar situar a obra de Gilberto Freyre no contexto das discussões sobre esse tal de "brasileiro", este ser recém