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2022, Cincinnati Romance Review
Este estudo quer demonstrar a importância do poético-político para toda a obra de José Saramago e sugerir a sua necessária revisitação a partir da filosofia e da política. Argumenta-se, tanto desde uma perspectiva geral como a partir da microanálise de um exemplo de Memorial do Convento, que a escrita saramaguiana se caracteriza por um poético-político não-lírico que excede a história narrada ou o livro publicado. Mostra-se como os grandes textos saramaguianos criam um poético-político e uma responsabilidade ética com base numa ontologia da liberdade inserida num contexto sócio-histórico.
Cadernos CESPUC de Pesquisa Série Ensaios, 2022
José Saramago é um autor eminentemente histórico. Suas obras são urdidas e (re)significadas a partir desse elemento essencial que, por meio de suas lentes criativas, é capaz de se desdobrar poeticamente em diversas formas alegóricas e representativas do mundo concreto, passado e presente. Diante desse inevitável diálogo entre o literário e o histórico em sua obra, grande parte da crítica tem se dedicado, em múltiplas perspectivas analíticas, à compreensão de sua face leitora dos historiadores (VECCHIO, 2017; CERDEIRA, 2018; SILVA, 2022a), evidenciando, em especial, sua aproximação com os paradigmas marxista e da escola francesa dos Annales. O elo entre as duas correntes epistemológicas encontra-se centrado na concepção de História total, isto é, aquela que almeja compreender, em um mesmo plano narrativo, todos os sujeitos históricos, ricos e pobres, clérigos e leigos, dentre outros. A vista disso, o presente artigo objetiva elucidar como José Saramago, um declarado marxista, coaduna...
Em Tese, 2018
Os estudos acerca da obra de José Saramago caracterizam-se pela predominância de temas ligados ao humanismo, à democracia, à solidariedade, à exploração socioeconômica, entre outros. Igualmente, a posição do autor enquanto cidadão, de reiteradas críticas à imposição de interesses mercantis sobre a política, deturpando a democracia vigente na maior parte dos países da atualidade, também figura em diversas análises. Tomando tais características como base, pontuamos a necessidade de se reconhecer a democracia em José Saramago em um nível formal, mais precisamente na estrutura romanesca (aqui delimitada ao plano das ações). Argumentaremos que a estrutura do romance saramaguiano é dialética, viabilizando a realização plena do conteúdo democrático sem recair no ufanismo absoluto. Com uma análise do Ensaio sobre a lucidez, pretendemos objetivar a abstrata estrutura dialética para, então, sugerir uma qualificação para a estética saramaguiana: uma estética democrática.
É preciso corrigir o fato de que, ao contrário do que foi dito no artigo, os poemas dos dois primeiros livros foram reescritos e não de um só, como foi dito.
Colóquio/Letras, 2022
Os traços expressionistas são uma constante em toda a obra de José Saramago. Nos momentos em que o autor-narrador nos apresenta a vida como um drama grotesco, a tonalidade expressionista acentua-se. Este artigo procura mostrar a poética saramaguiana do grito, do grotesco e da abjeção, e o seu propósito no contexto da visão do mundo e da ação do autor de Ensaio sobre a Cegueira.
2024
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2024
No ano de 2003, em entrevista ao jornal O Globo, José Saramago afirmou que “sem democracia não pode haver direitos humanos, mas sem direitos humanos também não pode haver democracia. [Contudo], estamos numa situação em que se fala muito de democracia e nada de direitos humanos”. A fala do escritor português não (res)soa, ao sujeito contemporâneo, apenas como alerta de perigo, antes disso, convoca-nos para uma reflexão crítica e, certamente, conjunta acerca da política global e da própria promoção dos direitos humanos. Passadas mais de duas décadas de sua afirmativa, podemos observar, especialmente no caso brasileiro, o fortalecimento de ataques, em dimensão física e discursiva, às instituições democráticas, o descaso de certos governos com a dignidade de seu povo e, como resultado direto desses elementos, a proliferação de narrativas que menosprezam os direitos humanos e, em alguma medida, a própria vida. Diante do cenário que se coloca, o corrente ensaio objetiva apresentar um panorama acerca da obra de José Saramago, estabelecendo paralelos entre a suas produções ficcionais e a sua percepção pessoal sobre a política, a democracia e os direitos humanos.
Santiago, de salao a mártir: as transformações do ethos em "O velho e o mar", de Ernest Hemingway.
Via Atlântica, 2017
Apesar da desconfiança frente à política, especialmente ao se considerar a práxis dos políticos profissionais e a emergência da episteme pós-moderna, é importante ressaltá-la como um espaço entre os homens, o qual deve ser construído de maneira responsável e com a primazia no bem comum. É nesse sentido que entendemos a atuação de José Saramago – como cidadão e como artista –, ao promover a valorização de um conteúdo humanista-democrático. Argumentaremos que tal conteúdo axiológico, no romance saramaguiano, se realiza em razão de uma estrutura (plano das ações) dialética, a qual se harmoniza com o humanismo e com a democracia, além de impedir uma estética panfletária e dogmática.
Tese de Doutorado, 2012
O presente trabalho propõe um estudo acerca da configuração ensaística no gênero romance, ou seja, o romance visto como um espaço que possibilita o desenvolvimento do gênero ensaio, seguindo o viés da narrativa e da ficção. Para a realização da pesquisa, foram utilizados como corpus principal do trabalho as seguintes obras: Manual de Pintura e Caligrafia, (1977) e o Ano da morte de Ricardo Reis (1984), ambas do escritor português contemporâneo José Saramago. A reflexão sobre a discussão ensaística ficcionalizada no romance desenvolve-se da seguinte forma: primeiramente, busca-se apurar a existência embrionária da discussão ensaística na trajetória romanesca de José Saramago, ressaltando as influências de Montaigne em sua obra. Posteriormente, um segundo momento é destinado ao conhecimento e sistematização da teoria sobre o gênero ensaio, abordando-se os principais teóricos sobre o assunto, buscando referência sobre o ensaio desde Michel de Montaigne. Por fim, para dar prosseguimento à pesquisa, foi necessário abordar os dois romances que fazem parte do corpus do trabalho, procurando demonstrar como se dá o ensaio crítico ficcionalizado em cada um deles, enfatizando como se dá a discussão sobre o fazer literário e o fazer artístico por meio da metalinguagem, intertextualidade, chegando a um ensaio crítico construído por meio da narrativa de ficção. PALAVRAS-CHAVE: Saramago, romance, ensaio, metalinguagem, crítica.
Paulo de Medeiros e José N. Ornelas (eds.), Da Possibilidade do Impossível: Leituras de Saramago. Utrecht: Portuguese Studies Center, 2007, pp. 267-274. , 2007
Frei Luís de Sousa passa-se, como é bem sabido, "no palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada" (Garrett, 1982, 132). Como convém a um tal espaço, abundam nele os retratos de família, de acordo, por outro lado, com o que é exigido por uma certa poética do simbólico, do descritivo e do ideológico, dominantes no Frei Luís de Sousa. Do conjunto dos retratos destacam-se três, evidentemente colocados "em lugar mais conspícuo": "o de el-rei D. Sebastião, o de Camões, e o de D. João de Portugal".
Studia Iberystyczne, 2014
A narrativa de emancipação dos lavradores alentejanos constitui o principal eixo temático do romance de Saramago. Neste processo emancipatório, incorporado numa forma metafórica também no título do livro, emerge, da multidão oprimida e silenciada, o sujeito político cujo objetivo é destabilizar e reescrever o sistema como estrutura firme e dominadora. Este artigo pretende traçar o processo de subjetivação durante o qual se cria e se legitima o agente político, do ponto de vista da teoria político‑filosófica do pensador francês Jacques Rancière. O artigo demonstra como é que entram em jogo na narrativa saramaguiana as noções principais da teoria política de Rancière como o dissenso (dissensus), o desentendimento (mésentente), a partilha do sensível (le partage du sensible) e a subjetivação, tendo em conta as hipóteses políticas levantadas no romance.
Tinta-da-China, 2022
https://tintadachina.pt/produto/jose-saramago-a-literatura-e-o-mal/. Este ensaio pretende contribuir para a compreensão da problemática do mal quer em José Saramago, quer, a partir da sua escrita e do seu pensamento, na ação individual e na prática social e política (na vida ética): o mal substantivado na História em instituições como a Inquisição, a monarquia e outras formas de governo, e em poderes económicos como o do latifúndio alentejano anterior à Revolução de Abril e o dos mercados neoliberais; e o mal como princípio não acidental do humano, tão inscrito na nossa natureza como o bem e sempre em vias de se manifestar em múltiplas e (im)previsíveis formas. José Saramago não aceitava o princípio segundo o qual somos impotentes perante um sistema mundial inumano que estimula a desigualdade, a diferença e a desumanidade. Para o autor de Ensaio sobre a Cegueira, cada um de nós pode e deve ser um fator de construção de uma nova Humanidade, em vez de acatar, ou promover, as circunstâncias (socioculturais, políticas e biológicas) que nos condicionam. A solução, sempre provisória, insuficiente e relativa, para o mal do mundo está na (re)construção de cada um de nós e das instituições; reside nos valores morais voltados para o bem comum que cada pessoa e o coletivo sejam capazes de convocar e aplicar dia a dia, a cada momento. Se, individualmente e como sociedade, perscrutarmos o passado em busca de memórias vivas para o presente e o futuro, estaremos menos propensos a viver num «universo maléfico, inimigo do homem» (Eduardo Lourenço).
Estudos Avançados, 2010
enedito nunes é um tesouro nacional guardado na amazônia há décadas", diz Leyla Perrone-Moisés no prefácio ao volume A clave do poético, que reúne ensaios já consagrados e outros inéditos do crítico paraense, ao longo de mais de quarenta anos de produção. essa riqueza toda, síntese de uma assombrosa erudição e de um luminoso pensamento -que aproximou a crítica literária brasileira de suas raízes filosóficas -, habita "o menos provinciano dos intelectuais", como prossegue Perrone-Moisés.
eLyra — Revista da Rede Internacional Lyracompoetics, 11, 2018
Hoje em dia, a relação entre poética e política reveste-se de múltiplos matizes. Não só devido à sua variação ontológica sobre aquilo que criticam, mas também pelas diferenças geo-históricas e culturais, algumas das quais estão representadas neste número. Assim, para quem assume a perspectiva da mudança de regime dialéctico, a poética de toda a obra de arte deve assinalar os problemas do seu momento histórico e convidar à acção. Para outros, é na complexidade de outras poéticas e nas habilidades do público que reside a possibilidade de mudança. Individualidade e colectividade nem sempre dão as mãos. As noções de poética e política variam, as aproximações também. Basta referir que, durante décadas, poetas e artistas têm evitado tratar temas políticos ou de género nas suas obras, por recearem perder a sua vida ou os seus rendimentos. O caso do México, com as bolsas outorgadas pelo governo através do extinto Conselho Nacional para a Cultura, ilustra isto muito claramente. Outros envolviam-se abertamente na denúncia, mas desde uma perspectiva minoritária, e em alguns casos em franco namoro com as artes visuais ou performativas, o que resultava numa certa dose de permissividade: uma performance política de Lemebel no Chile, por exemplo, não resultava assim tão criticada pelo poder estabelecido porque, verdadeiramente, era ignorada; o Purgatorio de Zurita, também no Chile, foi entendido no seu momento histórico como um poema abstracto, não tanto político. Superando a nossa concepção de “arte política” qualquer restrição temática ou intencional e considerando outras questões, como a adequação enunciativa, a espacialidade ou a actio a ela vinculada, importa dizer que certamente os matizes da relação poética e política são inumeráveis espectros de cinzento, não um branco ou um negro. E preferimos tratar o poético, porque em per- e prospectiva é possível relacionar “o que faz” um/a autor/a com outras artes. Expande-se então a ideia de poética e o trabalho do crítico, perfilando uma consideração geral sobre os modos de ler e investigar poesia hoje, ao mesmo tempo que também se torna mais viável entender obras intermediais, o “que fazer” desde o múltiplo. Nesta linha, será necessário questionar uma vez mais a noção de poesia no nosso tempo, prestando a devida atenção ao seu estatuto multifuncional e instável, e operando depois com noções como “poesia não-lírica”. Este último rótulo tornou-se, através de diferentes trabalhos, uma ferramenta de grande utilidade para descrever e analisar a complexidade e a variedade dos discursos – formais, estéticos, mediais, teóricos, ideológicos, etc. – que condicionam uma parte importante da produção poética actual. O mesmo poderia acontecer com a noção de “espaço público”, que vem da filosofia política e da história cultural europeia, muito útil para a análise concreta de diferentes fenómenos poéticos; mas também com espacialidade, acontecimento ou resistência cultural, entre outros. Em muitos âmbitos podemos observar como as aproximações actuais se projetam sobre a cidadania e sobre os que são contemplados como integrantes das “multidões visíveis” (ou com direito a sê-lo). Por outro lado, o poético também encontra meios de manifestação que orbitam à volta da geração de indignados e dos movimentos sociais e políticos alternativos; a performatividade do ser colectivo. Parte destes interesses cristalizam hoje na actividade de certos colectivos, como o Seminário Euraca, que promove a discussão sobre as línguas e as linguagens disponíveis e funciona, ao mesmo tempo, como um dispositivo de emissão-recepção de textos, recitais e poéticas. Combinando a criação, a atenção teórico-metodológica com a sua aplicação crítica em estudos de caso, abrimos um número plural, polifónico. A filosofia política, a teoria literária, o comparatismo, a hermenéutica e as práticas artísticas convergem em diferentes corpos, espaços ou textos, relacionando praças públicas, prisões, outridades, oralidade e performance, visões sobre as possibilidades e os efeitos de internet, etc. Acreditamos que esta observação cruzada de práticas e discursos de resistência na actualidade, articulados de modo relacional, nos permite repensar as correspondências entre poesia e política, diferenciar entre efeitos performativos e eficácia política imediata, ligando tudo isso ao alargamento da nossa concepção do poético. Também este número da eLyra começa com uma secção de textos poéticos inéditos, neste caso ordenados por âmbito sociocultural e linguístico e, dentro deste, de forma alfabética. Sentimo-nos honrados de poder contar com nomes tão consagrados como os de Ana Luísa Amaral e Manuel Gusmão, mas também pela participação de Andreia C. Faria, uma das mais interessantes revelações poéticas dos últimos anos, e pelo facto de Ludovica Daddi estar novamente representada. Oferecemos também uma selecção significativa de poetas da Galiza, de diferentes gerações: Luz Pichel, uma das poetas mais atentas às questões de interferência linguística e aos discursos de fundo histórico, tal como María do Cebreiro, Oriana Méndez e Daniel Salgado, vozes muito conceituadas na poesia galega actual. Na Espanha, María Salgado já é uma das poetas jovens mais referenciadas que, como Luz Pichel, faz parte do Seminario Euraca; e a poesia de Tirso Priscilo Vallecillos costuma centrar-se na realidade social. Finalmente, temos em Sara Uribe uma das vozes mais importantes da poesia mexicana actual que, tal como a escrita do peruano Carlos Villacorta Gonzáles, exemplifica o trabalho de reconstrução da memória da violência na América Latina. A secção de estudos começa com uma contextualização teórica e metodológica da relação entre o poético e o político, entre solidão e comunidade na poesia, entre poiesis, aisthesis e politeia. Antonio Méndez Rubio considera que esta relação está em crise na actualidade e explora como a criatividade pode tornar-se numa nova forma de comunicação e de vínculo crítico. Bruno Ministro contextualiza e analisa os textos de intervenção de Abílio-José Santos e a sua arte postal, para exemplificar os processos de politização da estética e de crítica da estetização da política na sua obra. Cristina Oliveira Ramos também se ocupa de um poeta português menos conhecido, ao rever o tema da solidão e do êxodo em José Miguel Silva, a sua militância crítica face à sociedade contemporânea e a sua evasão da comunidade urbana. Pedro Craveiro estuda, no contexto político-ideológico da década de 1970 no Brasil, a produção da geração mimeógrafo e do colectivo Nuvem Cigana e os efeitos das suas intervenções no espaço público e para a figura autoral. Sérgio Bento revê a influência das tecnologias computacionais e digitais na poesia brasileira contemporânea, os rastos temáticos e o seu impacto estrutural nos poemas, reivindicando uma crítica dos fluxos de informação. Chiara María Morfeo apresenta as possibilidades do mundo digital como estratégia para visibilizar a poesia indígena no Chile, especialmente daquela que se afasta das noções históricas aculturadas dos mapuches. No seu estudo sobre poesia peruana actual, Ilka Kressner traça um roteiro da cidade neoliberal através dos poemas de Roxana Crisólogo, Victoria Guerrero e Ericka Ghersi, mostrando convenções líricas e propondo alternativas. Joseba Buj demonstra como as crónicas poéticas da crítica e tradutora Cristina Burneo Salazar sobre o poeta equadoriano Alfredo Gangotena revelam uma dinâmica contraditória entre corpo, mulher, povo ancestral (shuar) e território. Desde o âmbito do País Vasco, Iratxe Retolaza estuda poéticas de mulheres encarceradas, duplamente silenciadas e invisibilizadas pela sua identidade político-geográfica e pelo seu género num contexto geral de violência política. A partir de uma metodologia comunicativa e participativa, Maria Gislene Carvalho Fonseca analisa o género e a língua galega como aspectos políticos nas escolhas discursivas do grupo galego Cinta Adhesiva, ligado à performance poética. Como complemento a esta variedade de abordagens, dirigimos ainda um inquérito com quatro perguntas a artistas, poetas e investigadores, para que reflectissem sobre a relação entre o poético e o político no seu trabalho. Reunimos figuras muito diversas, procedentes de diferentes contextos artísticos e sócio-culturais: o professor universitário e poeta Arturo Casas; o artista urbano Miguel Januário; poetas como Daniel Salgado, Luz Pichel e Manolo Pipas; a romancista Isabela Figueiredo, porque não queríamos excluir a noção do poético na ficção; os âmbitos da videoarte e performance, com Ester Xargay e Maria Rosendo. A última secção, “Política do Olhar”, compila fotografias de intervenções e constelações poético-políticas no espaço público, para mostrar a importância dos sistemas de significação não-verbal na interacção e mediação públicas.
José Saramago - 20 anos com o Nobel, 2020
Resumo: Segundo Rancière (2013), a arte política não pode funcionar como uma simples encenação com significado, como um espectáculo que pretende consciencializar sobre um estado de coisas. Basicamente, porque ela produz um duplo efeito: Por um lado, estaria a legibilidade de um significado político e, pelo outro, o choque perceptivo, causado pela estranheza, por aquilo que se resiste à significação. Este choque, tanto perceptivo como sensível, o double bind entre o significado político e o impacto sensível, é uma das características inerentes à arte política. Neste contexto, o relatório pretende revisitar alguns textos emblemáticos da obra saramaguiana, entre eles o Ensaio sobre a Lucidez e O Ano de 1993, para esboçar um marco hermenêutico capaz de definir a relação entre o poético e o político na obra do autor. Trata-se de analisar os processos, com os quais Saramago estabeleceu as relações entre ontologia e fenomenologia, ou seja, entre a ideia de uma verdade e de um contexto, no qual esta ideia pode funcionar em termos tanto poéticos como políticos. Palavras-chave: Política, utopia/heterotopia, littérature engagée, Ensaio sobre a Lucidez, O Ano de 1993. Abstract: According to Rancière (2013), political art cannot function as a simple enactment of meaning, or as a spectacle that aims to raise awareness about a state of affairs. Basically, because it produces a double effect: On the one hand, there would be the readability of a political meaning and, on the other, the perceptive shock, caused by strangeness, by what resists meaning. This perceptual and sensitive shock, the double bind between political meaning and sensible impact, is one of the inherent characteristics of political art. In this context, this study shall review some emblematic texts of Saramago’s oeuvre, basically “Seeing” and “The Year of 1993”, in order to outline a hermeneutic framework capable of defining the relationship between the poetic and the political in his writing and thought. I will analise some of the ways in which Saramago established a relationship between ontology and phenomenology, that is, between the idea of a truth and a context, in which this idea can be operative in both poetic and political terms. Keywords: Politics, utopia / heterotopia, littérature engagée, Seeing, The Year of 1993.
Navegações, 2018
Ao reconhecer a dialética e o humanismo como princípios de construção estética em José Saramago, propomos um estudo da categoria narrativa da personagem na obra do autor, com o objetivo de explicitar seu funcionamento e seu acabamento axiológico. Partiremos do paradigma de que a explicação do literário – aqui em relação à personagem – necessita partir do interior do universo ficcional, isto é, a função que exerce na estrutura da obra. Com esse paradigma de investigação, advogaremos em defesa do funcionamento dialético da personagem; da sua constituição dialógica, intimamente relacionada a sua dialeticidade; e da articulação da vida da personagem quanto ao eixo semântico humanista-democrático, todos esses três elementos inter-relacionados de modo a construir uma certa cosmovisão de vida, de Homem. Para tornar o argumento mais sólido, recorreremos a alguns pressupostos de análise da personagem já tradicionais, como as propostas de Hamon, de Forster e de Bakhtin. *** The character in J...
Revista de Letras Norte@mentos
Nosso trabalho teve como proposta um estudo da obra saramaguiana, a partir das noções de caos e cosmogonia, intercalando-os com o conceito de uma narrativa caotizante. Como método introdutório, partimos da concepção da criação na/da escrita nos romances Claraboia (2011), Ensaio sobre a cegueira (1995) e Ensaio sobre a lucidez (2004). Em seguida, nos utilizamos do binômio cosmogonia/escatologia para enfatizar uma análise comparativa entre as obras As intermitências da morte (2005) e Caim (2009). Para esta pesquisa, destacamos a contribuição dos estudos de Mircea Eliade, em Mito e Realidade (2011) e em O Sagrado e o Profano (2010).
Universitat Autonoma de Barcelona, 2021
My article in this book from p. 157
2021
Although Suda attributes to Callimachus the composition of tragedies, modern scholars are usually skeptical about this information since his alleged plays did not reach us and no fragment was preserved. Suda's testimony is doubtful because of the incompatibility between the gravity of tragedy and the concept of slender poetry in Against the Telchines. Callimachus mentions tragedy in two instances in his Iambi, as well as he writes five epigrams in which he discusses dramatic performance at Dionysiac festivals and the use of plays in schools. This paper seeks to examine these texts, in order to demonstrate that there would be no Callimachus's refusal of tragedy but rejection of a style of composition considered high and bombastic. This discussion starts from a concise exposition of the Callimachean poetic program described in Against the Telchines and its proximity to the metapoetic debate developed in the agon between Aeschylus and Euripides in Aristophanes' Frogs.
Mauro Nicola Póvoas e Francisco Soares (coord.), Dicionário Eletrônico da Imprensa Literária em Língua Portuguesa. [Recurso eletrônico] Porto Alegre, Rio Grande: Casaletras. Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), 2024
Enquanto autor, a relação de José Saramago (16/11/1922, Azinhaga, Portugal – 18/06/2010, Tías, Espanha) com a imprensa literária começou, se não antes, pelo menos em 1943, tinha ele 21 anos, e estender-se-ia, com alguma regularidade, até 1953, em importantes periódicos (Diário de Lisboa, Vértice, Diário Popular, Magazine da Mulher, Seara Nova etc.), às vezes sob pseudónimo (Honorato), para a seguir se verificar uma interrupção de cerca de quinze anos. Um exemplo: na revista Ver e Crer, “de tipo magazine, generalista [...], espécie de imitação portuguesa da americana Selecções reader’s digest” (Real; Oliveira, 2022, p. 72), nas palavras de Miguel Real e Filomena Oliveira, Saramago, a quatro meses de completar 26 anos, publicaria, no n. 39, em julho de 1948, o conto “A morte de Julião”. Neste número, colaboraram nomes como Fernando Namora, que seria um dos mais destacados escritores portugueses das décadas de 1950 a 1970. No texto de Saramago, curto, com duas páginas A5, os temas do tempo e da morte, transversais a toda a sua obra, são tratados a par de uma ironia sarcástica e questionadora que incide sobre outro dos topoi e das personagens alegóricas por que também o escritor se singularizaria: o Senhor da Morte, Deus, só entende a liturgia se ela for em latim. Quer dizer: Deus não é poliglota, não ouve os fiéis e estes não o percebem, porque não sabem latim. Em 1953, José Saramago concluía o romance Claraboia (não publicado senão em 2011, após a morte do escritor[ A Editorial Minerva não o aceitou e a Empresa Nacional de Publicidade, que na altura não lhe respondeu, contactou-o na segunda metade dos anos 80, quando José Saramago era já um romancista muito reputado. Saramago foi à editora, pediu o datiloscrito e fez notar que o não queria publicar.]) e, neste mesmo ano, saía mais um conto breve, já definitivamente com o inconfundível estilo saramaguiano das crónicas e dos contos, intitulado “O heroísmo quotidiano”, no vol. XIII, n. 119 (julho), da Vértice: revista de cultura e arte (p. 397-399). Escrito cerca de dois anos antes, em setembro de 1951, como se assinala no final, é um conto sobre um homem comum “que eu conheci” (p. 399), o Zé Canhoto, morto por um touro, e sobre o ato de escrever, o valor da vida e da literatura. Constitui igualmente um manifesto – ironicamente contra uma certa mundividência urbana e uma certa literatura ensimesmada (a dos “próceres da nossa literatura”) – que nos revela muito sobre a evidente qualidade técnico-literária e sobre os interesses temáticos e semânticos de um autor à procura de si mesmo (e que, em larga medida, talvez sem o saber, estava a definir-se com segurança, a pouco e pouco): um autor, exímio no manuseio da sintaxe límpida e do “português literária e gramaticalmente puro” (Real; Oliveira, 2022, p. 186), que dedicava muitas das suas crónicas a homens e mulheres vulgares, nomeados não pelo seu nome próprio, marca de identidade e de valor nobre, mas por diminutivos, alcunhas ou pelo ofício ou por alguma característica psicológica, física ou traço comportamental (“O sapateiro prodigioso”, “O amola-tesouras” e “O cego do harmónio”, de A bagagem do viajante; “A velha senhora dos canários” e o “O fala-só”, de Deste mundo e do outro). Manifesto, insista-se, que José Saramago, a terminar o conto, define programaticamente em termos que toda a sua obra confirma: “a literatura não ama os valentes: prefere os débeis, os torturados, os angustiados, os sedentos de infinito”. [...] https://ppgletras.furg.br/dicionario
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