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A escravidão brasileira à época da Independência

2022, Revista USP

Abstract

Fornecemos, de início, estimativas do “estoque” e do “fluxo” de pessoas escravizadas no Brasil na primeira metade do século XIX, enfatizando a intensificação da entrada de cativos. Em seguida, analisamos os impactos desses números nas características da escravidão brasileira à época da Independência, privilegiando dois temas. O primeiro, o padrão da distribuição da posse de cativos, permite-nos perceber o alargamento da disseminação daquela posse. Quanto ao segundo, as famílias escravas, evidenciamos a concomitância de sua vulnerabilidade e resiliência no enfrentamento dos rigores do cativeiro. Por fim, discutimos a eventual participação direta das pessoas escravizadas no processo de emancipação política, apresentando as características do Partido Negro. Nas considerações finais, destacamos aspectos da trajetória da escravidão até sua abolição, apontando as cicatrizes profundas por ela deixadas, ainda nitidamente visíveis em nossos dias.

Key takeaways

  • De fato, se nos 80 anos do período 1701-1780 foram desembarcados 1. 470.198 escravos africanos no Brasil (18.377 1819 -Distribuição da população brasileira segundo províncias e condição social Observação: os "índios não domesticados", estimados em 800 mil, não estão computados nesta distribuição Fonte: Silva (1986, p. 163) 3 Sobre as características da economia das Minas Gerais no século XIX ver, em especial, Martins (2018), Slenes (1988) e Libby (1988).
  • Em outras palavras, à época da Independência, deter a posse de pessoas escravizadas era um atributo relativamente bastante difundido, não se reduzindo a um pequeno grupo de proprietários de elevadas quantidades de cativos.
  • Esse campo de batalha esteve em plena conflagração, é claro, durante toda a vigência da escravidão; não obstante, à época da Independência, e em meio ao intenso ritmo de desembarque de africanos escravizados no Brasil então observado, é razoável sugerir que a luta assumiu contornos peculiares.
  • Nesse sentido, é oportuno transcrevermos as afirmações feitas por Gladys Sabina Ribeiro, concernentes ao Rio de Janeiro: "Lutar na Guerra da Independência não foi privilégio dos escravos baianos.
  • Mas não é menos certo que essa construção tem em seus alicerces aquele mesmo "descompasso de cidadania" que acompanhava os indivíduos sujeitos à escravidão em nosso passado e com o qual ainda convivemos.