Academia.eduAcademia.edu

A angústica do tradutor

Quanto mais a mim se revelam os inúmeros significados da palavra 'juramentada', tanto mais os adornos do manto (Benjamin: 2008) da promessa prestada a mim se tornam visíveis, desfilando cruéis e impunemente ao asseverarem minha dívida, minha missão, minha tarefa (Derrida: 2006) e, por conseguinte, minha angústia. Como que em vigília, passo a empreender uma breve investigação, refletindo acerca do meu ofício de Tradutora Juramentada. Coloco-me a examinar a relação que se estabeleceu entre mim, a lei e o texto original. Em várias ocasiões a literatura relativa aos estudos da tradução faz constar adjetivos atribuíveis àquele que traduz, descrevendo-o penosamente como o que trai, transgride, violenta o texto (Rajagopalan: 2000), faz o espírito humano passar de um povo para outro [1] (Hugo apud Venuti: 2005), um sujeito que se acha imediatamente endividado pela existência do original (...), obrigado a fazer alguma coisa pelo original e sua sobrevida (Benjamin apud Derrida:?). Blanchot (1997), por sua vez, descreve o (hábil) tradutor como aquele que preserva um sentimento de imperfeita comunicação e, em L'Amitié (1971), segue afirmando "... Le traducteur est un homme étrange, nostalgique, qui ressent, à titre de manque, dans sa propre langue (...)". Assim, com a estranheza de um forasteiro, vejo todos estes traços ratificarem meu estado de angústia perante a atividade tradutória e tudo o que ela engendra.