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Revista Café com Sociologia, 2016
Resenha do livro: MOUFFE, Chantal. Sobre o Político. 1. ed. Tradução de Fernando Santos. São Paulo: Martins Fontes, 2015. 135 p. Chantal Mouffe, nascida em 1947, em Charleroi, é uma cientista política belga quase desconhecida do público brasileiro. Pesquisadora experiente, tendo atuado em diversas universidades da na Europa, América do Norte e América Latina, desenvolvendo pesquisas na área da teoria política e dedicando-se, especialmente, ao tema democracia. Atualmente é professora de Teoria Política na Universidade de Westminster, em Londres. Seu mais novo trabalho, "Sobre o Político", recentemente publicado no Brasil-aliás, o primeiro trabalho da autora traduzido para o português-apresenta uma importante reflexão sobre o campo político, que, além de desconstruir muitas das posições consagradas sobre o tema, ajuda-nos a pensar sobre a essência do universo político. O livro em questão está estruturado da seguinte forma: um competente prefácio escrito por Katya Kozicki, professora da Universidade Federal do Paraná e da Universidade Católica do Paraná-que tem o mérito de apresentar panoramicamente ao leitor brasileiro a visão de Chantal Mouffe-, uma breve introdução, seguida de quatro capítulos e da conclusão. O "Prefácio à Edição Brasileira" situa, de maneira clara e organizada, os argumentos centrais apresentados por Mouffe ao longo do livro. A partir de alguns conceitos-chave, como os conceitos de político, hegemonia, democracia etc., Kozicki perfaz os movimentos da autora belga, explorando não só as características gerais de seu pensamento, mas, sobretudo, as críticas por ela endereçadas ao pensamento pós-político, em especial a Urick Beck e Anthony Giddens, para os quais as rivalidades inerentes ao campo político podem e devem ser superadas.
Só penetramos bem as obras próximas de nós mesmos ou de nosso tempo, pelo menos por algum aspecto. Igualmente, só se amam os escritos cujo autor nos atrai por seu caráter e por seu exemplo. Ora, Aristóteles, com a extrema dignidade de vida, a nobreza de pensamento, o gosto por um justo equilíbrio, é para nós, por toda a sua personalidade, um reconforto. Com efeito, foi possível classificá-lo não apenas entre os "grandes espíritos", mas também entre os "grandes corações". Na coleção de biografias -quase de hagiografias -que levava este título, M. D. Roland-Gosselin chega a esta conclusão um tanto inesperada: "Decididamente, não é demais dizer que Aristóteles foi um excelente marido, um pai afetuoso e devotado, um bom homem." Ela ilumina com uma luz bastante simpática a fisionomia do Estagirita, cuja vida, na medida em que a conhecemos exatamente, revela poucos acontecimentos e, afora a educação de Alexandre, é carente dos grandes cargos que não raro acompanham os grandes livros consagrados ao Estado e a seu governo. Aristóteles não é nada mais do que um "intelectual", no melhor sentido da palavra, um "letrado" que às vezes age não sem prudência, mas nunca sem coragem ou sem retidão. Romperá com seu real discípulo depois do assassínio de Calístenes; para retirá-la do cativeiro, desposará Pítia, sobrinha e filha adotiva de seu amigo crucificado, Hérmias de Atárnea; com palavras tocantes, cercará de zelos póstumos sua segunda esposa, Hérpilis, "que lhe foi muito devotada". Assim, por si mesmo, o homem deu testemunho do alto ideal de que está impregnada toda a sua obra. Colocou-se naquela disposição de espírito que Paul Bureau diz ser a condição primeira de todo estudo sociológico, exigindo daqueles que se entregaram a ele o acordo da seriedade de suas vidas com a gravidade de suas pesquisas. Estas qualidades morais, no entanto, não teriam por si sós feito do autor da Política senão um estimável pedagogo e não o gênio excepcional que "entreviu de relance os problemas fundamentais da sociologia jurídica: a microssociologia do direito, a sociologia jurídica diferencial e a sociologia jurídica genética"; que, mais diretamente, fundou o direito constitucional com seus diferentes ramos, histórico, nacional, geral e comparativo; que criou a ciência política no sentido de que, estabelecendo a dinâmica e medindo o rendimento das instituições, ela ultrapasse o direito. Um duplo concurso de circunstâncias era necessário para o surgimento e o florescimento dessa prodigiosa personalidade e para, dentro do "milagre grego", realizar o milagre aristotélico. Em primeiro lugar, era preciso que Aristóteles fosse, senão médico -ele sempre se proibiu de ser um profissional , pelo menos biólogo, para que, dado desde a infância às ciências da natureza, tivesse adquirido o método original com o qual criaria as ciências do homem em sociedade. Como Wilhelm Oncken faz lembrar, Aristóteles era filho de um Asclepíada chamado Nicômaco, que vivia na corte de Macedônia como amigo e médico pessoal do rei Amimas II. Nicômaco era considerado um dos homens mais doutos e mais cultos de sua profissão. Segundo Dió Laércio, teria escrito seis volumes de medicina e um de física, isto é, provavelmente, de ciências naturais, no sentido amplo da palavra. Tal ascendência foi de decisiva importância para Aristóteles, pois a ciência médica na época se transmitia de pai para filho, numa iniciação confidencial que começava na mais tenra infância. Assim, sua instrução já se mostrava acabada quando Nicômaco o deixou órfão, entre dezesseis e dezessete anos. Já estava de posse de suas concepções mestras quando veio a Atenas para seguir os ensinamentos do divino Platão. Estava pronto para revolucionar o pensamento de seu tempo e para prefigurar a atitude científica de que se orgulha a sociologia contemporânea. Ele levava à pesquisa esta abnegação que é própria do verdadeiro cientista que não chega à conclusão senão através de um longo exame analítico, esta paciência que escapa às tentações dos resumos brilhantes e das conclusões a priori. O Estagirita sempre prevenirá seus discípulos contra a facilidade e a presunção e, se algumas vezes lhe acontecer, na aplicação de suas próprias regras, de também pecar, sempre saberá voltar aos princípios essenciais do ensino paterno. A pergunta do aluno Alexandre, que o interrogará sobre os seus mestres, responderá altivamente que "as próprias coisas o instruíram e não lhe ensinaram a mentir". Mas uma segunda disposição da sorte deveria vir reforçar em Aristóteles as virtudes do observador e a imparcialidade do cientista. Quando o autor da Política começou seus estudos em Atenas, enfrentou a atmosfera pesada criada pela perdida guerra do Peloponeso, deixando nos espíritos cultivados uma dolorosa farpa. A última concepção do Estado, ideal e serena, é a de Hipódamo de Mileto. Platão era uma criança quando a tempestade passou sobre a Hélade, e a instabilidade de uma luta de partidários, durante cerca de trinta anos, lhe inculcou uma concepção romântica do Estado que rejeita o presente, idealiza o passado de maneira nostálgica e aumenta indevidamente as virtudes da Lacedemônia, a rival vitoriosa. Pelo contrário, Aristóteles sente-se imediatamente um ateniense. Está convencido da missão ecumênica daquela Cidade, à qual pertence em parte por seu nascimento, mas sobretudo pela educação e pelo afeto. No entanto, não compartilha em seu coração a dor patriótica e o orgulho ferido de seus contemporâneos para com Filipe e Alexandre. Esforça-se por escrutar o futuro e nele descobre as tribos gregas divididas reunindo-se sob o forte cajado dos macedônios. Na evolução dos povos, queria ver superpor-se aos três estados que descreveu -a família, a aldeia, a Cidade -o da federação dos Estados. Diferentemente de Demóstenes, mais velho três anos do que ele, e que morreu no mesmo ano, ele se sente incapaz de se ligar ao passado e de lutar desesperadamente por ele. Além disso, Aristóteles, como mais uma vez explica muito bem Wilhelm Oncken, não pode ser um escritor "engajado". Atenas era sua pátria por eleição e predileção, mas não sua pátria carnal, e sua escolha, que tudo deve ao espírito, surpreende de início quando imaginamos a gravidade da situação e a asperidade da luta que na época dividia os patriotas democratas e os macedônios monarquistas. Atenas concedia-lhe, conforme as regras, a proteção de sua pessoa, dos bens e das convicções, mas ele continuava a ser um "meteco", um indivíduo sem direitos públicos, meramente tolerado, que precisava de uma causa diante dos tribunais, que pagava doze dracmas por ano para não ser vendido como escravo, que carregava os vasos sagrados nas procissões e era obrigado a muita discrição no comportamento exterior. Sem dúvida, a democracia ateniense era vasta em suas concepções sobre o direito de cada um à existência, ao pensamento, à palavra, mas a aristocracia reagia violentamente contra esse liberalismo. Na maior parte do tempo, os "metecos" não participavam em nada da vida intelectual. Eram homens de negócios que, assim como os judeus na Idade Média, viviam à margem das altas classes e não pediam para se misturarem a elas. Aristóteles, ao contrário, por causa de seu ensino, achava-se necessariamente em contato com a melhor sociedade e deve ter sofrido com isso. Foi obrigado a levar adiante a sua polêmica com Platão segundo as regras de uma grande prudência e dar provas de uma real coragem intelectual, até o dia em que um perigo mortal o obrigou a partir. Anteriormente, um novo e decisivo obstáculo lhe viera de seu casamento, tornando um abismo o fosso profundo das castas que já o isolava. Como dissemos, casara-se com Pítia. Ora, ela era sobrinha e filha adotiva de um liberto, Hérmias, três vezes vendido como escravo. Embora tivesse reinado sobre Atárnea cidadezinha da costa do Oriente Médio, nada podia apagar sua origem, nem sua triste condição de eunuco. Os melhores amigos de Aristóteles, que sempre o haviam defendido diante da opinião pública ateniense, quiseram que esse casamento não fosse realizado, mas são conhecidas as razões decoração e de reconhecimento que impulsionaram o Estagirita a ir adiante. Assim, a posição de Aristóteles com relação ao meio em que viveu mostra-se inteiramente particular. Jamais se envolveu com política prática. Sua condição de "meteco" e seu mau casamento o teriam impedido, na falta de motivos intelectuais mais profundos. Não podia, portanto, chegar ao conhecimento do Estado senão através dos estudos históricos e da observação dos acontecimentos em que não devia intervir diretamente. Não possuindo nem os direitos, nem os reflexos de um cidadão, ele se viu fora, senão acima, das brigas de partido. A própria força dos acontecimentos o situava na posição de observador objetivo e desinteressado. Não devia, com seu mestre Platão, esperar uma reviravolta política, nem, com Demóstenes, lançar-se com todas as forças na luta, como herói trágico. Como estrangeiro, pensa, senão em conformidade com seus anfitriões, pelo menos fora de suas correntes políticas ordinárias. Como filósofo, também conquistou esta "coragem do isolamento" -de que ainda fala Paul Bureau; leva outra vida; realiza outros estudos; constrói outro sistema; segue seu próprio caminho, combatido por seus êmulos, mas cercado de discípulos. É em meio a estes últimos que devemos agora considerá-lo para compreender a extensão e a execução de sua obra política. O espetáculo, sem dúvida, não é o que nos propõem "as atitudes nobres e estilizadas da Escola de Atenas, ou, no extremo oposto, a atmosfera monótona e fechada de nossos anfiteatros da Sorbonne. Mas é extremamente provável que... o encanto e a liberdade só pudessem vir de fora, das árvores próximas, consagradas ao deus da música, da luz trêmula que banhava as colinas atenienses". Porque a Escola é chamada peripatética, erraríamos se reduzíssemos todos os seus exercícios a uma espécie de recreação espiritual, semelhante à de Péguy e seus companheiros ao redor da...
Resumo: Analisaremos a discussão em torno do igualitarismo político em Atenas. Abordaremos o caso das elites atenienses arcaicas no período da tirania dos Pisistratidas. As famílias aristocráticas proeminentes realizavam carreiras militares e buscavam novas formas de enriquecimento na região do Chersoneso. Discutiremos sobre a analise polarizada entre aristocracia e pólis, seu sistema de interação entre gregos e não-gregos e as redes de conectividade em torno do mar Egeu.
Resumo: Tendo em vista o objetivo primordial do governo eletrônico de buscar, através do uso das tecnologias de informação e comunicação, democratizar o acesso à informação, este artigo busca apresentar a televisão digital como ferramenta democrática, no sentido mais amplo da palavra, para promover a inclusão social. Ainda, visa identificar quais iniciativas do Governo já caminharam nessa direção, tanto em termos do desenvolvimento e implantação de serviços públicos para os usuários, quanto em termos das políticas de facilitação do acesso aos mesmos. Abstract: Given the primary objective of e-government to seek, through the use of information technology and communication, democratizing access to information, this article introduces digital TV as democratic tool, in the broadest sense of the word, to promote social inclusion. Still, aims to identify which Government initiatives have already moved in this direction, both in terms of development and deployment of public services for us...
A filosofia moral e política de Alasdair MacIntyre tem sido classificada frequentemente como comunitarista no âmbito do debate ético-político com o liberalismo, a despeito dele recusar textualmente tal alinhamento e empreender crítica a essa posição como conservadora. buscamos justamente precisar a posição de MacIntyre quanto às suas concepções de comunidade e de política, explicitando os pontos principais de sua formulação teórica que a distinguem dos comunitaristas tradicionais e as implicações de sua crítica para pensarmos o lugar e o valor da política e da comunidade na vida das modernas sociedades capitalistas fragmentadas. Abstract: MacIntyre’s Moral and Political Philosophy has often been described as communitarian in the current political and ethical debate with liberalism, and in spite of the author’s written refusal of such an alignment and his critique concerning a position he judged politically conservative. This article will focus on MacIntyre’s conceptions of community and politics by highlighting the main points of his theory, differing from that of classic communitarians, and by looking at the implications of his critique in order to think about the place and value of community and politics in fragmented modern capitalist societies. Palavras-chave: Comunidade, MacIntyre, política, virtudes.
A POLÍTICA SEGUNDO MAQUIAVEL INTRODUÇÃO Nicolau Maquiavel, filósofo, escritor e político italiano (Florença 1469 -id. 1527). Secretário de Estado da República de Florença (1498), desempenhou várias missões diplomáticas na Itália, na França e na Alemanha, e reorganizou o Exército. O fim da República, com a volta ao poder dos Medici (1512), levou-o ao exílio. Aproveitou essa retirada forçada (1512-1520) para escrever a maior parte de sua obra: O Príncipe (1513), (1513)(1514)(1515)(1516)(1517)(1518)(1519), O asno de ouro (1516)(1517), Da arte da guerra (1519-1520) e A mandrágora (1520). Voltou ao primeiro plano no cenário político, porém, comprometido logo depois, teve cassado seus direitos políticos.
Obscenidade e política, 2024
Começo denunciando a confusão que muitas vezes se faz entre ironia e sarcasmo. Trata-se de um equívoco. A ironia é uma operação intelectual que exige sutileza. Para muitos, ela consiste em um xeque bem aplicado no curso de uma discussão, por meio de um dilacerante argumento ad hominem que leva o adversário ao
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AYVU, Revista de Psicología, 2017
Anais do VI SEAD, 2013
Ciência Política, 2018
Médium / Centro de Politica Comparada , 2021