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Uma Menção a Homero na Ética Nicomaquéia III

Abstract

Publicado em Fonseca, A.C.; Pohlmann, E.; Goldmeier, G. (eds.), Ética, Política e Esclarecimento Público -ensaios em homenagem a Nelson Boeira. Ed. Bestiário 2012, pp. 310-310) Ao concluir, na Ética Nicomaquéia III 5, o exame do objeto de deliberação, Aristóteles se pergunta quando o agente pára de deliberar e passa à ação. Ele escreve então que se pára de deliberar ao se ter o princípio da ação trazido a si próprio e à parte que comanda. O texto provocou já muita discussão, principalmente em torno do sentido a dar ao termo hêgoumenon da linha 1113a6. Meu interesse aqui, porém, é examinar a comparação que se segue, com a qual Aristóteles pretende ilustrar seu ponto: Isto fica também evidente pelas constituições antigas, que Homero cantou em poemas, pois os reis anunciavam ao povo o que haviam escolhido por deliberação. (EN III 5 1113a7-9) Surpreende inicialmente o apelo a instituições tão antigas, ainda que os versos de Homero fossem bem conhecidos pela maioria dos gregos -e certamente admirados. Por que Aristóteles recorre às instituições políticas dos tempos homéricos para ilustrar seu ponto sobre o momento de parar a deliberação e passar à ação? Em certo sentido, a surpresa poderia ser somente nossa. A expressão kai ek tôn archaiôn politeiôn pode ser entendida igualmente como "mesmo pelas constituições antigas": elas teriam sido evocadas menos como exemplares por excelência do que se quer exemplificar, mas antes pelo fato de até nelas um determinado fato se dar -um fato que elas realizariam assim minimamente, mas serviriam de exemplo na medida justamente em que não podiam deixar de o realizar, apesar de serem um caso fraco ou limite de sua realização. Esta leitura parece reforçar-se pelo fato de Aristóteles ter-se valido, nas linhas imediatamente precedentes, quando visava a distinguir entre o objeto de deliberação (bouleuton) e o objeto de escolha deliberada (prohaireton), de um vocabulário fortemente impregnado das práticas políticas de seu tempo. Ele escreve, pois, que o objeto de