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Francisco da Cunha Leal (1888-1970)

1999, A. Barreto e F. Mónica, Dicionário de História de Portugal – Suplemento, vol. VIII, Porto: Figueirinhas, 1999, pp. 354-359

Estadista activo durante a Primeira República e uma das mais notáveis personalidades políticas portuguesas da primeira metade do século XX, o engenheiro Cunha Leal foi o primeiro grande adversário de Salazar e, ao longo de quarenta anos, seu permanente opositor (quase coincidiram os respectivos períodos de vida). Político arguto e técnico competente em várias áreas, notabilizou-se pela oratória impetuosa, a audácia e o génio desestabilizador, o que lhe granjeou numerosos adeptos e um número significativo de adversários e detractores. Franco-atirador, envolveu-se em inúmeras polémicas, brilhou em debates parlamentares e bateu-se em duelos. Foi muito fustigado, à esquerda como à direita, com acusações de inconstância e venalidade, esta nunca provada. A pena cáustica de Raul Proença, na Seara Nova dos anos 20, foi pródiga em insinuações e até insultos, que deixaram um rasto persistente na reputação de Cunha Leal. No quadrante político oposto, também o tenente-aviador Humberto Delgado, num célebre livro de índole fascizante, Da Pulhice do Homo-Sapiens (1933), o atacou com rara truculência. Foram, de facto, muito glosadas as passagens de Cunha Leal de radical a conservador durante a Primeira República e, no final dos anos 20, de uma posição alegadamente pró-Ditadura Militar para um frontal anti-salazarismo. Os sectarismos dominantes