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O nome do livro vem da tradução para o latim, a Vulgata. Este livro foi colocado entre os livros de sabedoria pois contém, implicitamente, instruções acerca do relacionamento sexual correto entre homem e mulher . No judaísmo posteiro era lido na páscoa em virtude da alegorização do amor divino por Israel.
4 Não encontro razão para duvidar da tradição que associa a paternidade das Clavículas ao Rei Salomão, já que entre outros, Josephus, o historiador judeu, menciona especialmente as obras mágicas atribuídas a esse monarca; isto está em conformidade com as várias tradições orientais, e sua excelência mágica é frequentemente mencionada nas As Mil e Uma Noites.
Traphicæ: Traduções Filosóficas de Autores Essenciais, 2023
Na verdade, ó Timeu, sempre que dizemos aos homens algo sobre os deuses, é mais fácil parecer falar adequadamente do que quando dizemos a nós, homens, algo sobre os mortais. Trata-se, esta edição bilingue do Timeu e do Crítias de Platão com introdução, tradução e notas de Rodolfo Lopes, do #4 da coleção "Traphicæ: Traduções Filosóficas de Autores Essenciais", uma coleção cientificamente coordenada pelo IEF — Instituto de Estudos Filosóficos da Universidade de Coimbra. O #4 da Traphicæ resulta de uma parceria entre o IEF e o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da mesma Universidade. Visite o sítio Web: https://www.uc.pt/fluc/ief/publica/traphicae/
2020
Versão expandida de tese de doutorado de 2005, eca/usp, Gestual, Teatro e Melodrama. Performances, Pantomimas e Teatro nas feiras. Maria Lucia Puppo resume: Para o autor, o melodrama não se configura exatamente como um gênero, mas sim como uma estrutura dramática em constante transformação, graças aos contínuos diálogos travados com as diferentes formas artísticas que historicamente com ele coexistiram. Interagindo com modalidades dramáticas diversas como a tragédia, a comédia, a novela de cavalaria, a ópera cômica e a comédia lacrimosa entre outras, o melodrama simultaneamente as contêm e é incessantemente modificado por elas, constituindo-se uma forma cuja especificidade é o hibridismo.Nosso autor desvela as restrições veiculadas pelo senso comum em torno dessa modalidade teatral, enquanto cuidadosamente vai desmantelando uma a umas essas percepções apriorísticas. Aquilo que comumente é qualificado de clichê, gestos previamente demarcados, repetições desnecessárias passa a ser visto agora por um outro prisma e gera implicações inesperadas. A partir de considerações dessa natureza, Robson Camargo formula uma relevante constatação: a crítica teatral contemporânea no apogeu do melodrama não dispunha de instrumentos de análise suficientemente finos que pudessem dar conta de uma modalidade de espetáculo tão dinâmica, dentro da qual estilos diferentes se influenciam reciprocamente.
Vários dos capítulos enfeixados neste volume são daquela época e foram escritos quase "sobre a perna" no "bruaá" da redação, sob as exigências do jornal. Exigências de assuntos e de feitores, de não perder a oportunidade de esclarecer seu semelhante com a clareza, a boa vontade e o desejo de ser útil que havia em Luiz de Mattos. E, coisa singular: a linguagem dele é sóbria, apesar de descer a minúcias interessantes; persuasiva, sem desesperanças; pitoresca, rica e, quase diríamos, saudosa, ao evocar paisagens e fatos de seu velho Portugal; entusiástica e amiga, ao referir-se às nossas coisas ou ao nosso Brasil querido. Preferimo-los, em meio a milhares doutros capítulos, justamente por libertos daquele ardor combativo que marca a maioria de seus escritos e o tornou tão popular em seu tempo. É uma prova de como sua pena maravilhosa se comprazia em descrever aspectos e coisas numa linguagem pouco conhecida de seus numerosos admiradores, mas por eles, estamos certos, muitíssimo apreciada. Assim reunidos, esses artigos de assuntos tão díspares, dogmáticos, uns, descritivos e até humorísticos outros, têm a ligá-los, como um invisível traço de continuidade, aquele estilo vibrante e inconfundível do grande jornalista e doutrinador que foi Luiz de Mattos. Junho, 1946 OTHON EWALDO Como é sentida a Inteligência Universal Luiz de Mattos não foi somente o doutrinador do Racionalismo Cristão, ou o polemista ardoroso e destemido, tão discutido na sua época. Inteligência viva, servida por uma cultura geral, legou-nos também páginas de lídima literatura, muitas delas esparsas na coleção de A Razão e outras já enfeixadas em obras póstumas. A que vamos ler, é uma admirável descrição de cenas campesinas, impregnada de beleza agreste, a que a riqueza do vocabulário e o cunho realista emprestam singular colorido. Já em tempo nos coube a grata tarefa de dizer, pela imprensa, que a Inteligência Universal está em toda parte: 1) Porque é a força organizadora e incitadora de tudo quanto existe neste planeta e no Universo; 2) Porque é a fonte do bem, e, assim, da moral e de todas as virtudes humanas; 3) Porque o seu todo anima, movimenta e desenvolve os seres e as coisas; 4) Porque é a obreira, a artífice deste e dos demais planetas, e a força ou vida de todos os mundos; 5) Porque é Vida Universal; 6) Porque é incorpórea, e em todas as manifestações da vida ela se faz sentir; 7) Porque é a Força Universal, e tudo o que tem vida encerra uma sua partícula, embora diminuta. E porque assim é, e está em toda parte, a Inteligência Universal é sentida e compreendida bem claramente nas várias manifestações dos reinos da natureza, conforme a categoria de cada ser, o estado da sua matéria e o desenvolvimento dessas suas partículas na Terra. Em virtude desse racional princípio, é a Inteligência Universal sentida: No conjunto harmônico dos reinos da natureza, na formação e desenvolvimento de cada exemplar desses reinos e muito especialmente na incomparável grandeza da floresta brasileira, desde o coqueiro jiçara, vulgarmente denominado palmito, esguio e belo, e o imponente jequitibá, rei dessa floresta, à peroba, ao cedro, a todas as grandes árvores que se procuram desenvolver, crescer, subir, como a querer encravar-se na abóbada azulada do planeta, a procura de luz puríssima, que é abundante, forte e bela neste Brasil querido. É também sentida a sua suprema Força, no desencadear de fortes ventanias do quadrante sul e sudoeste, no desabar de tremenda tempestade de trovões e raios, coriscando no espaço e curveteando, ziguezagueando por entre mil lianas, folhas e troncos dos exemplares dessa floresta, especialmente na que cobre a Serra de Paranapiacaba e que, na sua encosta e vargedos, por oitenta léguas de extensão a seis, doze, dezoito e mais quilômetros de largura, de Angra dos Reis em diante, se ostenta como a mais imponente de todas, e depois, no cair tremendo de torrencial chuva, tocada por suestadas fortes, tudo arrasando e arrancando, pela base, na sua passagem. É ainda sentida dentro dessa imponente floresta verde-negra, no bramir das cachoeiras que, despenhando-se de setecentos e mais metros de altura, vão, no seu transbordamento volumoso, e rápida queda, trazendo árvores e penedos colossais até à várzea, formando caudaloso rio, sobre cujas revoltas águas, em ondulações encachoeiradas, se vêem passar inúmeros troncos de árvores seculares e animais imprevidentes, colhidos nos seus esconderijos e arrastados para essas correntes impetuosas, que se desenvolveram no planalto, cresceram, avolumaram-se e formaram força colossal na descida, até alcançar o lagamar e desaguar no oceano, ponto final de todos os rios. Após essa tremenda tempestade de vento, com trovões, raios, coriscos e chuvas torrenciais, é também observada e sentida a Inteligência Universal no clarear de tudo, no irradiar do Astro-Rei, o fecundador do solo, por sobre essa imensidade, a fazer rebrilhar-nas folhas das árvores, nos musgos, nos parasitas, dentre os quais se sobressai o guaraguatá, agarrado às rochas e nas belas folhas do cipó-imbé, até às verdenegras folhas aveludadas do caeté-as gotas de água que, após a tempestade, ali deixam a orvalhada da calma noite que a ela se seguiu, como se brilhantes fossem e, com eles, facetados e luminosos, ao serem irradiados pelos raios criadores e alentadores desse Astro-Rei. É ela sentida, aí, nesse meio imponente da natureza, após esse quadro belohorrível, tétrico, medonho, no raiar de uma manhã primaveril e no ciciar da brisa por entre as palmeiras altivas e em crescimento, por entre as mil lianas, troncos, folhas e flores, que aí se encontram e que, antes, foram açoitadas pela forte ventania de sudoeste, base da tempestade tremenda, mas purificadora e abastecedora dos regatos, córregos e rios, e pelo inebriante aroma das variadas orquídeas, trepadeiras e outras flores, no cantar dos pássaros, na alegria que os invade após o temporal que os fez passar noites em claro, transidos de susto, e dias horríveis, frios, pesados e cheios de fome. É ela também sentida nessa mesma floresta, assim grandiosa e bela, no veado mateiro, esbelto, vivo, pulador e corredor; na paca, toda chitada, couro sarapintado de branco; na esguia e sagaz cotia; no catete, no caetetu, ou queixada, em bandos, manadas ou varas; na capivara, alentada e medicinal; na anta ajumentada, dorso longo, pescoço curto e grosso, anca e lombo carnudos, tromba curta, mas terrivelmente dilaceradora, todas fora dos seus ninhos, das suas tocas e esconderijos, em procura das sevas, dos sítios das mais tenras e aromáticas pastagens, de melhores cocos e tubérculo que, em abundância, existem nessa grandiosa floresta. É ela sentida nas cavernas, onde o jaguar (tigre brasileiro) e a onça parda se encontram recolhidos, a amamentar a sua prole, a qual é por eles tratada com um zelo, um carinho, um amor por vezes superior ao do homem, sem educação da vontade, mesmo o das cidades, tidas por civilizadas; e mais claramente sentida é ela, quando esses filhos das selvas, denominados animais ferozes, saem, após a tempestade de chuva e vento, das suas cavernas, e vão à caça do macuco, do nhambu, do uru, da juriti descuidada, do tatu, da cotia, da paca, da capivara, do catete e caetetu, estes últimos perseguidos na cauda da manada ou vara, donde são arrebatados os exemplares que mais agradam aos perseguidores, sem o menor risco de ataque pelos que compõem a vara, os quais, seguindo sempre em frente, para o seu coqueiral ou frutal, não voltam atrás para libertar os companheiros das astutas e fortes garras de tão impiedoso inimigo. É ela sentida ali mesmo quando o estudioso botânico, o audaz vaqueano ou o corajoso caçador, na sua barraca armada à margem de um regato, ou no rancho de beira no chão, coberto com folhas da prestimosa e linda palmeira guaricanga, altas horas da noite, sem um raio de lua a clarear o recinto, embora bela na campina, ouve o rugir, o roncar aterrador, ameaçador, do jaguar, ou da onça parda, porque pressentiu nos seus domínios, no seu grande e belo mundo, o seu natural inimigo, o homem, rei dos animais, como ele próprio se inculca, acampado, tranqüilo, muito à vontade, muito senhor de si, como se estivesse em casa sua, em pleno domínio seu. Nesse roncar e rugir de fera orgulhosa do seu poder, da sua força e do seu direito; sente-se bem a manifestação de revolta e a ameaça dessa partícula da Força, antes meiga, carinhosa, verdadeiramente paternal, quando na caverna, ao lado da sua prole, dos seus filhinhos, e, assim, a manifestação, embora instintiva, da partícula inteligente, a provar ao homem como se ama e defende o seu natural direito e como se cumpre o dever, mesmo entre os seres mais terrivelmente ferozes da criação, que chegam ao ataque, à dilaceração de quem intente contra o mesmo direito e poder, contra a sua propriedade, os seus domínios, que são o corpo físico, para a sua depuração, a sua liberdade, os seus filhos e a sua floresta, que para eles é a mais bela, a mais rica, a mais grandiosa das propriedades da Terra. Em tudo o que aí fica, sente-se a Inteligência Universal, e se observa a sua força e grandeza nas diversas manifestações dos reinos da natureza, porém mais de perto ela se sente quando se trata do ser humano, sua partícula mais evoluída, como o leitor verá a seguir. Como a Inteligência Universal é ainda sentida e observada Além de ser a Inteligência Universal observada e sentida nos diversos reinos da natureza e, sobretudo, nas manifestações, embora simplesmente instintivas, de todos os animais, em plena floresta virgem, como ficou descrito no capítulo anterior, é ela também mais nítida, mais claramente observada e sentida neste planeta: Quando a criança nasce e solta o primeiro vagido, contraindo os lábios, as faces e os olhos, abrindo e movimentando as mãos e as pernas, como que protestando contra a violência da sua ligação, da sua prisão à matéria organizada, e como que querendo soltar-se dela, fugir e alar-se para o mundo de luz de onde veio,...
seguisse atentamente princípios cristãos. Os ataques de Vieira aos senhores de escravos; a cobrança de obediência às determinações de Lisboa quanto à liberdade indígena, por parte de governadores e capitães-mor; a hostilidade de outras ordens religiosas são fatores determinantes para a expulsão de Vieira e outros jesuítas do Brasil. E nos ajudam a compreender a complexidade da situação colonial e a rejeitar explicações simplistas que se limitam a apontar, sem matizes ou contradições, a aliança entre Igreja e colonialismo. Seria, pois, fazer bom uso destes sermões se os tomássemos como feixe de múltiplos caminhos que podem ajudar a compreender melhor-mais atenta e complexamente-a sociedade brasileira do século XVII e de nossos dias. E isto sem perder o prazer da leitura que sua escrita incomparável oferece. A presente obra, oferecida aos leitores do site da Fundação Biblioteca Nacional, é a recente edição dos Sermões de Vieira, em sua totalidade, publicada em doze volumes, na cidade de Erechim, Rio Grande do Sul, pela Edelbra, em 1998, sob a supervisão do professor doutor Luiz Felipe Baêta Neves. Tal edição tem como base, os Sermões, editados por Frederico Ozanam Pessoa de Barros, sob a supervisão do padre Antônio Charbel, S.D.B., e do professor A. Della Nina, publicados em vinte e quatro volumes, em São Paulo, pela Editora das Américas, em 1957. Uma das coleções da edição princeps dos sermões de Vieira, publicada em Lisboa, em quinze tomos, entre 1679 e 1748, se encontra atualmente, no acervo da Biblioteca Nacional.
A finalidade deste estudo consiste em um primeiro momento, analisar as formas de adoração cúltica no antigo Israel nos períodos posteriores a saída do Egito quando Moisés, suscitado por Deus os libertou de seu cativeiro de quatrocentos anos. Descrever como alguns costumes Egípcios, no tocante à adoração, permaneceram enraizados no meio de Israel por longos tempos até o momento da intervenção de Deus descrita em 2 Crônicas 29:25-26, delineando a maneira como deveria ser estruturada a adoração após a inauguração do templo no período de Salomão. Com base nos costumes musicais e das celebrações religiosas do povo pré-Santuário de Salomão, contrastar com os costumes que passaram a se desenvolver em sua forma de adorar após especificamente a inauguração da nova expressão musical para o santuário. Com tais contrastes, o propósito é demonstrar que houve um progressivo abandono dos costumes egípcios com o objetivo de adotar as novas determinações dadas por Deus concedidas para a inauguração do templo. Com este passeio instrutivo no tempo, perceberemos que o Santuário havia se tornado, sem dúvida, o ponto central e fundamental para entendermos tal problemática. Portanto, através deste realce, entre estes dois períodos, pré e pós Santuário de Salomão, conseguiremos identificar com mais precisão o provável período em que o Salmo 150 fora escrito.
És grande, Senhor e infinitamente digno de ser louvado; grande é teu poder, e incomensurável tua sabedoria. E o homem, pequena parte de tua criação quer louvar-te, e precisamente o homem que, revestido de sua mortalidade, traz em si o testemunho do pecado e a prova de que resistes aos soberbos. Todavia, o homem, partícula de tua criação, deseja louvar-te. Tu mesmo que incitas ao deleite no teu louvor, porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso. Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer? Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue? Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo. Que eu, Senhor, te procure invocando-te, e te invoque crendo em ti, pois me pregaram teu nome. invoca-te, Senhor, a fé que tu me deste, a fé que me inspiraste pela humanidade de teu Filho e o ministério de teu pregador. CAPÍTULO II Deus está no homem, e este em Deus E como invocarei meu Deus, meu Deus e meu Senhor, se ao invocá-lo o faria certamente dentro de mim? E que lugar há em mim para receber o meu Deus, por onde Deus desça a mim, o Deus que fez o céu e a terra? Senhor, haverá em mim algum espaço que te possa conter? Acaso te contêm o céu e a terra, que tu criaste, e dentro dos quais também criaste a mim? Será, talvez, pelo fato de nada do que existe sem Ti, que todas as coisas te contêm? E, assim, se existo, que motivo pode haver para Te pedir que venhas a mim, já que não existiria se em mim não habitásseis? Ainda não estive no inferno, mas também ali estás presente, pois, se descer ao inferno, ali estarás. Eu nada seria, meu Deus, nada seria em absoluto se não estivesses em mim; talvez seria melhor dizer que eu não existiria de modo algum se não estivesse em ti, de quem, por quem e em quem existem todas as coisas? Assim é, Senhor, assim é. Como, pois, posso chamar-te se já estou em ti, ou de onde hás de vir a mim, ou a que parte do céu ou da terra me hei de recolher, para que ali venha a mim o meu Deus, ele que disse: Eu encho o céu e a terra? CAPÍTULO III Onde está Deus? Porventura o céu e a terra te contêm, porque os enches? Ou será melhor dizer que os enches, mas que ainda resta alguma parte de ti, já que eles não te podem conter? E onde estenderás isso que sobra de ti, depois de cheios o céu e a terra? Mas será necessário que sejas contido em algum lugar, tu que conténs todas as coisas, visto que as que enches as ocupas contendo-as? Porque não são os vasos cheios de ti que te tornam estável, já que, quando se quebrarem, tu não te derramarás; e quando te derramas sobre nós, isso não o fazes porque cais, mas porque nos levantas, nem porque te dispersas, mas porque nos recolhes. No entanto, todas as coisas que enches, enche-as todas com todo o teu ser; ou talvez, por não te poderem conter totalmente todas as coisas, contêm apenas parte de ti? E essa parte de ti as contêm todas ao mesmo tempo, ou cada uma a sua, as maiores a maior parte, e as menores a menor parte? Mas haverá em ti partes maiores e partes menores? Acaso não estás todo em todas as partes, sem que haja coisa alguma que te contenha totalmente? CAPÍTULO IV As perfeições de Deus Que és, portanto, ó meu Deus? Que és, repito, senão o Senhor Deus? Ó Deus sumo, excelente, poderosíssimo, onipotentíssimo, misericordiosíssimo e justíssimo. Tao oculto e tão presente, formosíssimo e fortíssimo, estável e incompreensível; imutável, mudando todas as coisas; nunca novo e nunca velho; renovador de todas as coisas, conduzindo à ruína os soberbos sem que eles o saibam; sempre agindo e sempre repouso; sempre sustentando, enchendo e protegendo; sempre criando, nutrindo e aperfeiçoando, sempre buscando, ainda que nada te falte. Amas sem paixão; tens zelos, e estás tranqüilo; te arrependes, e não tens dor; te iras, e continuas calmo; mudas de obra, mas não de resolução; recebes o que encontras, e nunca perdeste nada; não és avaro, e exiges lucro. A ti oferecemos tudo, para que sejas nosso devedor; porém, quem terá algo que não seja teu, pois, pagas dívidas que a ninguém deves, e perdoas dívidas sem que nada percas com isso? E que é o que até aqui dissemos, meu Deus, minha vida, minha doçura santa, ou que poderá alguém dizer quando fala de ti? Mas ai dos que nada dizem de ti, pois, embora seu muito falar, não passam de mudos charlatães. CAPÍTULO V Súplica Quem me dera descansar em ti! Quem me dera que viesses a meu coração e que o embriagasses, para que eu me esqueça de minhas maldades e me abrace contigo, meu único bem! Que és para mim? Tem piedade de mim, para que eu possa falar. E que sou eu para ti, para que me ordenes amar-te e, se não o fizer, irar-te contra mim, ameaçando-me com terríveis castigos? Acaso é pequeno o castigo de não te amar? Ai de mim! Dize-me por tuas misericórdias, meu Senhor e meu Deus, que és para mim? Dize a minha alma: Eu sou a tua salvação. Que eu ouça e siga essa voz e te alcance. Não queiras esconder-me teu rosto. Morra eu para que possa vê-lo para não morrer eternamente. Estreita é a casa de minha alma para que venhas até ela: que seja por ti dilatada. Está em ruínas; restaura-a. Há nela nódoas que ofendem o teu olhar: confesso-o, pois eu o sei; porém, quem haverá de purificá-la? A quem clamarei senão a ti? Livra-me, Senhor, dos pecados ocultos, e perdoa a teu servo os alheios! Creio, e por isso falo. Tu o sabes, Senhor. Acaso não confessei diante de ti meus delitos contra mim, ó meu Deus? E não me perdoaste a impiedade de meu coração? Não quero contender em juízos contigo, que és a verdade, e não quero enganar-me a mim mesmo, para que não se engane a si mesma minha iniqüidade. Não quero contender em juízos contigo, porque, se dás atenção às iniqüidades, Senhor, quem, Senhor, subsistirá? CAPÍTULO VI Os primeiros anos Permita, porém, que eu fale em presença de tua misericórdia, a mim, terra e cinza; deixa que eu fale, porque é à tua misericórdia que falo, e não ao homem, que de mim escarnece. Talvez também tu te rias de mim, mas, voltado para mim, terás compaixão. E que pretendo dizer-te, Senhor, senão que ignoro de onde vim para aqui, para esta não sei se posso chamar vida mortal ou morte vital? Não o sei. Mas receberam-me os consolos de tuas misericórdias, conforme o que ouvi de meus pais carnais, de quem e em quem me formaste no tempo, pois eu de mim nada recordo. Receberam-me os consolos do leite humano, do qual nem minha mãe, nem minhas amas enchiam os seios; mas eras tu que, por meio delas, me davas Escuta-me, ó meu Deus! Ai dos pecados dos homens! E quem isto te diz é um homem, e tu te compadeces dele porque o criaste, e não foste autor do pecado que nele existe. Quem me poderá lembrar o pecado da infância, já que ninguém está diante de ti limpo de pecado, nem mesmo a criança cuja vida conta um só dia sobre a terra? Quem mo recordará? Acaso alguma criança pequena de hoje, em quem vejo a imagem do que não recordo de mim? E em que eu poderia pecar nesse tempo? Acaso por desejar o peito da nutriz, chorando? Se agora eu suspirasse com a mesma avidez, não pelo seio materno, mas pelo alimento próprio da minha idade, seria justamente escarnecido e censurado. Logo, era então digno de repreensão o meu proceder; mas como não podia entender a censura, nem o costume nem a razão permitiam que eu fosse repreendido. Prova está que, ao crescermos, extirpamos e afastamos de nós essa sofreguidão; e jamais vi homem sensato que, para limpar uma coisa viciosa, prive-a do que tem de bom. Acaso, mesmo para aquela idade, era bom pedir chorando o que não se me podia dar sem dano, indignar-me acremente com as pessoas livres que não se submetiam, assim como as pessoas respeitáveis, e até com meus próprios pais, e com muitos outros que, mais sensatos, não davam atenção aos sinais de meus caprichos, enquanto eu me esforçava por agredi-los com meus golpes, quanto podia, por não obedecerem às minhas ordens, que me teriam sido danosas? Daqui se segue que o que é inocente nas crianças é a debilidade dos membros infantis, e não a alma. Certa vez, vi e observei um menino invejoso. Ainda não falava, e já olhava pálido e com rosto amargurado para o irmãozinho colaço. Quem não terá testemunhado isso? Dizem que as mães e as amas tentam esconjurar este defeito com não sei que práticas. Mas se poderá considerar inocência o não suportar que se partilhe a fonte do leite, que mana copiosa e abundante, com quem está tão necessitado do mesmo socorro, e que sustenta a vida apenas com esse alimento? Mas costuma-se tolerar indulgentemente essas faltas, não porque sejam insignificantes, mas porque espera-se que desapareçam com os anos. Por isso, sendo tais coisas perdoáveis em um menino, quando se acham em um adulto, mal as podemos suportar. Assim, pois, meu Senhor e meu Deus, tu que me deste a vida e corpo, o qual dotaste, como vemos, de sentidos e proviste de membros, adornando-o de beleza e de instintos naturais, com os quais pudesse defender sua integridade e conservação, tu me mandas que te louve por esses dons e te confesse e cante teu nome altíssimo. Serias Deus onipotente e bom ainda que só tivesses criado apenas estas coisas, que nenhum outro pode fazer senão tu, ó Unidade, origem de todas as variedades, ó Beleza, que dás forma a todas as coisas, e com tua lei as ordenas! Tenho vergonha, Senhor, de ter de somar à vida terrena que vivo aquela idade que não recordo ter vivido, na qual acredito pelo testemunho de outros, por vê-lo assim em outras crianças, embora essa conjectura mereça toda a fé. As trevas em que está envolto meu esquecimento a seu respeito assemelham-se à vida que vivi no ventre de minha mãe. Assim, se fui concebido em...
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Persistência da obra: arte e religião, 2020