2007, Atas do XI Congresso Internacional de Educação Familiar – Família Plural, Educação Singular
ainda é um fenómeno presente na realidade portuguesa. Na região Alentejo, a dimensão quantitativa deste fenómeno apresenta percentagens elevadas, sendo possível identificar famílias cujos membros (nomeadamente o casal) são analfabetos. Quase sempre associado a uma inexistência de oportunidades de aprendizagens formais e de cultura letrada, em todas as famílias ocorrem aprendizagens. As famílias compostas por indivíduos analfabetos não se constituem como uma excepção. O analfabetismo tem, no entanto, vindo a assumir, na época contemporânea, novos contornos conceptuais e novas perspectivas que explicam as suas causas, respectivas consequências e novas fronteiras que deixam evidente a existência de formas alternativas de aprendizagem, de cultura e de entendimento do mundo. Aprender, sem utilizar as próteses cognitivas que são as letras, as palavras e os cálculos elementares, através de algoritmos deterministicamente cartesianos, é, certamente, um processo complexo de realizar e de conhecer, nomeadamente quando essas aprendizagens se processam no seio de uma família analfabeta. 2. Educação Familiar Covas (2006) afirma que o conceito de família encerra alguma ambiguidade devido às múltiplas formas na sua utilização, sendo que, quando referido no singular, este termo é tão abstracto que quase oculta a diversidade e complexidade que encerra. Ainda assim, e independentemente da complexidade inerente ao conceito, Cavaco (2002) chama a atenção para o facto de o meio familiar onde os indivíduos se encontram inseridos assumir um carácter formativo, uma vez que os acontecimentos vivenciados fazem parte da rotina, tendendo a dar origem às aprendizagens mais estruturantes e significativas da vida das pessoas. Vara (1996: 8) realça, a este respeito, que a família se constitui como «(...) o primeiro, o mais fundamental e o mais importante grupo social de toda a pessoa, bem como o seu quadro de referência, estabelecido através das relações e identificações que a criança criou durante o desenvolvimento», constituindo-se, desta forma, como a matriz da identidade. De acordo com o mesmo autor, a família apresenta-se como sendo a unidade básica da sociedade, muito embora tenha sofrido transformações decorrentes de mudanças sócio-culturais e tecnológicas, que originaram, por sua vez, distintas estruturas e composições familiares. A família continua, ainda assim, a ser o ponto de partida e de chegada de muitas aprendizagens. Com efeito, são muitas as aprendizagens que ocorrem no seio familiar, por meio de um «intercâmbio de gerações, ou seja uma transferência de sabedorias e conhecimentos dos mais novos para os mais velhos como também dos mais velhos para os mais novos (ponte de gerações)» (Duarte et al, 2004: 191). Tal contribui, nas palavras de Orta (2003), para «o preservar da identidade-do património cultural, memória social e raízes do passado». Evidenciando a questão da transmissão de aprendizagens de alguns membros da família aos seus descendentes, D'Espiney (2004: 81) realça que «é pelas emoções vividas e sentidas pelas gerações que se encontram os momentos de troca se tornam mágicos: o idoso que recorda, recontando a sua memória, revive não apenas os acontecimentos que relata mas o modo como os sentiu; a criança ou o jovem que o escuta reconstitui esses acontecimentos,