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Mais um no oceano

2012, Remate de Males

A pergunta, sabiamente, engole o pronome, o você, e se coloca na terceira pessoa. Isso colabora com a resposta, pois eu vou transitar entre o "por que você escreve" e o "por que escreve". Entre o pessoal e o impessoal. Entre eu (meu sobrenome é maior) e a ficção que inventei, um autor de literatura, de poesia, uma poeta, a Paula Glenadel. Também me faço esta pergunta, periodicamente, e lhe acrescento outras. Por que escrevo? Por que a Paula Glenadel escreve? Por que eu tenho que explicar o que ela faz? Tentarei responder a essa pergunta brevemente, mas não tão brevemente. Porque a pergunta soa também como um paradoxo, ou inclusive como um oxímoro, ao qual eu poderia ter a tentação de responder por uma boutade, se isso não fosse uma ironia demasiado rápida, uma facilidade excessiva e bastante autocomplacente, à qual também me inclinaria a minha formação muito influenciada pela cultura francesa, com suas imensas qualidades e seus automatismos mesquinhos: escrevo para não ter que dizer porquê. E aqui começo a pensar em um caminho para essa resposta, já que há muitos caminhos possíveis. Em geral, pensando na questão global da escrita, mas também em particular, com variações para cada um dos livros que escrevi.