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2006, Revista USP
uando se fizer uma história das relações fraternas entre alguns intelectuais brasileiros, certos pares, por causa de seus fortes vínculos, ocuparão lugar visível nessa modalidade que só enriquece a história da cultura. Em termos brasileiros, não podem ser ignoradas algumas parcerias intelectuais que foram se urdindo ao longo do tempo e que, de uma forma ou de outra, cimentaram trajetórias e produziram resultados, ora discretos, ora mais aparentes. Sem hierarquizar, classificar ou categorizar, vêm à baila determinadas convivências que poderiam muito bem ser consideradas como substanciais para o desenvolvimento e a consolidação
Uma amizade serena: Érico Veríssimo e Herbert Caro., 2006
Q uando se fizer uma história das relações fraternas entre alguns intelectuais brasileiros, certos pares, por causa de seus fortes vínculos, ocuparão lugar visível nessa modalidade que só enriquece a história da cultura. Em termos brasileiros, não podem ser ignoradas algumas parcerias intelectuais que foram se urdindo ao longo do tempo e que, de uma forma ou de outra, cimentaram trajetórias e produziram resultados, ora discretos, ora mais aparentes. Sem hierarquizar, classificar ou categorizar, vêm à baila determinadas convivências que poderiam muito bem ser consideradas como substanciais para o desenvolvimento e a consolidação 1 De Erico para Clarice Lispector em: Verissimo, 1997. ANTONIO DIMAS é professor de Literatura Brasileira da FFLCH-USP. Uma amizade serena: Erico e Herbert Caro ANTONIO DIMAS "[...] concordo com os críticos: não sou profundo.
Cadernos do IL
As relações entre literatura e história têm sido debatidas desde Aristóteles. O presente artigo, a partir de um breve apanhado das características do gênero analisa a historicidade em importantes obras do modernismo brasileiro. O corpus estudado conta com os romances que compõem a trilogia de Erico Veríssimo, O tempo e o vento, e Pedra bonita e Cangaceiros, de José Lins do Rego. As narrativas são analisadas quanto a dois critérios que são tidos como fundamentais para a constituição do romance histórico: trata-se da matéria de extração histórica e das personagens, que são tanto homens comuns que têm sua trajetória atravessada e modificada pelo decurso histórico, quanto personagens históricas reais, que aparecem de forma explícita ou velada transformadas pelo discurso literário.
Anuário de Literatura, 2018
Este artigo enfoca um conjunto de cartas enviadas por Erico Verissimo a Manoelito de Ornellas, preservadas no Acervo Literário de Manoelito de Ornellas, abrigado no DELFOS – Espaço de Documentação e Memória Cultural da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, para analisar a correspondência trocada entre o autor de O tempo e o vento e o crítico, poeta, romancista e criador da tese da origem hispânica do gaúcho platino. As quatro cartas destacadas aqui foram enviadas por Erico entre novembro de 1943 e abril de 1944. Nesse período, Erico Verissimo encontrava-se nos Estados Unidos a convite do Departamento Americano de Estado e proferiu conferências sobre literatura brasileira na Universidade de Berkeley, na Califórnia – dessas conferências resultou o livro Breve história da literatura brasileira. Manoelito de Ornelas, por sua vez, estava em Porto Alegre, exercendo funções públicas. As cartas enviadas por Erico revelam questões pessoais, profissionais, dúvidas como escrit...
As relações entre literatura e história têm sido debatidas desde Aristóteles. O presente artigo, a partir de um breve apanhado das características do gênero analisa a historicidade em importantes obras do modernismo brasileiro. O corpus estudado conta com os romances que compõem a trilogia de Erico Veríssimo, O tempo e o vento, e Pedra bonita e Cangaceiros, de José Lins do Rego. As narrativas são analisadas quanto a dois critérios que são tidos como fundamentais para a constituição do romance histórico: trata-se da matéria de extração histórica e das personagens, que são tanto homens comuns que têm sua trajetória atravessada e modificada pelo decurso histórico, quanto personagens históricas reais, que aparecem de forma explícita ou velada transformadas pelo discurso literário.
Teresa, 2008
A conservação de fontes primárias para o estudo da literatura tem na correspondência uma de suas prioridades, nestes tempos da efemeridade de e-mails e declínio da carta em papel. A correspondência trocada entre Erico Verissimo e Vianna Moog sobre O resto é silêncio e os dois primeiros volumes de O tempo e o vento, bem como sobre Bandeirantes e pioneiros, oferece evidências históricas de primeira mão sobre a gênese das obras, assim como revela o espírito crítico que pode permear uma amizade duradoura
Cartografias da Paragem, 2016
Capítulo do livro: Cartografias da Paragem Desmobilizações jovens contemporâneas e o redesenho das formas de vida. Organização: Maria Isabel mendes de Almeida. Editora: Gramma. Rio de Janeiro, RJ
Dialogue, friendship, cooperation and affection united critics Guy Brett and Mario Pedrosa from the ending of the 1960s to the death of the latter, in 1981. A significant documental record of that relationship is the correspondence of the third exile of Pedrosa, from 1970 to 1977, partially gathered in the Carlos Eduardo de Senna Figueiredo's book Portraits of the exile (1982).
CODEX -- Revista de Estudos Clássicos, 2021
No século I a.C., Horácio e Virgílio, poetas romanos contemporâneos, produziram suas obras através da emulação de textos anteriores a eles. O presente trabalho apresenta uma análise de como a temática amorosa é abordada nas odes 1, 8 e 1, 13 de Horácio e no livro quarto da Eneida de Virgílio. Nesse processo de análise, foi identificado que o fragmento 31 de Safo de Lesbos está entre os textos utilizados para a emulação nas odes horacianas analisadas. Na ode 1, 8, isso fica manifesto pela métrica, apenas, enquanto na 1, 13 está na temática também. Todavia, a persona horaciana não se identifica com o amor-enfermidade sáfico. O amor, ao contrário, aparece como algo não naturalmente destinado à figura masculina e que, quando acomete um homem, acaba por desviá-lo de um destino. Analisando o livro quarto da Eneida, percebe-se que o processo emulativo foi semelhante ao de Horácio: o amor-enfermidade ataca Dido, a figura feminina, e, em Eneias, o amor o desvia do seu destino, porém ele não ...
Via Atlântica, 1999
Elas eram o chão firme em que os heróis pisavam Floriano Cambará (Érico Veríssimo, O arquipélago, p. 864) Já se tornou lugar comum dizer que as personagens femininas de Érico Veríssimo, em particular em se tratando de O tempo e o vento 1 , são muito mais interessantes do que os personagens masculinos. Isto não só porque dêem impressão de mais consistência, mais tenacidade e de maior complexidade psicológica. Também se lê aí a maior simpatia e empatia que o escritor revelou por e com elas, maior identificação com seus valores, e mesmo, vez por outra, maior empenho na sua elaboração. Érico era um autêntico liberal, não destes que assim se intitulam, como é comum na vida brasileira, enquanto se acobertam debaixo do autoritarismo de plantão, quando não o instigam a se tornar pior do que é. Tinha horror à violência. Consolidara seu destino de escritor na vigência do Estado Novo, por cujos desmandos e atrocidades não tinha a menor simpatia, como se pode ver pelas reflexões de Floriano, o alter-ego do escritor, ao final de O arquipélago, terceira parte de O tempo e o vento. Fora contemporâneo da Guerra Civil Espanhola, do Nazi-fascismo e da ascensão do Estalinismo, inclusive dentro da esquerda brasileira. Vira a Segunda Guerra Mundial e as hecatombes 1 Um esclarecimento inicial, sobre as citações da obra de Érico. Vêm todas da edição da Editora Globo que tenho, de 1963, em que a numeração das páginas é contínua entre os volumes dos romances citados. Assim, os três volumes de O arquipélago, por exemplo, têm uma única numeração da página 0001 a 1012. A página respectiva está sempre assinalada junto à citação.
O presenta trabalho, “Fernando Sabino e Clarice Lispector, para além do princípio da fraternidade, pretende discorrer sobre a amizade no fazer literário dos escritores Fernando Sabino e Clarice Lispector a partir de determinada concepção da amizade que não se restringe a metáfora familiar. A fatriarquia na amizade não encampa as diferenças nascidas de pensamentos distintos e pressupõe, por conseguinte a unificação de identidades. Em sentido contrário, mediante as considerações de Francisco Ortega com Para uma política da amizade: Arendt, Derrida e Foucault, Genealogias da amizade e Amizade e estética da existência em Foucault, Jacques Derrida com Políticas da amizade e Walter Mignolo em Histórias locais/projetos globais, pretende-se conceber a ideia de amizade na diferença. Abstract
Contingentia, 2008
Fifteen years after his death in 1991 one can trace a certain tendency to turn the person and personality of Herbert Caro into a legendary figure where his work as a recognized translator mingles with episodes related to his passion for music as well as his specific kind of humour. It is therefore of no surprise that Caro himself turned into a literary character of the novel As Confissões de Lúcio by Brazilian writer Fernando Monteiro.
Além de sua atuação na literatura brasileira, Erico Verissimo destacou-se por sua participação política, no âmbito das relações internacionais. Em O Senhor Embaixador, o autor reflete sobre sua experiência, mimetizando diversas situações da política internacional e seus embates, a partir das relações internacionais tecidas pela fictícia República de Sacramento, em especial com os Estados Unidos da América, na pessoa do protagonista, o embaixador Heliodoro. Neste trabalho, iremos analisar as múltiplas representações possibilitadas pela obra de Erico Verissimo, relacionando-as com estudos sobre relações internacionais e identidade nacional, a partir de estudos como os de Robert H. Jackson e George Sørensen (2007) e Montserrat Guibernau (2007).
Mátria XXI, nº 11, 2022
As linhas que por ora se escrevem pretendem dar um contributo para o estudo de Joaquim Veríssimo Serrão e Marcello Caetano, que tem por objetivo analisar o contacto que ambos estabeleceram entre si. A investigação foi concretizada através de um método de investigação documental que dá relevância ao epistolário trocado entre ambos. Esta relação é estabelecida bastante cedo, mas sedimenta-se quando Joaquim Veríssimo Serrão ingressa na docência na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sendo Marcello Caetano Reitor da instituição, e resulta, como é sabido, numa relação de sincera amizade. Os contactos intensificam-se nos anos de 1973 e 1974, quando o historiador assume o papel de Reitor, mas principalmente depois da Revolução de 25 de Abril, quando Marcello Caetano parte para o exílio no Brasil. Joaquim Veríssimo Serrão não fará esquecer o nome do Mestre, a quem sempre devotou um grande sentimento de lealdade.
Eis que, num belo fim de tarde, sob a agradável luz de mais um pôr do sol em Atenas, Epicuro se reúne com seu querido e amado amigo Hermaco 2 , no aconchegante gramado do Jardim. Ambos, sem esconderem a alegria que sentiam por estarem juntos enquanto a vida lhes era favorável, conversavam sobre a necessidade de se cultivar (i.e., viver com excelência) o instante presente como se este fosse o único momento que realmente importasse. Naquela ocasião, o que também importava era a possibilidade de se compartilhar o único instante que temos disponível com aqueles que, desta ou daquela maneira, tornam a nossa existência mais prazerosa: os amigos. A amizade, aliás, era o outro ponto que orientara aquela conversa. Tinham, portanto, interesse em tratar destas duas coisas: do agora e da amizade. E assim o fizeram.
Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, 1994
Estutlo-se um dos dmr dtJ kOrltJ IIID1iDantlrrulsobro o Brasil, o bam>co, a partlrtk quDiro cnWctJs publicadas em 192a NdAs, Mdrio tkAndrodl: enfoco a arqrdlmurz, a ""'"''UM e a pinlwa, reconheando a especijicidack e riqueza dtJ crlafão mindra. Dato, destaca o A/djadinho, trabo/hando a fimfiio social como crilmo para m:orrh«a no esaúJor a mdJror tapiwáo t/Q gtnW naclo• • naL Concluiu..., que, 1IOIJI'de """""""• o pensamt:1110 crlli&o tk Mdrio tk Andmde asrocia barroco, naclona/Jsmo e ai/111m aJemõ, abrindo apafO para a valotizDfão dtJ nosso patrlm4nio hist6rico. Uoitermoo:Bam>co; artQ p/dsticas;AidjtUI/nlw; patrlm4nio hist6rko; nacionalismo; skulo XVI H.
Para homenagear Décio de Almeida Prado, que faria cem anos no próximo dia 14 de agosto, pensei em escrever um artigo sobre o seu legado, abordando as contribuições que deixou como crítico teatral, historiador do nosso teatro, editor do Suplemento Literário d'O Estado de S. Paulo e professor da Universidade de São Paulo, entre outras atividades.
«Diadorim», V. 21, N.º 1, 2019, pp. 64-75.
Apesar de Herberto Helder e Ernesto Cardenal poderem ser considerados dois poetas irreverentes dis-tintos, há, no entanto, algo que os une: o interesse pela poesia primitiva, de povos e tribos indígenas, de culturas ancestrais, e a concepção de tradução dessa mesma poesia. E isto é visível, essencialmente, quer nos "Poemas Mudados para Português", de Herberto Helder, quer na "Antología de Poesía Primitiva", de Ernesto Cardenal. Sendo assim, a partir de uma abordagem comparativa, pretende-se demonstrar que nestes dois poetas se conseguem encontrar afinidades peculiares que os tornam não só bons vizinhos, como também bons aliados. Although Herbert Helder and Ernesto Cardenal can be considered two distinct irreverent poets, there is, however, something that unites them: the interest in primitive poetry, from indigenous peoples and tribes, from ancestral cultures, and the idea of poetic translation. And this is visible, essentially, both in Herberto Helder's "Poemas Mudados para Português" and in Ernesto Cardenal's "Antología de Poesía Primitiva". So, from a comparative approach, it's my intention to demonstrate that in these two poets we can find affinities that make them not only good neighbors, but also good allies.
Fragmentum, 2015
Resumo: O presente artigo apresenta uma visão panorâmica da produção ficcional de Erico Verissimo, pensando-a na relação com eventos catastróficos do século XX. Tratou-se do período em que o desacordo dos artistas no tocante à sociedade burguesa e suas ações levou a um isolamento das artes. Baseado no fato de que Verissimo adotou a transparência da estética realista, para o desagrado da crítica brasileira dominante, que valorizava experimentalismos de vanguarda, o artigo tenta esclarecer como se comporta a obra em questão diante de temas como ditaduras, guerras, desigualdade, e ante a responsabilidade do escritor em denunciar tempos sombrios.
Revista Literatura e Autoritarismo, 2021
No presente artigo, nossa atenção se volta ao relato do escritor Erico Verissimo sobre sua estadia em Portugal no ano de 1959, publicado postumamente no Brasil no segundo volume da sua autobiografia, Solo de clarineta, no ano de 1975. O contexto português autoritário de Oliveira Salazar é então recebido pela voz do escritor no contexto autoritário brasileiro. A partir de movimentações e trânsitos migratórios do próprio escritor, discutiremos a dimensão política que assume sua obra e sua atuação no espaço social das relações humanas, de modo que ele se constrói e se consolida em sua carreira também como um intelectual autônomo engajado nas causas particulares em prol de valores universais.
Erico Verissimo O tempo e o vento [parte III] O arquipélago vol. 3 Ilustrações Paulo von Poser Árvore genealógica da família Terra Cambará O cavalo e o obelisco Reunião de família V Caderno de pauta simples Noite de Ano-Bom Reunião de família VI Caderno de pauta simples Do diário de Sílvia Encruzilhada Cronologia Crônica biográfica Árvore genealógica da família Terra Cambará O cavalo e o obelisco 4 Naquele exato instante, Floriano estava na água-furtada, estendido no divã, com um livro aberto sobre o peito, as mãos trançadas contra a nuca, escutando... Tinha a impressão de que os sons cavos do contrabaixo eram a voz mesma do casarão. Ele os sentia dentro do tórax, como numa caixa de ressonância. Estava inquieto. Não saberia dizer bem por quê. Seu mal-estar se exprimia fisicamente por uma sensação de aperto no peito e psicologicamente por uma indefinível premonição de desgraça iminente. Passou a mão pela capa do livro que estivera a ler com atenção vaga, até havia pouco. Era o J igT n U ]gW h, de Rabindranath Tagore. Um poema lhe ressoava na mente: F h]aÂcV ]d V T ggX ZT g ij T kdo V db d j b c]c[ d f j X T U g]ZT e hhT gdh T W dgb X V ]W dh* Pegou o volume, fechou-o, colocou-o em cima duma cadeira, sentou-se no divã e ficou pensando em Roberta Ladário. A professora estava lá embaixo, na sala. Vira-a entrar no Sobrado em companhia do ten. Quaresma. Que estaria ela fazendo agora? Lembrou-se da tarde em que a surpreendera fechada no escritório com seu pai, ambos com ar de criminosos, ele com os lábios manchados de vermelho, ela com o vestido amassado. "Que é que queres?" "Nada, papai, vim buscar um livro..." "Já conhecias a professora Roberta Ladário? Roberta, este é o meu filho, Floriano. Teu colega, sabes? Ó Floriano, Roberta faz poemas maravilhosos." Aquele cheiro quente e perturbador de mulher, o ar de culpa dos dois, o caderno caído-tudo isso dava ao escritório uma atmosfera excitante de alcova. "Muito prazer..." A professora tinha mãos mornas e macias. Seus seios redondos arfavam. Que livro ele ia buscar? Não se lembrava direito... Mas não importava. Pegou um ao acaso e retirou-se, embaraçado, as orelhas em fogo. Tinha a certeza de que interrompera uma cena de amor, e isso o deixava excitado. De certo modo, participava não só do desejo do pai pela professora como também de seu sentimento de frustração por ter sido interrompido. Teve ímpetos (tudo teórico, claro, porque jamais teria coragem para tanto) de sussurrar-lhes que voltassem para o sofá e se amassem despreocupados com o resto do mundo, porque ele, Floriano, ficaria de guarda à porta, como um cão. E por pensar essas coisas sentia que estava atraiçoando a mãe. A música parou. Vozes, risos e palmas vieram lá de baixo. Floriano sentiu um passageiro desejo de descer e olhar a festa, mas uma timidez mesclada de preguiça o tolheu. Não lhe era fácil conviver com as outras pessoas. Preocupava-se demasiadamente com o que os outros pudessem estar pensando dele. Suspeitava que em geral as pessoas não o estimavam, não simpatizavam com ele, achavam-no aborrecido. Recusava-se, porém, a dizer as frases e a assumir as atitudes que conquistam amizades, simpatias e admirações, não só por achar o estratagema hipócrita e primário como também por uma espécie de preguiça tingida de não-vale-a-penismo. Quando se via em grupos, tinha a impressão de estar sempre hdU gT cW d* Isso lhe dava uma sensação de solitude que era triste e ao mesmo tempo esquisitamente voluptuosa. O desejo de ser aceito e querido alternava-se nele com o temor de que, no dia em que isso acontecesse, ele viesse a perder não só sua intimidade consigo mesmo como também sua identidade. Decidiu ouvir música. Ergueu-se, aproximou-se da mesinha sobre a qual estava a sua portátil Victor, colocou-lhe no prato o primeiro disco da J ]cY dc]T eT hidgT a e pôs o aparelho a funcionar. Tornou a deitar-se. Cerrou os olhos, e as vozes dos violinos, violoncelos e altos, desenvolvendo o tema inicial, pintaram-lhe na mente uma cena: rapazes e raparigas a dançarem numa verde paisagem campestre. Mas lá no meio da alegre ronda surgiu de repente, como a encarnação mesma de Baco, a imagem de Tio Bicho, com um copo de cerveja na mão... E o Floriano de dezenove anos sorriu com indulgência para o de dezesseis, que passava horas junto da Credenza, a ouvir trechos de ópera, com sério fervor, comovendo-se com as árias e duetos de Rodolfo e Mimi, vibrando com a cena final de 5 cW gX T 7 [ Ác]X g*** Roque Bandeira lhe dissera um dia: "Estás agora na fase operática. Ninguém se livra desse sarampo musical. Mas isso passa e um dia morrerás de amor por Tchaikóvski, Berlioz, Lizt, Schubert e Chopin, desprezando a ópera. Mas tempo virá em que, compreendendo a verdadeira música, descobrirás Ludwig van Beethoven, como se ninguém tivesse feito o mesmo antes de ti. Começarás naturalmente pelas sinfonias, ali por volta dos vinte anos. Mas só na casa dos trinta é que poderás apreciar as sonatas para piano e os quartetos,
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