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Num estado de estudos em que se vê o poder por toda parte, o poder simbólico é invisível e só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que estão sujeitos a ele. A tradição neo-kantiniana trata os universos simbólicos (arte, religião, língua, ciência, etc.) como instrumentos de conhecimento e construção do mundo. Durkheim avança e considera essas formas simbólicas como arbitrárias e socialmente determinadas. Neste sentido, a análise estrutural é instrumento que permite apreender a lógica específica de cada lógica.
Em um dos textos mais densos de sua carreira (2001a: 7-15), Bourdieu expôs sua teoria do poder simbólico através de uma reflexão sobre as funções sociais desempenhadas por sistemas simbólicos diversos, como a religião, a ciência, a arte, o mito, a linguagem etc. Como de costume, sua perspectiva teórica sobre o tema deriva de uma síntese crítica de diferentes abordagens. A primeira diferenciação importante que Bourdieu estabelece entre as diversas teorias do simbólico opõe visões internalistas e externalistas do fenômeno. O internalismo considera as produções simbólicas como portando, em si próprias, seu significado e sua inteligibilidade. Uma interpretação internalista de um texto literário como um romance ou uma poesia, por exemplo, apreende o seu sentido como imanente à própria obra, em vez de determinado (ou "codeterminado") por fenômenos exteriores, como as intenções expressivas do seu autor, a época histórica de sua produção ou a atmosfera sociocultural em que o texto emergiu. Em contraste, como o seu nome já indica, o externalismo sustenta que os significados de uma produção simbólica carregam decisivamente as marcas de influências externas a ela, mesmo que tais influências não sejam facilmente perceptíveis.
Depósito Legal n. u 26739/89 ISBN 972-29-0014 5/ ' NOTA DE APRESENTAÇÃO A obra de Pierre Bourdieu tem-se afirmado, ao longo dos últimos trinta anos, como uma das mais estimulantes e inovadoras na área das ciências sociais, influenciando numerosas pesquisas sociológicas, antro pológicas e históricas em todo o mundo. A novidade encontra-se na escolha dos objectos de análise (sociedades tribais, sistemas de ensino, processos de reprodução, critérios de classificação e lógicas de distinção), na reorientação do olhar (atento aos fenômenos de percepção social, da produção simbólica e das relações informais de poder), na formulação de noções operatórias (habitus, reprodução, poder simbólico, capital, distinção, campo, etc.) e no constante recurso à sociologia do conheci mento (onde a posição do investigador é questionada como forma de controle do seu trabalho de produção de sentido). Compreender o percurso científico de Bourdieu implica atender a pelo menos duas lógicas de leitura: por um lado, uma lógica da evolução da obra, por outro, uma lógica da sua tipologia. Num primeiro momento, o object o de análise são os cabilas do Norte de África, ou seja, uma sociedade tribal que vive nas margens da sociedade moderna, cujos fenômenos de aculturação são caracteriza dos a partir da organização social e familiar, da percepção do tempo e do espaço e da visão do mundo (Esquisse d'une théorie de la pratique, précédé de trois études d'éthnologie kabyle, Genève, Droz, 1972). Este campo de observação, inserido nas restantes áreas da sociedade argelina (Sociologie de 1'Algérie, Paris, P.U.F., 1958), permite superar as divisões tradicionais do saber entre antropo logia, sociologia e economia, e será objecto de comparação através das análises conduzidas na própria região de origem, isto é, no Béarn (Etudes rurales, 5-6, 1962, pp, 32-136). A transferência do campo de análise das margens para o centro da sociedade moderna implica a reformulação de velhos problemas da sociologia e a escolha de nova\ áreas de estudo. Neste caso, encontramo-nos no âmago dos meca 2 0 PODER SIMBÓLICO nismos de reprodução, cruzando-se a problemática da educação com a da origem social dos estudantes. A posição central do sistema de ensino na reprodução de práticas e de representações é relacionada com a aparente igualdade de oportunidades e questionada em função das diferenças de capital econômico, social e cultural entre os estudantes, as quais são decisivas nas escolhas dos níveis superiores de formação (Les héritiers. Les étudiants et la culture, Paris, Minuit, 1964,' La reproduction. Eléments pour une théorie de la violence symbolique, Paris, Minuit, 1970, ambas escritas com J. C. Passeron). Convergindo no mesmo interesse pela instituição escolar, a leitura de Panofsky permite isolar um caso em que a inculcação de habitus idênticos poderá revestir modalidades diversas (E. Panofsky, Archi tecture gothique et pensce scolastique, tradução e posfácio de P. Bourdieu, Paris, Minuit, 1967). De passagem, note-se que tais territórios de investigação se desenvolvem em tempos marcados pela descolonização francesa da Argélia e, mais tarde, pela revolta estudantil de Maio de 68. Contudo, reconstituir, mesmo que de forma simplificada, este contexto obriga a ter presente as lutas entre intelectuais, que caracterizam o campo cultural francês dos anos sessenta. 0 impacto e o grau de consagração de autores como Sartre ou Lévi-Strauss e a discussão difusa em torno das obras de Marx e de Freud (mais propriamente dos seus comentaristas) ou, numa outra escala, de Saussure e de outros linguistas são alguns dos dados a ter em conta. Neste quadro, fortemente dominado pelos «maitres à penser», a obra de Bourdieu afirma-se como instrumento de relativização, através de um duplo investimento. Por um lado, os inquéritos sobre o consumo da fotogra fia, do livro ou da pintura contribuiram para valorizar as práticas dos grupos sociais constituídos nos actos de apropriação de tais objectos culturais (obras colectivas como Un art moyen, essai sur les usages * Introdução a um seminário da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociflles (Outubro de 1987). * (ATI 1 ' = Conseil National du Patronat Français. * «placement» no texto original (N.T.). ** «1'événementiel» no texto original (N. T.). 8 E. Panofsky, Essais d'iconologie, les themes humanities dans I'art de la Renaissance, trad. deC. HerbetteeB. Teyssèdre,
Editora Universidade de Brasília eBooks, 2021
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Inter-Ação, 2016
rEsumo: Este artigo discute o problema da epistemologia, recortando sua análise na sociologia da ciência de Pierre Bourdieu. O percurso parte de uma discussão geral da epistemologia e chega ao posicionamento deste pensador francês, assumindo a hipótese de que a sua sociologia da ciência critica o idealismo e o determinismo científicos e afirma uma leitura de que o campo científico é um produto social, mas com suas especificidades. Apoia-se nos principais escritos deste sociólogo que tratam do problema da ciência, particularmente em Para uma sociologia da ciência e os Usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico, assim como no aporte teórico da História Intelectual, os quais permitem explicitar a posição desse cientista social, estabelecendo relações entre a obra e seu criador, entre a obra e sua época e entre as diferentes obras da mesma época.
Pierre Rimbert e Gisèle Sapiro, por suas preciosas indicações que permitiram esclarecer certas passagens dos cursos, e em especial a Loïc Wacquant, por sua releitura atenta. Sumário NOTA DOS EDITORES PREFÁCIO: MATERIALISMO DO SIMBÓLICO, por Sergio Miceli ANO 1989-90 Curso de 18 de janeiro de 1990 Um objeto impensável -O Estado como lugar neutro -A tradição marxista -Calendário e estrutura da temporalidade -As categorias estatais -Os atos do Estado -O mercado da casa própria e o Estado -A Comissão Barre sobre a moradia Curso de 25 de janeiro de 1990 Teoria e empiria -Comissões estatais e encenações -A construção social dos problemas públicos -O Estado como ponto de vista dos pontos de vista -O casamento oficial -Teoria e efeitos de teoria -Os dois sentidos da palavra "Estado" -Transformar o particular em universal -O obsequium -As instituições como "fiduciário organizado" -Gênese do Estado. Dificuldades da empreitada -Parêntese sobre o ensino da pesquisa em sociologia -O Estado e o sociólogo
Aplicabilidades das teorias de Bourdieu, Certeau, Chartier e Foucault em nosso cotidiano : costumes e sujeitos, 2022
O presente trabalho tem por objetivo tecer breves considerações sobre a (in)suficiência da teoria tradicional do Estado no que se refere, sobretudo, à própria definição de Estado. Trata-se, portanto, de identificar se tais conceitos são adequados — no sentido de relacionar elementos suficientes — para a compreensão do Estado na contemporaneidade e, diante da sua incapacidade, abordar brevemente as concepções de Durkheim, Marx e Weber, a fim de compreender a definição bourdeieusiana de Estado.
Revista de Administração Pública, 2006
Este artigo apresenta um programa para aplicação da forma de investigar de Pierre Bourdieu às pesquisas em ciências humanas e sociais. A partir da exposição sobre as suas fontes e práticas epistemológicas, o artigo discute o sistema de conceitos que Bourdieu utiliza e desenvolve um roteiro genérico de pesquisa baseado nas suas investigações. Conclui com um resumo das críticas às suas concepções e uma apresentação sintética do seu legado.
Este artigo sistematiza os conceitos fundamentais da teoria social de Pierre Bourdieu (espaço social, capital, habitus, campo e poder simbólico), em sua s aplicações à problemática da relação entre os sexos. Segundo Bourdieu, o espaço social é todo permeado por um princípio de divisão objetivo positivo/negativo), que estrutura a própria visão de mundo subjetiva dos dominantes e dos dominados, e cujo efeito é “naturalizar” a arbitrariedade da “sexualidade” (correlação espontânea das práticas sociais apropriadas aos sexos), mostrada como fato biológico e não -histórico (“poder simbólico”).
This article deals with Pierre Bourdieu´s critic on Max Weber´s State conception. It analyses the concept of State in Machiavelli, Weber and Bourdieu. The issue about the legitimating bases of the State domination is resolved changing the conscientious beliefs by the habitus. The State is conceived as a powered abstraction, originated from an accumulating process of different kinds of capital, especially symbolic capital. State and “field of power” notions are approached.
dObra[s] – revista da Associação Brasileira de Estudos de Pesquisas em Moda
Publicado inicialmente em 1975, na prestigiosa revista francesa Actes de la Recherche en Sciences Sociales, o texto O costureiro e sua grife, escrito por Pierre Bourdieu em parceria com Yvette Delsaut, constitui leitura fundamental para todos os estudiosos da moda (...)
Pro-Posições, 2015
Origem e destino: pensando a sociologia reflexiva de Bourdieu (116 pp.). Campinas, SP: Mercado de Letras. ierre Bourdieu (1930Bourdieu ( -2002) ) é, inegavelmente, uma referência incontestável no campo da Sociologia, de forma ampla, e da Sociologia da Educação, em particular (Oliveira, 2013), o que se relaciona também com a influência da produção acadêmica francesa nas pesquisas em Sociologia da Educação no Brasil (Costa & Silva, 2003; Weber, 2011), porém o impacto de sua produção ultrapassa os campos disciplinares, pois, como nos indica o balanço realizado por Catani e Faria Filho (2002) no GT de História da Educação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação -ANPED -, ele é
Educação & Sociedade, 2002
Através de uma apresentação, em ordem cronológica, da obra de Pierre Bourdieu, tentou-se extrair as idéias, os elementos teóricos e os conceitos elaborados por ele. Começando com um trabalho de campo na Argélia, ele desenvolveu pouco a pouco um sistema de explicação sociológica da dominação social. A escola, a cultura, a economia foram, entre outros, estudadas aplicando conceitos novos na sociologia, tais como habitus, violência simbólica ou campo social. Propondo uma nova leitura das relações sociais, Bourdieu criou um modo de pensar suscitando criticas severas, mas também uma obra profícua utilizada nos mais variados setores sociais.
As anotações seguem o andamento da leitura e das inquietações do leitor com o autor.
As every great scientific production, the work of sociologist Pierre Bourdieu (1930-2002) was created around an intuition, and built from strength-ideas formulated, developed, reformulated, and resumed in most of his publications-a founding intuition that seeks to articulate bigger concepts placed at the center of his analysis of the structure of the social world and social relations. Pierre Bourdieu, who wished to transform sociology in a total science capable of restoring the fundamental unity of human practice, attributed to his field a critical function that implies unveiling educational, cultural, social, and symbolic mechanisms of domination. In the present work we shall attempt to retrace the socialmethodological path proposed and followed by Pierre Bourdieu through the sketching of a sort of cartography of his work, and the description of the main chapters of his intellectual and professional trajectory, emphasizing his social and political commitments. We shall also try to clarify the content of some of his main works, and his contribution to the understanding of the practices in different social fields, highlighting its limits and the criticism it has raised. Lastly, we look into the legacy of Bourdieu's work in Brazil, focusing on his contribution to the development of an important critical movement in the field of the sociology of education, and we examine intently the presence of his reflection in the emergence of a micro-sociological perspective in the field of educational research in Brazil.
2019
Pierre Bourdieu, principal autor da obra que é objeto desta resenha, “Ofício de Sociólogo: Metodologia da pesquisa na sociologia”, participa das discussões metodológicas da sociologia contemporânea a partir de um amplo arcabouço teórico. As fontes para formação de seu modelo teórico, por exemplo, incluem Bachelard, Canguilhem, Durkheim, Freud, Mauss, Marx, Kaplan, Weber, dentre outros. A proposta de análise relacional do autor (SCARTEZINI, 2011) permite um caminho rumo a superação da dicotomia presente em análises microscópicas ou macroscópicas, que privilegiam a obtenção de foco no indivíduo ou na sociedade. Apresentando, então, uma abordagem “mesoscópica”, (MAILLOCHON, 2015), a perspectiva de Bourdieu insere-se em um cenário de ruptura epistemológica, em que a sociedade e o indivíduo passam a ser analisados a partir de suas relações de interdependência
Revista de Gênero, Sexualidade e Direito
O presente trabalho trata sobre o empoderamento feminino sob a perspectiva da teoria do poder simbólico de Pierre Bourdieu. A escolha do tema motiva-se pela sua contemporaneidade e pela recorrente discussão em torno do empoderamento feminino. A questão que orienta esta investigação é a seguinte: é possível sustentar a ideia de que o empoderamento feminino é uma forma de poder simbólico? Para responder a esta indagação o desdobramento argumentativo teve como base a seguinte trajetória: primeiro abordou-se o significado de empoderamento feminino; na sequência se fez uma abordagem acerca da teoria do poder simbólico de Pierre Bourdieu; por último analisou-se a possibilidade de considerar o empoderamento feminino uma forma de poder simbólico. O método de pesquisa adotado foi o método dedutivo e como metodologia a pesquisa bibliográfica.
Livro A Subjetividade na Obra de Pierre Bourdieu, 2021
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -Brasil (CAPES) -Código de Financiamento 001 (Processo N° 88887.464739/2019-00). Meus sinceros agradecimentos ao fomento da pesquisa. Apesar de livre, essa deve ser uma das tarefas mais difíceis de escrita de uma dissertação, pelo simples fato de que é impossível mensurar e mencionar todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a construção desse trabalho. Foram, ao longo de anos, encontros diversos e afetos compartilhados das mais diferentes maneiras, que impulsionaram, de forma negativa ou positiva, a levar o autor a se interessar pelo tema e pelo problema aqui pesquisado. Para iniciar, não poderia deixar de agradecer à Universidade Pública brasileira. Sem ela, não seria possível ter trilhado o caminho que trilhei. Sobretudo, não seria possível que eu pudesse seguir por uma via de transformação que, outrora, me fazia reproduzir toda forma de senso comum e preconceitos advindos dos espaços que costumava frequentar. Esse foi, para mim, um dos poucos espaços possíveis de desconstrução de um antigo "eu". Nessa linha, sou grato a todos aqueles que me acompanharam durante o curso de Ciências Sociais, na Universidade Estadual de Londrina, e a todos da Psicologia, na Unesp. Mais do que a capacidade técnica ou teórica, vocês -instituições e indivíduos -geraram em mim a disposição necessária para fazer parte de uma luta permanente pela manutenção de uma universidade pública, universal e de excelência.
Sobre: Sociologia Clinica
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