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Hortas Orgânicas nas Terras Indígenas do Acre

2021, Hortas Orgânicas nas Terras Indígenas do Acre

Este material é um relato das discussões e descrição das práticas dos Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs) durante os trabalhos de implementação e manejo de hortas orgânicas realizados durante as atividades do curso de capacitação que acontece todos os anos no Centro de Formação dos Povos da Floresta e na extensão dessas atividades realizadas em suas comunidades. As aulas sobre horta orgânica fazem parte da disciplina de Agrofloresta, são trabalhadas desde a primeira versão do curso (1996) e incluem muitas atividades práticas, experimentos, registros e discussões. Estas envolvem temas como o cultivo sem uso de agrotóxicos de hortaliças, temperos, plantas medicinais e flores. O livro pretende contribuir com as discussões sobre a implementação e o manejo das hortas orgânicas nas Terras Indígenas do Acre. Todos os textos são de autoria dos Agentes Agroflorestais, que revelam como ocorre o manejo das hortas em suas comunidades, ressaltam a importância de valorizar e preservar a “arte de cozinhar” as comidas tradicionais e revelam um profundo conhecimento a respeito das plantas comestíveis, muitas delas ainda ignoradas pelos “nawa”, como é o caso de nawãti, atsapũi, orelha de pau, olho de tacana, entre outras. Ao longo dos séculos, as sociedades indígenas do Acre desenvolveram elaborada atividade agrícola tradicionalmente voltada para a auto-subsistência. Até hoje os indígenas do Acre são excelentes agricultores e praticam uma agricultura extremamente rica e diversificada. Muitos desses povos cultivam roçados de terra-firme e de praia, além de possuírem imensos bananais. Essa agricultura sofisticada chamou atenção dos primeiros viajantes do início do século XX que definiram os indígenas como “verdadeiros cultivadores, cujas plantações ultrapassam de longe em cuidados e em rendimento todos os campos dos civilizados” (Tastevin, in Cunha, 2009). O conhecimento indígena a respeito das plantas é extenso e variado e o manejo de espécies na floresta também faz parte da agricultura, mesmo que não siga os padrões tradicionais de roçados. Em decorrência de terem desenvolvido uma agricultura elaborada e diversificada, esses povos também possuem sofisticada culinária.