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Fotografia e antropogênese: o melhor amigo do homem

Estudos Ibero-Americanos

Abstract

Observando as formulações assumidas pela distinção humano/animal ao longo da história da filosofia, Giorgio Agamben (2004) concluiu que qualquer conceito de humanidade deveria tanto excluir como incluir a natureza animal. Denominou esse dispositivo metafísico de “máquina antropológica”, o processo histórico que produz separações e reconciliações entre humanidade e animalidade (tais como as relações entre corpo e alma, por exemplo). No interior dessa máquina haveria uma zona de indeterminação onde é possível perceber a tensão entre gente e bicho, onde o movimento de separação é suspenso e a própria máquina exibe sua engrenagem capenga. Seria possível flagrar esse momento? Seria possível visitar esse lugar? A premissa dessa pesquisa é que a câmera fotográfica, como máquina antropológica, tem seu papel antropogênico particularmente visível quando os seres humanos são fotografados acompanhados de cães. Valendo-se de obras como os pintores Velasquez e Rembrandt e fotógrafos como Robert C...

Key takeaways

  • A premissa dessa pesquisa é que a câmera fotográfica, como máquina antropológica, tem seu papel antropogênico particularmente visível quando os seres humanos são fotografados acompanhados de cães.
  • Embora reconheça-se hoje que o "o animal nomeia um problema conceitual na filosofia ocidental", para muitos autores ele é "definido negativamente em relação ao humano", conotando apenas "o que o humano não é" (MORTON, 2013, p. 105).
  • O cão é "o único elemento do quadro que não olha nem se mexe, porque ele, com seus fortes relevos e a luz que brinca em seus pelos sedosos, só é feito para ser um objeto a ser olhado" (FOUCAULT, 1992, p. 29).
  • Assim como Foucault, chama a atenção para o pé sobre o cão, mas não é a maciez de seu pelo que está em questão.
  • Pois, observando-se bem, não é sobre o busto de Homero que repousa a mão de Aristóteles, mas precisamente sobre sua cabeça.