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Estudo para uma composição: cidade e narrativa

2011, Iluminuras

Esse artigo parte da reflexão de duas experiências que contam a cidade a partir dos seus limiares e apontam para a indissociabilidade da produção da narrativa de si e da produção da narrativa da cidade. A primeira delas é a produção de um livro 2 de memória fotográfica de uma vila em processo de remoção na região do bairro Cristal, em Porto Alegre. A segunda, a produção de um vídeo-carta sobre Porto Alegre em companhia de um grupo de moradores das ruas da cidade 3. 2008 Aqui não tinha nada quando vim pra cá, era mato, maricá. Na verdade os moradores mais antigos aqui sou eu, seu Paulino, a Clair, Zé Cascão, que morreu, seu Ildo, seu Zé. Sou de Santo Ângelo. Tem gente de todo lugar aqui, é uma imigração muito grande...Um dia fui no Big comprar o som e paguei em prestação. De tarde paguei a última e de noite veio o temporal e levou tudo, a casa toda. Seu Luiz queria se atirar atrás pra pegar o som. Foi tudo embora minhas coisas, depois me endireitei, graças a deus. Agora essa casinha aí ta louca pra cair de novo. Comprei essa maloca que vai lá na beirinha do valão, bem lá na beirinha. Lá é meu quarto... quer olhar? (Lena, 2008) Aquela cidade era janeiro, porto alegre, na zona sul. Estacionávamos o carro em uma grande avenida com pouco espaço para transitar em cima dos pés. No horizonte, automóveis, asfalto, terra revolta em obras, máquinas e homens na construção. A extensão se perdia na vista. Tudo era grande: a imensidão do rio/lago, os campos do prado, a extensão do que logo seria um Shopping. A estrada/avenida sem nenhum ônibus urbano até que fosse concluída a obra. Logo, avistávamos outra paisagem, colada na suntuosa e decadente imagem dos campos de andar a cavalo: a vila Foz Cavalhada, onde conheceríamos dona Lena e outros companheiros de morada e de luta. Jurema foi quem nos levou a casa de Lena, que nos convidou a entrar. Um