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O Sublime no Banal

In A Delicadeza: Estética, Experiência e Paisagens. Brasília, Ed. UnB, 2002

Nada de grandioso, transcendental, mas menor, banal, cotidiano, concreto, material. O sublime é uma alternativa ao discurso fatigado das transgressões tardo-modernas (que artistas perfomáticos, cineastas experimentais insistem em ressuscitar) e à ladainha de um mundo povoado de imagens, clichês e informações, não para recusá-lo, mas de dentro dele afirmar uma adesão. Como nos provoca Nelson Brissac Peixoto: “o destino das imagens não está mais sendo jogado no experimentalismo da vanguarda nem no engajamento ideológico, discursos completamente integrados no sistema de produção de clichês. O futuro das imagens está na produção do sublime” (PEIXOTO, 1997, p. 318). O sublime midiático, tecnológico, o sublime pop. O sublime não como fuga do mundo, escapismo, mas afirmação da possibilidade do encontro, da presença. O sublime é a base de uma educação dos sentidos a partir do precário, do fugaz, do contingente, de tudo o que evanesce rápido, mas que brilha inesperada e sutilmente. Um tesouro para ser guardado. O sublime faz da arte uma ambiência, uma paisagem onde se pode habitar e caminhar lentamente como se houvesse o tempo todo do mundo, é a volta em torno de um lago que bem pode ser uma vida, é o retorno ao mar, ao indefinido, ao inumano, que bem pode estar não só na natureza, como para Kant e os românticos, mas numa tela de televisão criada por computadores (ROLFE, 1998, p. 51) ou nos espaços urbanos (ver PEIXOTO, 1997, p. 310/1). O sublime não implica mais a perda do eu como triunfo da linguagem, mas que o próprio sujeito seja traduzido como paisagem. Talvez todo este esforço tenha sido em vão. Por que buscar renomear, torcer uma palavra com sentidos tão arraigados, por que não falar em outra palavra: leveza? O sublime é um posicionamento ético e estético diante do mundo frente ao populismo midiático sem ignorar os meios de comunicação mas pensando-os em sua diversidade. Pensar os frágeis limites entre o sublime e o banal implica recolocar a atualidade ou não de uma estética hoje em dia. Em contraponto a um discurso da negação e de transgressão, reduzido hoje a uma estratégia de marketing, defendo uma gentil subversão. Também em contraponto a uma estética da violência, ao fascínio pelo grotesco e pelo abjeto, o sublime se traduz em leveza e delicadeza. Não consigo deixar de pensar no primeiro princípio da estética de Nietzsche (1999, p. 11): “O que é bom é leve, tudo divino se move com pés delicados”. Mas esta já seria uma outra paisagem.