Academia.edu no longer supports Internet Explorer.
To browse Academia.edu and the wider internet faster and more securely, please take a few seconds to upgrade your browser.
Sociologias
Resumo Este ensaio pretende apresentar a gênese moderna do intelectual e as figurações que assume ao longo de uma história relativamente recente até chegar a alguns impasses que sugerem sua crise, arriscando-se ao final caminhos possíveis para uma reconfiguração que o permita enfrentar os desafios do mundo social contemporâneo.
Intelligere
Este artigo tem como mote localizar panoramicamente aspectos da trajetória de vida do jornalista Júlio de Mesquita Filho, proprietário do jornal “O Estado de São Paulo”, a partir de discurso proferido quando foi paraninfo de uma turma do curso de direito da Universidade de São Paulo em 1948 e um depoimento autobiográfico escrito na década de 1960. Os escritos aqui postos em análise fazem um esforço de reconstituição do itinerário intelectual e existencial do personagem, situando as questões que o mobilizaram mais intensamente. Esses enunciados constituem documentos necessários para a compreensão de como o sujeito que desejou tomar parte do debate intelectual em torno da consolidação da República brasileira e os modelos de sociedade adequados compreendia a si mesmo e seus propósitos. Para a intepretação das fontes e estabelecer as balizas de aclimatação, três noções centrais são caras, ainda que não evidenciadas textualmente: “estar no mundo” (Dasein), conceito desenvolvido por Paul ...
RURIS (Campinas, Online)
Resenha sobre a obra O Brasil e suas diferenças: uma leitura genética de Populações Meridionais do Brasil, de Andre Veiga Bittencourt.
Ação Midiática – Estudos em Comunicação, Sociedade e Cultura.
Nos estudos de mídia, há uma discussão desde os anos 1980 sobre uma compreensão do meio/mídia que não é baseada na mídia de massa. Como disciplina, teve que se diferenciar de estudos de comunicação e literatura e de estudos culturais que se concentram em sistemas sociopolíticos e econômicos ou em sistemas de ordem simbólica. Neste artigo, defendo pelo menos três debates que levaram a outra maneira de pensar a mídia. O que é chamado de Teoria Alemã da Mídia consiste em uma virada para uma materialidade da comunicação, investiga a medialidade específica de um meio e analisa as funções do meio dentro das práticas e operações, em vez de tomar o meio como uma entidade fixa. Embora a Teoria Alemã da Mídia seja considerada um caminho especial adotado nos estudos de mídia, defendo que o debate sempre foi internacional e continua a desafiar os discursos existentes.
2019
A partir do problema da sensibilizacao dos sentidos e da percepcao, bem como da questao “o que pode um corpo?”, a dissertacao explora tres nocoes da filosofia de Gilles Deleuze e Felix Guattari, a saber: musica, devir-crianca e filosofia-sintetizador. Considerando a mencao dos autores de que a filosofia procede como um sintetizador de pensamentos, em alusao ao instrumento musical sintetizador, a dissertacao adapta esse modo de proceder a nocao de filosofia-sintetizador para experimenta-la como um metodo de pesquisa, conectando-a as tres atividades que compoem o processo criativo da filosofia, tal como exposto pelos autores em O que e a Filosofia? (2010): o tracado do plano de imanencia, a invencao de personagens conceituais e a criacao de conceitos. Tal metodo implica explorar a operacao de consistencia como um procedimento imanente do pensamento em que se mantem unidos elementos heterogeneos por meio de uma sintese de disparates. Tomando a musica e o devir-crianca como elementos he...
Artefilosofia, 2020
demonstra a falibilidade da pretensa superioridade da arte europeia em relação à arte africana, a partir do desmonte da lógica que preside o modelo pictórico ocidental da idade clássica, ao contrastá-lo à plasticidade escultórica africana. A arte ocidental ampara-se em uma arquitetura figural calcada no modelo naturalista, cuja potência persuasiva repousa sobre a possibilidade de converter suas narrativas em ficções suficientemente críveis, cujo efeito retórico assentou o "negro" como "figura" fabricada pela história e suas estruturas fictícias e imagéticas. Nosso texto propõe a raspagem dessa paisagem figural no intuito de compreender como o negro pode reinventar-se a partir da poiesis artística contemporânea. Ao analisar obras de três artistas negros contemporâneos brasileiros, a saber, Rosana Paulino, Dalton Paulo e Antônio Obá, este artigo se ampara nas noções de figura e ficção, como estabelecidas em alguns marcos textuais da história da arte e da teoria da história.
Manuscrítica: Revista de Crítica Genética
Este artigo recorre ao gênero epistolar para indicar a possibilidade de uma compreensão mais ampla dos processos criativos em literatura no século XIX. Busca-se aqui a sistematização dos modos de se entrever, na correspondência, os estágios iniciais da redação, os planos de obras e os dilemas dos autores ao longo do tempo. Destacam-se os “titubeios”, os horizontes estéticos ainda em formação, os desejos e as ambições individuais; tais diálogos, abrigados nas correspondências de escritor (Stendhal, Balzac, Sand, Musset, Flaubert, Zola, Mallarmé, Rimbaud etc.), emergem como elemento incontornável à compreensão dos processos de redação e, consequentemente, do espaço polifônico em que suas obras se produzem. Destaca-se ainda, aqui, a evolução do gênero epistolar, sublinhando sua capacidade de constituir o “laboratório de escrita” que se abre para leitura.
Historia Da Educacao, 2003
Este estudo tem como fio condutor o caso Dreyfus, considerado revolucionário no campo intelectual, espectro para discemir as transformações sociais que afetaram os intelectuais na segunda metade do século XIX. Apresenta os intelectuais do século XIX em uma perspectiva de longa duração e analisa o debate suscitado pela noção de "intelectual" nesse momento. Divide-se em duas partes: uma diacrônica com a apresentação sumária das transformações do campo intelectual na segunda metade do século XIX; e outra que procura esclarecer, pelas hipóteses tiradas do estudo geral, a conscientização dos intelectuais em 1898-99. Palavras-cbave: intelectuais; século XIX; caso Dreyfus. Cette étude a comme fi! directeur l'affaire Dreyfus, conçue comme une révolution dans le champ intellectuel, qui sert de spectre pour discemer les transformations sociales qui ont affecté les intellectuels du XIXe siecle. Elle présente les intellectuels dans une perspective longue et analyse le débat suscité par Ia notion d"'intellectuel" au moment de cette affaire. Elle obéit à deux parties: Ia premiere, diachronique, avec Ia mise en place sommaire des transformations du champ intellectuel dans Ia seconde moitié du XIXe siecle et, l'autre, qui cherche à éclairer, par les hypotheses tirées de l'étude générale, Ia prise de conscience des intellectuels en 1898-99. Mots-c1efs: intellectuels; XIXe siecle; l'affaire Dreyfus.
Serviço Social & Sociedade, 2014
O artigo trata do desenvolvimento da análise do marxista italiano Antonio Gramsci contida nos Cadernos do cárcere acerca do conceito e da função dos intelectuais. Nosso objetivo é apresentar os principais elementos que conformam a função dos intelectuais no exercício e manutenção dos projetos hegemônicos de classe no capitalismo, bem como os processos que tornam possíveis uma atividade intelectual voltada para a construção de um novo projeto de hegemonia das classes subalternas. Aqui, vêm à tona os conceitos de senso comum, bom-senso, reforma intelectual e moral e, especialmente, a relação entre intelectuais e partido.
Actualidades Pedagógicas, 2009
This Artículo de Investigación is brought to you for free and open access by the Revistas científicas at Ciencia Unisalle. It has been accepted for inclusion in Actualidades Pedagógicas by an authorized editor of Ciencia Unisalle. For more information, please contact
Lutas Sociais. ISSN (impresso) 1415-854X (eletrônico) 2526-3706, 2014
Este artigo desenvolve uma reflexão sobre a figura do indivíduo na teoria althusseriana tomando como referência a própria lacuna identificada por Althusser no materialismo histórico, que é a falta de uma teoria da individualidade. A primeira seção é dedicada a explorar as referências à figura do indivíduo nas obras de maturidade de Marx e, a segunda, a estabelecer uma conexão entre tais referências e as indicações de Althusser úteis ao desenvolvimento da questão proposta. Palavras-chave: figura do indivíduo; relações sociais de produção; determinações estruturais.
Psicologia: Ciência e Profissão, 2002
Por meio dos cruzamentos experienciados entre o XIV Erep-Sul - Encontro Regional dos Estudantes de Psicologia - e o II Fórum Social Mundial, o artigo se propõe a discutir o desafio da pluralidade étnica para a Psicologia brasileira. Demostra haver duas pluralidades possíveis: a do folclore, da essência do dentro, e a da fronteira, da etnicidade do fora, chega, conseqüentemente, a uma Psicologia da homogeneização, cuja intervenção se debruça sobre o indivíduo; e numa outra que, experimentando o devir por desafio, pretende trabalhar com as relações do múltiplo. O texto aponta o devir como desafio à psicologia plural.
Há uma década o campo literário brasileiro tem observado uma crescente proliferação de obras literárias assinadas por autores não pertencentes aos centros hegemônicos de saber. Desde a publicação de Cidade de Deus, de Paulo Lins, em 1997, uma série de autores trilharam um caminho semelhante ao preconizado por Lins, romperam a silenciosa posição de objeto, para, em seu lugar, figurarem como enunciadores do próprio discurso. Ferréz, autor residente na favela do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, decerto é o exemplo mais bem sucedido deste empenho em estruturar um discurso a partir do próprio referencial, formando uma compreensão das fraturas marginalizadas da sociedade fora dos espaços centrais de saber e poder. O êxito de Ferréz deve ser medido não apenas na expressiva vendagem de seus livros, fator que revela o alcance de seu discurso, mas, principalmente, em sua contribuição na formação de um grupo de autores da periferia, a chamada Literatura Marginal. No prefácio da coletânea Literatura marginal: talentos da escrita periférica, publicação que reúne alguns dos principais textos publicados nos três números especiais da revista Caros Amigos destinada à produção literária marginal, Ferréz exemplifica qual a principal característica do grupo: "A Literatura Marginal, sempre é bom frisar, é uma literatura feita por minorias, sejam elas raciais ou socioeconômicas. Literatura feita à margem dos núcleos tradicionais do saber e da grande cultura nacional, isto é, de grande poder aquisitivo" 1 . Nesta definição, a Literatura Marginal surge como um discurso de rasura da fala hegemônica, estruturando não apenas uma proposta literária contrária, mas, antes de tudo, negando-a. A Literatura Marginal busca assumir o status de voz unívoca da periferia, silenciando assim qualquer outro discurso que busca investigar/representar as margens, como afirma Ferréz: "Não somos os retrato, pelo contrário, mudamos o foco e tiramos nós mesmos a nossa foto" 2 .
Durante toda sua obra, Freud concebe os processos psíquicos como derivados da atividade do cérebro. Aqui é proposta uma reconstituição dos passos inferenciais (constituindo uma seqüência lógica e não cro-Freud, a consciência é uma espécie de percepção interna de processos psíquicos. Como a consciência não é inerente a esses processos, torna-se natural imaginar que eles possam também ocorrer sem serem percebidos (processos pré-conscientes). O conceito de inconsciente propriamente dito também se mostra tributário de sua concepção psiconeural.
Tópicos, Revista de Filosofía, 2017
It is well known Schelling's critique of Fichte's doctrine of science, to wit, that it would have annihilated every concept of a living nature, reducing it to a mere obstacle to be overcome for the realization of moral ends of reason. However, is Schelling right? This paper aims to refute Schelling's critique, showing not only how the doctrine of science does not suffer from this deficiency, but also that instead it deducts from the structure of the reason the domains of knowledge, including, of course, the domain of nature. This deduction of the domains of knowledge, nature and spirit, will be made through the analysis of the passage-structure from Absolut to the factual knowledge, that is, the I's reflection on himself, especially through the consideration of its Kantian elements: the practical spontaneity and its eminently reflective character, something that was not realized by Schelling and his followers.
2008
Qualquer estudo dedicado à obra paraliterária 1 de Eça de Queirós passa necessariamente pelo remoto ano de 1867, em que o então jovem escritor se demora sete meses na capital alentejana de Évora, em busca de um caminho e à procura de uma vocação. Sem nunca ter tido experiência profissional digna de nota e praticamente acabado de sair dos bancos da vetusta universidade de Coimbra, ei-lo à frente de um jornal regional, dirigindo, compondo, escrevendo e orquestrando, totalmente só, uma folha de quatro páginas, formato in-folio 2 , bissemanal, de nome Distrito de Évora (D.E.), 3 que, de janeiro a agosto, pontualmente veio a público, sem falhas ou interregnos. 4 Não fosse o renome adquirido posteriormente pelo romancista ou a projeção e robustez da sua obra literária, nunca este jornal teria saído dos arquivos, nem teria sequer lugar na história da imprensa de um século em que, para mais, as publicações se multiplicavam um pouco por todo o país. "Só um livro é capaz de fazer a eternidade de um povo" (Queirós, 2009: 201), comentaria Eça no «deixando cair o pingo de rapé sobre o Diário de Notícias» Eça de Queirós no contexto da História dos media 2 prefácio a Azulejos do Conde de Arnoso. Porém, uma personalidade intelectual como a de Eça compreende múltiplas facetas cujas arestas convém não esquecer: a de jornalista foi uma delas, embora de modo muito especial e particular, sobretudo tendo em consideração o significado que o vocábulo adquiriu a partir de inícios do século XX. 5 É geralmente reconhecida a importância desta experiência na maturação do estilo do escritor e diversos estudos leem o D.E. como um laboratório de escrita, uma espécie de campo de trabalho das letras, do estilo e do engenho literário de Eça. Ou seja, a valorização desta publicação tem sido sobretudo construída em função da obra literária do escritor, como algo de acessório, cujo valor reside na possível relação dialogante que estabelece com publicações posteriores. 6 Célebre é a teoria genericista que lê Manuel Eduardo, personagem do D.E. de que teremos oportunidade de falar mais adiante, como um proto-embrião de Fradique Mendes (Delille, 1984: 340); outros defendem que os sete meses passados na redação do D.E. foram decisivos para o rumo da sua escrita, no sentido de a tornar mais realista, deslocando a atenção do escritor para as questões da realidade sociopolítica e afastando-o das fantasias bárbaras da Gazeta de Portugal (Castro, 1981: xxvii; Serrão, «deixando cair o pingo de rapé sobre o Diário de Notícias» Eça de Queirós no contexto da História dos media 3 Pegar penosamente à rabiça dum arado de ferro, e i-lo empurrando desde a alva ao crepúsculo, por uma gleba ressequida e empedernida, é labor doloroso e que enche o ar de gemidos: é o labor dum Flaubert, erguendo heroicamente palavra a palavra o seu monumento, com uma pena rebelde (Queirós, 2009: 199). «deixando cair o pingo de rapé sobre o Diário de Notícias» Eça de Queirós no contexto da História dos media 7 Pode-se gabar a correção mas lamenta-se a ausência de vida; os personagens são todos empalhados -e tenho-lhes tanto ódio, que se eles tivessem algum sangue nas veias, bebia-lho. Sou uma besta: sinto o que devo fazer, mas não o sei fazer (Queirós, 1983: 174-175). E, em 1884, confessa a Oliveira Martins que: Da gente portuguesa conheço apenas a alta burguesia de Lisboa -que é francesa -e que há de pensar à francesa, se algum dia vier a pensar. Como é feito por dentro o português de Guimarães e de Chaves? Não sei. O Padre Amaro é mais adivinhado que observado. (Queirós, 1983: 227). Que nos dizem estes excertos, apresentados aqui como exemplos apenas? Dizem-nos, em primeiro lugar, que Eça sempre refletiu sobre a sua produção literária, mesmo que não o tenha feito de modo muito sistemático. As missivas trocadas com os amigos e editores revelam esta faceta do escritor: uma preocupação constante com o modo, com o método, com o estilo, bem visível em textos de índole programática como estes. Em segundo lugar, os excertos supracitados podem revelar-nos a dicotomia da personagem queirosiana, oscilante entre o real e o ficcional; o modelo e a criatura; a observação e a invenção. Finalmente, estes textos dizem-nos que, dentro dessas reflexões dispersas, a personagem é uma categoria que motiva recorrentes comentários e observações, facto a que não é alheia a escola realista e naturalista que Eça assumiu temporariamente. Sabe-se da importância que uma categoria como a personagem desempenhou no período realista: Ao mesmo tempo, convém lembrar que a retórica da personagem, em tempo e em contexto realistas, determina a configuração de entidades com a nitidez e com a capacidade de diferenciação que as circunstâncias requerem: a personagem é, então, normalmente bem caracterizada, insere-se numa hierarquia estruturada, revela uma coerência e uma previsibilidade que a lógica do romance vigente impõe, deixando pouca margem para o inusitado (Reis, 2011: 6). Regressemos ao D.E. e percorramos corpus selecionado: percebemos que, já no final da década de 60, o escritor tinha em mente um projeto reformista que passava por pôr a escrita ao serviço da caricatura da sociedade portuguesa. Não só o título da «deixando cair o pingo de rapé sobre o Diário de Notícias» Eça de Queirós no contexto da História dos media 8 secção, sugerido pelo próprio, Comédia Moderna, no-lo permite inferir, como também percebemos, no conjunto de treze cartas que a compõem, que o olhar e a observação eram dois aspetos muito valorizados pelo correspondente lisboeta. Também não nos parece despiciendo o facto de, neste reduzido corpus, encontrarmos algumas reflexões sobre a caricatura, o riso e a pintura de carateres. Um dos textos é mesmo dedicado ao Carnaval, perdendo-se o correspondente em elucubrações sobre a máscara e o modo como o ser humano se integra na vida social. 15 Reflexões desta natureza, dispersas pelos textos de que tratamos, revelam no escritor uma propensão para olhar o mundo que o rodeia, captando nele materiais passíveis de crítica, de comentário ou de descrição. Como processo, o Realismo que apenas se assume no início da década de 70, rondava já, pelo menos em germe, o labor do jovem escritor: sentimento a mesma justa intensidade (Queirós, 1981: 300). Não pode deixar de nos surpreender que um jovem de apenas 21 anos de idade, acabado de sair da Universidade, com pouca ou nenhuma experiência profissional, chegue a uma cidade estranha e muito diferente do mundo que conhecia e consiga, de modo tão verosimilmente apaixonado e comprometido, mergulhar na política nacional e internacional da forma como Eça o fez. Lembremos que os poucos textos que até à data havia publicado, na Gazeta de Portugal, eram folhetins literários, eivados de um certo tipo de lirismo romântico e, na sua maioria, totalmente desgarrados do contexto real da sociedade e do país. Em contraste flagrante, as crónicas, os artigos e as cartas do jornal eborense, salvo raras exceções, são todos eles textos referenciais, ancorados em realidades precisas que Eça se esforçou por conhecer ou fingir que conhecia bem. De fingimento falamos quando nos referimos ao corpus que aqui se trabalha: as cartas da Comédia Moderna são assinadas, como se explicou, por um correspondente ficcional, inventado pelo autor / jornalista para enriquecer o seu periódico com notícias da capital. 3. As figuras do Distrito de Évora A atitude que assume, ao longo destas cartas, é a de um observador que, percorrendo as ruas da capital, oferece aos leitores a caricatura da sociedade portuguesa. Num estilo deambulante e eclético, o jovem escritor afinava já a configuração de um conjunto de personagens que, posteriormente, reaparecem mais estruturadas em narrativas da maturidade. Logo na primeira dessas cartas, datada de janeiro, o correspondente literário dá conta aos leitores de província do estado dormente da vida cultural da capital. Embora nenhuma personagem individual se destaque no texto, o registo descritivo é construído sobre a prosopopeia da cidade que, à semelhança do folhetim "Lisboa" da Gazeta de Portugal, primeiro que publica na segunda série depois de sair de Évora, descreve uma sociedade estéril, parada, desinteressante e desinteressada. Ainda longe do Realismo, o olhar do escritorficcionado e travestido pelo olhar de um correspondente da capital -descreve o que «deixando cair o pingo de rapé sobre o Diário de Notícias» Eça de Queirós no contexto da História dos media 12 imagina serem as ruas da capital do reino, tal como, anos mais tarde, fará no sublime final do Crime do Padre Amaro, em que Amaro, o Cónego Dias e o Conde de Ribamar descem indolentes o Chiado, por onde ecoavam gritos dos ardinas trazendo as novas da Comuna de Paris. À semelhança destes, também o correspondente literário do D.E. confessa no final: Agora vou por essas ruas, apinhadas de gente, indolentemente, estudando os tipos como um verdadeiro ocioso, rindo-me dos penteados femininos, vendo os livros novos, ouvindo as dissertações políticas, a graça dolorosa e insípida dos nossos folhetinistas, mas olhando sobretudo para o sol, (...) como um verdadeiro meridional (Queirós, 1981: 540).
2023
O presente trabalho é constituído por uma investigação epistemológica do conceito de equívoco formulado pelo antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro. A investigação buscou traçar a gênese e a estrutura do conceito e, a partir disso, explorar algumas de suas raízes no pensamento antropológico e filosófico francês. A investigação dos problemas que circundam este conceito revelaram a importância da contraposição clássica entre ciência e filosofia. Para estabelecer o solo sobre o qual se fundam as raízes do conceito, em relação a tal contraposição, foi necessária uma investigação dos pressupostos epistemológicos do filósofo Gilles Deleuze e do antropólogo Claude Lévi-Strauss, representando, respectivamente, a filosofia e a ciência. Isso permitiu avaliar o modo como o antropólogo brasileiro se afilia à ciência e à filosofia. O solo conceitual capaz de avaliar o estatuto do conceito de Viveiros de Castro de um ponto de vista historiográfico foi forjado a partir de uma junção discordante entre os dois franceses. Isso forneceu os alicerces antagônicos capazes de iluminar a posição do pensamento do brasileiro. A partir disso foi possível ensaiar as primeiras etapas em direção a uma interpretação do estatuto do conhecimento envolvido no conceito de equívoco do antropólogo brasileiro. Le présent travail consiste en une enquête épistémologique sur le concept d'équivoque formulé par l'anthropologue brésilien Eduardo Viveiros de Castro. L'enquête a cherché à retracer la genèse et la structure du concept et, à partir de là, à explorer certaines de ses racines dans la pensée anthropologique et philosophique française. L'examen des problèmes qui entourent ce concept a révélé l'importance de l'opposition classique entre science et philosophie. Afin d' établir le sol sur lequel reposent les racines du concept, par rapport à cette opposition, il a fallu enquêter sur les présupposées épistémologiques du philosophe Gilles Deleuze et de l'anthropologue Claude Lévi-Strauss, représentant respectivement la philosophie et la science. Cela a permis d'évaluer la manière dont l'anthropologue brésilien est affilié à la science et à la philosophie. Le terrain conceptuel capable d'évaluer le statut du concept de Viveiros de Castro d'un point de vue historiographique a été forgé à partir d'une jonction discordante entre les deux français. Cela a fourni les fondements antagonistes capables d'éclairer la position de la pensée du brésilien. A partir de là, il a été possible d' essayer les premières étapes vers une interprétation du statut de la connaissance impliqué dans le concept d' équivoque de l'anthropologue brésilien.
Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação (RESAFE)
Na primeira parte destaca-se que uma concepção acerca do ensinar-aprender filosofia remonta a uma filosofia determinada, a qual dá suporte ao método subjacente às práticas pedagógicas. Compreender o ensinar-aprender filosofia como exercício de habilidades cognitivas específicas, ou mera exposição das idéias presentes na História da Filosofia, ou debate de opiniões que remetem e se sustentam na linguagem comum, não deixa de consistir em uma falsificação do sentido mesmo de filosofia. O ensinar-aprender filosofia é um exercício racional na medida em que tensiona com a própria razão e propicia possibilidades inusitadas à compreensão das relações entre a racionalidade, a linguagem e o sentido do humano. Na segunda parte, após percorrer os esquemas da imagem dogmática do pensamento, observa-se que a história da filosofia e a história da ciência expressam uma permanente tensão, onde se põe em jogo o devir da linguagem e da razão. As chamadas habilidades cognitivas são assim incorporadas e...
Loading Preview
Sorry, preview is currently unavailable. You can download the paper by clicking the button above.