2020, Sobre Ontens
Cobo e José Toribio Polo descreveram os Uros como uma "raça torpe, nômade, de instintos ferozes que constantemente mudam de residência, preguiçosos". O próprio Loayza Obando [1972, p. 91], baseado em suas pesquisas, descreve os Uros como "gente de pouca reputação, por conta de não serem hábeis para o trabalho nem para a agricultura". Estes são índios Uros bárbaros, sem polícia, renegados, sem limpeza, inimigos da comunicação, e nada afeitos a nossa fé [...].Suas idolatrias são adorar ao sol e a esta lagoa, a quem fazem adorações de submissão, e lhe oferecem comidas de milho, pois eles sujam ao mesmo deus que adoram [CALANCHA apud CERRÓN-PALOMINO, 2016, p. 48, tradução nossa]. Cerrón-Palomino esclarece que os sacerdotes não logravam êxito em impor a religião cristã sobre os Uros e que os Aimarás, que os dominavam, não conseguiam explorá-los plenamente. No entanto, o autor deixa claro que os Uros possuíam boas qualidades. "São, pois, razões de poder e domínio que marginalizam os Uros, já que, quando apresentam alguma oportunidade, demonstram serem tão hábeis, ou melhor ainda que os seus próprios amos, em todas as atividades comunitárias" [CERRÓN-PALOMINO, 2016, p. 50, tradução nossa]. René Arce Vargas, autor da obra El Legado de los Urus, publicado na Bolívia, corrobora com a ideia do professor Palomino. Segundo Arce Vargas [2009], os Uros tinham a sua imagem denegrida ante os colonizadores devido ao fato de não aceitarem a suplantação da sua religião pelos europeus católicos. Podemos perceber uma insistência na literatura dos atores envolvidos na dominação colonial em desclassificar os Uros. No entanto, de acordo com Cerrón-Palomino [2016], posteriormente passou-se a construir uma nova imagem dos Uros, em revanche ao mito anterior tão degradante. Houve, portanto, uma guinada revisionista com relação aos Uros. Referências Aline de Almeida Hoche é mestre em História Política e professora de História das redes municipais de Niterói e Queimados. CANEN, Ana; OLIVEIRA, Ângela M. A. de. Multiculturalismo e currículo em ação: um estudo de caso. Revista Brasileira de Educação, n. 21. Rio de Janeiro, 2002. JUNIOR, Renato Nogueira dos Santos. Afrocentricidade e educação: os princípios gerais para um currículo afrocentrado. Revista África e Africanidades, ano 3, n. 11, novembro de 2010. diálogo com indicações já consolidadas no campo da Educação do ensino de arte, nos processos de subjetivação e socialização do indivíduo. Conclusões Diante dos inúmeros desafios possíveis ao tema, cabe destacar, conforme Adorno [1971, p. 287], que "a produção da cultura no capitalismo progressivamente se estabelece para o controle das relações humanas, vinculando-as aos interesses das massas sociais, aculturando-as pela insistente negação da possibilidade de produção cultural por si mesmas". Nesse sentido, a transformação da arte em mercadoria é símbolo da heteronomia cultural vigente na atualidade. É o mesmo que dizer que, quando a BNCC trata as culturas regionais/populares, as indígenas e afro-brasileiras como objetos estereotipados, nega-se veladamente a possibilidade do professor conduzir o processo educacional para que seus alunos identifiquem em si mesmos, o que há em todos nós de indígenas, africanos, mestiços e tantas outras origens. Logo, por esse motivo, a falta de identificação/representação simbólica e cultural com as raízes históricas pode tornar o currículo, como proposto na BNCC, um objeto um tanto asséptico em relação às contradições sociais vividas pelos alunos e professores, e ao mesmo tempo, tornando a Arte pouco autêntica, objeto passivo de reprodução, uma técnica alocada meramente ao ambiente da aula de Artes e claro, uma regressão individual daquilo que deveria resultar o ensino da Arte, ou seja, a autonomia e emancipação intelectual.