2018, Teoria & Cultura
Os resultados das últimas eleições são a manifestação mais aparente de amplas transformações na sociedade brasileira. Após anos de hegemonia da esquerda, há forte sensação de expansão da direita em diversos cenários sociais. O fenômeno não é apenas eleitoral, mas encontra repercussão nos mais diversos espaços, em amplo movimento de disputa da hegemonia que envolve dimensões estéticas, concepções religiosas e organizações da sociedade civil. A dificuldade de abarcar o fenômeno passa, justamente, por suas múltiplas expressões, resultado de diversas linguagens, espaços e temporalidades. O encontro de longevas práticas políticas brasileiras com heranças das escolhas da nossa redemocratização e recentes transformações na construção de atores políticos, para o que as novas tecnologias contribuem de modo central, delineia um mundo ainda em formação. Não é possível conhecer essas novas práticas recorrendo às tradicionais divisões disciplinares ou de forma restrita às fronteiras nacionais, já que se há, por certo, marcas nacionais em cada um dos grupos que, pela direita, ganharam destaque político em todo o mundo, são evidentes os vínculos globais do fenômeno. Alguns trabalhos individuais e esforços coletivos tem buscado enfrentar tal questão (CRUZ, KAYSEL, CODAS, 2015; CHALOUB, PERLATTO, 2016; MESSENBERG, 2017; CEPEDA, 2018; FERNANDES; MESSSENBERG, 2018). Ainda resta, todavia, grande número de questões, tanto passadas quanto futuras, a serem enfrentadas e investigadas com maior afinco. É importante destacar que a presença social cada vez mais forte da direita na cena política brasileira tem se realizado paralelamente a uma maior difusão, no plano cultural, das ideias conservadoras, mobilizadas e difundidas por diferentes intelectuais. E não se trata aqui apenas de uma intervenção mais destacada de intelectuais no debate público portando argumentos em defesa de uma agenda centrada na sustentação do liberalismo econômico, a exemplo de Gustavo Franco, Marcos Lisboa, Armínio Fraga e Samuel Pessoa, que ocupam lugar de destaque nos jornais e revistas de maior circulação do país com críticas duras às políticas desenvolvimentistas levadas à frente pelos governos do PT, críticas estas, ressalte-se, reverberadas em publicações recentes como Anatomia de um desastre, de Claudia Safatle, João Borges e Ribamar Oliveira (2016) e Como matar a borboleta azul, de Monica Baumgarten de Bolle (2016). O que se tem verificado ao longo dos últimos anos é um fenômeno ainda mais amplo, com características particulares, que se vincula a uma presença cada vez mais visível na esfera pública de intelectuais portadores de uma retórica mais virulenta, combativa e militante, e que se assumem abertamente de direita, a exemplo de Olavo