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TRABALHO E ESPERANÇA

Abstract

Há pouco ouvi alguém dizer que a cor da esperança é o negro... e essa afirmação me fez pensar. Ignoro quem o afirmou pela primeira vez, mas quem o repetiu parecia indicar que a esperança acompanha o movimento dos negros por sua afirmação, contra o racismo, essa terrível chaga que em nosso país, e em todo o continente americano-de Norte a Sul, também por toda parte, infelizmente, demonstra forte atualidade, por isso, aquela afirmação me pareceu correta já por esse significado. Mas talvez o autor da afirmação-de que a cor da esperança é o negro, tivesse também a intenção de sugerir que ela se esconde ou disfarça na escuridão do momento obscuro para, ao captar luz, brilhar. Pode-se também ver ali uma alusão à estrela, que brilha mais quando a noite é escura, sem luar. É por certo difícil falar de algo assim, que se esconde na sombra e aparece como por contraste. Talvez seja por isso que poetas e, às vezes, também, filósofos, a seu respeito abusam das metáforas e, para dizer esperança, nomeiam o amanhecer, a aurora, o nascer do dia, ou referem-se à luz que aparece no fim do túnel. Por tudo isso, está claro que sobre a esperança não podemos dizer nada como uma palavra completa, última, pois tateamos no território impreciso da luz do amanhecer, do lusco-fusco, no obscuro do momento presente. No século XX, o filósofo Ernst Bloch, sobre quem já falei muitas vezes e escrevi alguns textos de apresentação para o público leitor brasileiro, defendeu a importância e a força de realidade da esperança, como da utopia. Bloch meditou persistentemente sobre a história das utopias, construindo um sistema filosófico em torno da esperança, um sistema aberto, de erudição imensa, que se expõe num oceano de páginas de grande inspiração literária. E, ao longo de sua extensa obra, trabalhou um novo conceito de utopia, que presta reconhecimento aos sonhos humanos coletivos e atribui relevância