2017
Trabalhamos a hipótese de que a contemporaneidade seja marcada pela divulgação da perversidade. Esta divulgação culminaria no advento de um tempo fundado na evitação do risco: trata-se de uma antecipação marcada pelo horror. O que deve ou não ser feito passa a ser calcado na evitação. Para realizar o propósito de expor como se passa esta questão no âmbito da psicanálise e da comunicação, este artigo compreende três momentos: 1) de definição de perversão; 2) de explicitação de como o perverso se apresenta nos meios de comunicação de massa e, por fim, 3) de investigação de como esta divulgação repercute na criação do tempo marcado pela evitação do risco. Freud compreende a partir de Três Ensaios sobre a Psicanálise as perversões no mesmo âmbito das neuroses, sempre cuidando para humanizá-las ao invés de demonizá-las. Vinte anos depois, ao equiparar fetichismo e perversão, o criador da psicanálise considera que a formação do inconsciente se estrutura como forma de lidar com a metáfora paterna-no neurótico, a superação do Complexo de Édipo tornaria interna a castração, metáfora da lei; já no perverso, no modo como este repetiria cenas, se apresentaria, de algum modo, uma recusa da castração, o que redundaria no retorno da violência pulsional contra outrem. Na ótica de Freud, Dostoieviski teria sido capaz de protagonizar cenas de perversidade a partir de suas personagens. Trabalhamos, por fim, a hipótese também de, no perverso este Complexo não teria sido superado, de A recusa da metáfora paterna, isto é, da lei enquanto Outro, no caso do escritor, teria sido incorporada, por exemplo, na personagem de Stravoglim que em Os Irmãos Karamazov incarna o típico molestador de crianças. Esta pesquisa foi realizada com o apoio do CNPQ. 1