No Rio de Janeiro, em 14 de novembro de 2010, um jovem homossexual foi baleado por um militar em serviço, logo após a realização da Parada do Orgulho LGBT. Para analisar a homofobia e seus efeitos como processo de produção controlada de corpos e subjetividades no contemporâneo, foi necessário retornar à emergência do dispositivo da sexualidade a partir do século XVIII, conforme descrito por Michel Foucault, e o surgimento da categoria 'homossexual' no século XIX. Uma classificação psiquiátrica que identifica um 'tipo', com características próprias transformadas no fundamento de sua existência. As agressões que tomam homossexuais como alvos são punições, nomeadas de homofobia, funcionando na reafirmação das normas, sustentados por discursos que marcam alguns modos de existência como ilegítimos e anormais. Tal qual o militar que disparou contra um homossexual, a eliminação de corpos se dá em nome da vida saudável, em defesa da sociedade. A homofobia produz medo, que mata possibilidades, legitima pedidos por controle e disciplina, move economias, esvazia o espaço público, marca um sujeito como inimigo. Por conta do medo, o corpo-homofóbico, anormal, precisa ser localizado, controlado, destruído, para proteção do indivíduo-homossexual -desde que este seja adequado à diversas normas sociais. A violência torna-se questão individual e naturalizada, enquanto a eliminação sistemática das diferenças prossegue silenciosa. O medo é útil para o funcionamento do dispositivo da sexualidade.