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Prefácio ao livro de Tereza Rozowykwiat, “Arraes”, Recife, 2016, pp.1-6, 2016
Como demonstra Tereza Rozowykwiat na nova edição desta biografia, a carreira política de Miguel Arraes teve três etapas bem distintas. O período iniciado com sua eleição à prefeitura do Recife, derrotando os representantes urbanos do coronelismo e lançando o movimento popular que o elegeu governador de Pernambuco. Segue-se sua destituição do governo, a prisão de quase um ano em Fernando Noronha e o exílio de 14 anos durante a ditadura. E enfim, a volta triunfal no Recife, em 1979, que marcou o reinício de sua vida política em Pernambuco e no Brasil. Muitos homens políticos conhecem fases altas e baixas, nas quais anos de destaque se alternam com momentos amargos e solitários. Na França existe a expressão « a travessia do deserto », tirada do exemplo bíblico para designar um hiato numa carreira política. Mas a longa ditadura brasileira gerou muito mais que um hiato nas atividades dos políticos progressistas e democratas. Interrompendo a mobilização social irradiada a partir da renúncia de Jânio Quadros e do golpe parlamentarista que engessou a presidência de Jango, a ditadura iniciou uma repressão sem precedentes. Nunca ocorrera uma exclusão tão radical, com tantos perseguidos, demitidos, desprovidos de direitos políticos e exilados.
2009
Foi com um misto de alegria e receio que aceitei o amável convite das editoras, Vera e Maria da Conceição, para redigir a Apresentação deste número de Estudos da Língua(gem) e um texto sobre o seu homenageado. Alegria pela honra do convite para fazer o papel de "anfitrião" para os leitores, em uma revista que é tão nova e já parece tão consolidada, assumindo uma linha editorial fortemente enraizada na rica produção lingüística brasileira. O receio vem da segunda parte do convite: acompanhar a Apresentação, de uma homenagem ao Professor Aryon Dall'Igna Rodrigues, o veterano e o mais qualificado pesquisador brasileiro no campo das línguas indígenas. Aryon Rodrigues e eu temos alguma (pouca) coisa em comum, como o fato de sermos paranaenses e o fato de que, para ambos, o primeiro contato com aldeia foi entre os Kaingang. Mas, de algum modo, andamos nos 'desencontrando' pela vida e pela história. Ao que tudo indica, por nossas diferenças de idade. Aryon Rodrigues, paranaense da colônia Alexandra, cursou seu ginasial no Ginásio Paranaense, que viria a ser, tempos depois, o Estudos da Língua(gem) Pesquisas em Línguas Indígenas Estudos da Língua(gem) Vitória da Conquista v. 4, n .2 p. 13-19 dezembro de 2006
, nasceu em 26 de abril de 121 e foi imperador romano desde 161 até sua morte em 17 de Março de 180. Seu nome de nascimento é, na verdade, Marco Ânio Catílio Severo. Em seguida, tomou o nome de Marco Ânio Vero pelo casamento. Somente ao ser ser designado imperador, mudou o nome para Marco Aurélio Antonino, acrescentando-lhe os títulos de Imperador, César e Augusto. Aurelius significa "dourado", e a referência a Antoninus deve-se ao facto de ter sido adotado pelo seu tio e imperador Antonino Pio. O imperador Antonino Pio designou Marco Aurélio como herdeiro em 25 de Fevereiro de 138 (pouco depois de ele mesmo ter sucedido ao imperador Adriano). Marco Aurélio tinha, então, apenas 17 anos de idade. Antonino, no entanto, também designou Lúcio Vero como sucessor. Quando Antonino faleceu, Marco Aurélio subiu ao trono em conjunto com Vero, na condição de serem coimperadores Augusto. Não se sabe ao certo os motivos da sucessão conjunta, mas especula-se que pode ter sido motivada pelas cada vez maiores exigências militares que o Império atravessava. Durante o reinado de Marco Aurélio, as fronteiras de Roma foram constantemente atacadas por diversos povos: na Europa, germanos tentavam penetrar na Gália; e na Ásia, os partos renovaram os seus assaltos. Sendo necessária uma figura autoritária para guiar as tropas, e não podendo o mesmo imperador defender as duas fronteiras simultaneamente. Sendo assim, Marco Aurélio teria resolvido a questão enviando o co-imperador Vero como comandante das legiões situadas no Oriente. Vero era suficientemente forte para comandar tropas, e ao mesmo tempo já detinha parte do poder, o que certamente não o encorajava a querer derrubar Marco Aurélio. O plano deste último revelou-se um sucesso-Lúcio Vero permaneceu leal até à sua morte, em campanha, no ano 169. Marco Aurélio casou-se com Faustina, a jovem, filha de Antonino Pio e da imperatriz Faustina, a Velha, em 145. Durante os seus trinta anos de casamento, Faustina gerou 13 filhos, entre os quais Cômodo, que se tornou imperador após Marco Aurélio, e Lucila, a qual casou com Lúcio Vero para solidificar a sua aliança com Marco Aurélio. O imperador faleceu em 17 de março de 180, durante uma expedição contra os marcomanos, que cercavam Vindobona (atual Viena, na Áustria). As suas cinzas foram trazidas para Roma, e depositadas no mausoléu de Adriano. Diz-se que, com a morte de Marco Aurélio, também foi a morte da Pax Romana (paz romana), período de relativa paz, instaurado em 27 a.C. por Augusto César, no qual a população romana viveu protegida do seu maior receio: as invasões dos bárbaros que viviam junto às fronteiras. Porém, nem as misérias, nem as inúmeras calamidades que se desencadearam sobre o Império, nem as constantes lutas contra os bárbaros que incessantemente planejavam invadir, e invadiam, Roma, nem as desgraças familiares puderam debilitar aquela inteligência e aquela vontade presente no imperador. Essa é uma característica marcante nesse imperador-filósofo, que manteve sempre sua honra, sua bondade e seu senso de justiça. Em meio a tudo isso, Marco Aurélio escrevia reflexões pessoais para si mesmo, repletas dos mais altos códigos morais, aproveitando os momentos livres que lhe deixavam suas campanhas, como uma fonte para sua própria orientação e para se melhorar como pessoa. Provavelmente, ele não teve a intenção de publicar seus escritos, cujo título inicial foi Solilóquios, ou A mim mesmo. Os escritos apresentam bem as ideias estóicas que giram em torno da negação de uma emoção, de uma habilidade, que, segundo o imperador, libertarão o homem das dores e dos prazeres do mundo material. A única maneira de um homem ser atingido pelos outros seria se ele permitisse que sua reação tomasse conta de si. Marco Aurélio não mostra qualquer fé religiosa em particular nos seus escritos, mas parecia acreditar que algum tipo de força lógica e benevolente organizasse o universo de tal maneira que até mesmo os acontecimentos "ruins" ocorressem para o bem do todo. Posteriormente, foi intitulado, "Meditações" e é, com certeza, uma das mais célebres obras da humanidade.
Revista Convergência Lusíada, 2017
Este artigo analisa o prólogo que Garcia de Resende escreve para o Cancioneiro geral em 1516, comparando-o a outros prólogos de poesia cancioneril espanhóis e especialmente ao de Juan de Baena e ao de Hernando de Castillo. Abstract - This paper focuses the prologue that Garcia de Resende wrote in 1516 to his Cancioneiro Geral, putting in perspective other prefaces published in Spanish cancioneros, giving special attention do Juan de Baena's and Hernando de Castillo's prologues.
Revista Araticum
O objetivo deste trabalho é analisar o empreendimento memorialístico do dramaturgo brasileiro Plínio Marcos. Pretendemos abordar Figurinha difícil: pornografando e subvertendo (1996), seu livro de memórias, privilegiando seu aspecto político. Apresentamos as ideias do teórico francês Jean-Louis Jeannelle para apontarmos a especificidade e o funcionamento das memórias perante outras práticas da escrita íntima. Procuramos salientar o modo como a escrita do autor movimenta, celebra e afirma uma singular política de vida exaltando os afetos que o atravessam e a coletividade a que pertence. Para isso, trazemos para discussão teóricos e críticos como Philippe Lejeune, Gilles Deleuze e Suely Rolnik.
Resumo Este trabalho examina a técnica dos deslocamentos espaciais em Luciano de Samósata, recurso que lhe permite criticar os hábitos dos homens cultos de seu tempo e o leva a conformar diversas alotopias: o Hades, o Olimpo, a Ilha dos Bem-Aventurados, a lua e outros astros, a cidade em que todos são estrangeiros etc. Examina ainda a relação desses temas com as utopias propriamente ditas.
, nasceu em 26 de abril de 121 e foi imperador romano desde 161 até sua morte em 17 de Março de 180. Seu nome de nascimento é, na verdade, Marco Ânio Catílio Severo. Em seguida, tomou o nome de Marco Ânio Vero pelo casamento. Somente ao ser ser designado imperador, mudou o nome para Marco Aurélio Antonino, acrescentando-lhe os títulos de Imperador, César e Augusto. Aurelius significa "dourado", e a referência a Antoninus deve-se ao facto de ter sido adotado pelo seu tio e imperador Antonino Pio. O imperador Antonino Pio designou Marco Aurélio como herdeiro em 25 de Fevereiro de 138 (pouco depois de ele mesmo ter sucedido ao imperador Adriano). Marco Aurélio tinha, então, apenas 17 anos de idade. Antonino, no entanto, também designou Lúcio Vero como sucessor. Quando Antonino faleceu, Marco Aurélio subiu ao trono em conjunto com Vero, na condição de serem coimperadores Augusto. Não se sabe ao certo os motivos da sucessão conjunta, mas especula-se que pode ter sido motivada pelas cada vez maiores exigências militares que o Império atravessava. Durante o reinado de Marco Aurélio, as fronteiras de Roma foram constantemente atacadas por diversos povos: na Europa, germanos tentavam penetrar na Gália; e na Ásia, os partos renovaram os seus assaltos. Sendo necessária uma figura autoritária para guiar as tropas, e não podendo o mesmo imperador defender as duas fronteiras simultaneamente. Sendo assim, Marco Aurélio teria resolvido a questão enviando o co-imperador Vero como comandante das legiões situadas no Oriente. Vero era suficientemente forte para comandar tropas, e ao mesmo tempo já detinha parte do poder, o que certamente não o encorajava a querer derrubar Marco Aurélio. O plano deste último revelou-se um sucesso-Lúcio Vero permaneceu leal até à sua morte, em campanha, no ano 169. Marco Aurélio casou-se com Faustina, a jovem, filha de Antonino Pio e da imperatriz Faustina, a Velha, em 145. Durante os seus trinta anos de casamento, Faustina gerou 13 filhos, entre os quais Cômodo, que se tornou imperador após Marco Aurélio, e Lucila, a qual casou com Lúcio Vero para solidificar a sua aliança com Marco Aurélio. O imperador faleceu em 17 de março de 180, durante uma expedição contra os marcomanos, que cercavam Vindobona (atual Viena, na Áustria). As suas cinzas foram trazidas para Roma, e depositadas no mausoléu de Adriano. Diz-se que, com a morte de Marco Aurélio, também foi a morte da Pax Romana (paz romana), período de relativa paz, instaurado em 27 a.C. por Augusto César, no qual a população romana viveu protegida do seu maior receio: as invasões dos bárbaros que viviam junto às fronteiras. Porém, nem as misérias, nem as inúmeras calamidades que se desencadearam sobre o Império, nem as constantes lutas contra os bárbaros que incessantemente planejavam invadir, e invadiam, Roma, nem as desgraças familiares puderam debilitar aquela inteligência e aquela vontade presente no imperador. Essa é uma característica marcante nesse imperador-filósofo, que manteve sempre sua honra, sua bondade e seu senso de justiça. Em meio a tudo isso, Marco Aurélio escrevia reflexões pessoais para si mesmo, repletas dos mais altos códigos morais, aproveitando os momentos livres que lhe deixavam suas campanhas, como uma fonte para sua própria orientação e para se melhorar como pessoa. Provavelmente, ele não teve a intenção de publicar seus escritos, cujo título inicial foi Solilóquios, ou A mim mesmo. Os escritos apresentam bem as ideias estóicas que giram em torno da negação de uma emoção, de uma habilidade, que, segundo o imperador, libertarão o homem das dores e dos prazeres do mundo material. A única maneira de um homem ser atingido pelos outros seria se ele permitisse que sua reação tomasse conta de si. Marco Aurélio não mostra qualquer fé religiosa em particular nos seus escritos, mas parecia acreditar que algum tipo de força lógica e benevolente organizasse o universo de tal maneira que até mesmo os acontecimentos "ruins" ocorressem para o bem do todo. Posteriormente, foi intitulado, "Meditações" e é, com certeza, uma das mais célebres obras da humanidade.
Em cima da minha mesa, na redação do Jornal da Manhã, que Octávio Mendes Cajado dirigia, havia um livro, chegado minutos antes, que eu, na condição de cronista literário, devia ler e sobre ele opinar. Aproximando-se da velha secretária, desordenada e confusa, um colega de trabalho apanhou o volume, girou as páginas na ponta dos dedos, correu os olhos por uns tantos trechos e, em seguida, com certa displicência, se não desprezo, atirou-o em meio a folhas de papel, tesouras, giletes, vidros de goma arábica – parafernália muito utilizada pelo jornalismo de minha mocidade – e demais coisas esparramadas ao redor do minúsculo retângulo livre em que eu escrevia. Disse-me, então, com uma ponta de azedume e um ar de infinita sabedoria e experiência: – Com esse título, esse livro não vai fazer carreira. Pode ser ótimo, nem duvido que seja. O autor parece talentoso, tem bons diálogos, já o percebi num relance. Mas, preste atenção no que lhe digo: ninguém lê um romance com esse nome. Vai ser um fracasso, tome nota. O livro era O feijão e o sonho, de Orígenes Lessa. Nunca ouvi, em matéria de edição, vaticínio mais errado. O romance foi um êxito invulgar – mais invulgar ainda se se pensa nas limitadas condições intelectuais e editoriais da época na província de São Paulo. O primeiro êxito de um escritor, nesse tempo, era encontrar editor. Logo O feijão e o sonho arrebataria o prêmio Antônio de Alcântara Machado, da Academia Paulista de Letras, o primeiro que a instituição patrocinava. Não houve crítico ou colunista literário que a ele não se referisse. Mais: escapuliu, quase que imediatamente, da área da literatura, para invadir outros setores da informação jornalística. Artigos de fundo, sueltos, tópicos, comentários, reboques, leads, cabeçalhos de telegramas, manchetes do noticiário esportivo, notadamente o relativo ao futebol, ou alusivo à carestia, apareciam, nos jornais do tempo, em São Paulo e nos outros estados, com o título "O feijão e o sonho".
Ensaios sobre mario pedrosa, 2021
versão ampliada de SARABANDA PLEBEIA com ensaios sobre os EXILIOS de Mario Pedrosa
Vários dos capítulos enfeixados neste volume são daquela época e foram escritos quase "sobre a perna" no "bruaá" da redação, sob as exigências do jornal. Exigências de assuntos e de feitores, de não perder a oportunidade de esclarecer seu semelhante com a clareza, a boa vontade e o desejo de ser útil que havia em Luiz de Mattos. E, coisa singular: a linguagem dele é sóbria, apesar de descer a minúcias interessantes; persuasiva, sem desesperanças; pitoresca, rica e, quase diríamos, saudosa, ao evocar paisagens e fatos de seu velho Portugal; entusiástica e amiga, ao referir-se às nossas coisas ou ao nosso Brasil querido. Preferimo-los, em meio a milhares doutros capítulos, justamente por libertos daquele ardor combativo que marca a maioria de seus escritos e o tornou tão popular em seu tempo. É uma prova de como sua pena maravilhosa se comprazia em descrever aspectos e coisas numa linguagem pouco conhecida de seus numerosos admiradores, mas por eles, estamos certos, muitíssimo apreciada. Assim reunidos, esses artigos de assuntos tão díspares, dogmáticos, uns, descritivos e até humorísticos outros, têm a ligá-los, como um invisível traço de continuidade, aquele estilo vibrante e inconfundível do grande jornalista e doutrinador que foi Luiz de Mattos. Junho, 1946 OTHON EWALDO Como é sentida a Inteligência Universal Luiz de Mattos não foi somente o doutrinador do Racionalismo Cristão, ou o polemista ardoroso e destemido, tão discutido na sua época. Inteligência viva, servida por uma cultura geral, legou-nos também páginas de lídima literatura, muitas delas esparsas na coleção de A Razão e outras já enfeixadas em obras póstumas. A que vamos ler, é uma admirável descrição de cenas campesinas, impregnada de beleza agreste, a que a riqueza do vocabulário e o cunho realista emprestam singular colorido. Já em tempo nos coube a grata tarefa de dizer, pela imprensa, que a Inteligência Universal está em toda parte: 1) Porque é a força organizadora e incitadora de tudo quanto existe neste planeta e no Universo; 2) Porque é a fonte do bem, e, assim, da moral e de todas as virtudes humanas; 3) Porque o seu todo anima, movimenta e desenvolve os seres e as coisas; 4) Porque é a obreira, a artífice deste e dos demais planetas, e a força ou vida de todos os mundos; 5) Porque é Vida Universal; 6) Porque é incorpórea, e em todas as manifestações da vida ela se faz sentir; 7) Porque é a Força Universal, e tudo o que tem vida encerra uma sua partícula, embora diminuta. E porque assim é, e está em toda parte, a Inteligência Universal é sentida e compreendida bem claramente nas várias manifestações dos reinos da natureza, conforme a categoria de cada ser, o estado da sua matéria e o desenvolvimento dessas suas partículas na Terra. Em virtude desse racional princípio, é a Inteligência Universal sentida: No conjunto harmônico dos reinos da natureza, na formação e desenvolvimento de cada exemplar desses reinos e muito especialmente na incomparável grandeza da floresta brasileira, desde o coqueiro jiçara, vulgarmente denominado palmito, esguio e belo, e o imponente jequitibá, rei dessa floresta, à peroba, ao cedro, a todas as grandes árvores que se procuram desenvolver, crescer, subir, como a querer encravar-se na abóbada azulada do planeta, a procura de luz puríssima, que é abundante, forte e bela neste Brasil querido. É também sentida a sua suprema Força, no desencadear de fortes ventanias do quadrante sul e sudoeste, no desabar de tremenda tempestade de trovões e raios, coriscando no espaço e curveteando, ziguezagueando por entre mil lianas, folhas e troncos dos exemplares dessa floresta, especialmente na que cobre a Serra de Paranapiacaba e que, na sua encosta e vargedos, por oitenta léguas de extensão a seis, doze, dezoito e mais quilômetros de largura, de Angra dos Reis em diante, se ostenta como a mais imponente de todas, e depois, no cair tremendo de torrencial chuva, tocada por suestadas fortes, tudo arrasando e arrancando, pela base, na sua passagem. É ainda sentida dentro dessa imponente floresta verde-negra, no bramir das cachoeiras que, despenhando-se de setecentos e mais metros de altura, vão, no seu transbordamento volumoso, e rápida queda, trazendo árvores e penedos colossais até à várzea, formando caudaloso rio, sobre cujas revoltas águas, em ondulações encachoeiradas, se vêem passar inúmeros troncos de árvores seculares e animais imprevidentes, colhidos nos seus esconderijos e arrastados para essas correntes impetuosas, que se desenvolveram no planalto, cresceram, avolumaram-se e formaram força colossal na descida, até alcançar o lagamar e desaguar no oceano, ponto final de todos os rios. Após essa tremenda tempestade de vento, com trovões, raios, coriscos e chuvas torrenciais, é também observada e sentida a Inteligência Universal no clarear de tudo, no irradiar do Astro-Rei, o fecundador do solo, por sobre essa imensidade, a fazer rebrilhar-nas folhas das árvores, nos musgos, nos parasitas, dentre os quais se sobressai o guaraguatá, agarrado às rochas e nas belas folhas do cipó-imbé, até às verdenegras folhas aveludadas do caeté-as gotas de água que, após a tempestade, ali deixam a orvalhada da calma noite que a ela se seguiu, como se brilhantes fossem e, com eles, facetados e luminosos, ao serem irradiados pelos raios criadores e alentadores desse Astro-Rei. É ela sentida, aí, nesse meio imponente da natureza, após esse quadro belohorrível, tétrico, medonho, no raiar de uma manhã primaveril e no ciciar da brisa por entre as palmeiras altivas e em crescimento, por entre as mil lianas, troncos, folhas e flores, que aí se encontram e que, antes, foram açoitadas pela forte ventania de sudoeste, base da tempestade tremenda, mas purificadora e abastecedora dos regatos, córregos e rios, e pelo inebriante aroma das variadas orquídeas, trepadeiras e outras flores, no cantar dos pássaros, na alegria que os invade após o temporal que os fez passar noites em claro, transidos de susto, e dias horríveis, frios, pesados e cheios de fome. É ela também sentida nessa mesma floresta, assim grandiosa e bela, no veado mateiro, esbelto, vivo, pulador e corredor; na paca, toda chitada, couro sarapintado de branco; na esguia e sagaz cotia; no catete, no caetetu, ou queixada, em bandos, manadas ou varas; na capivara, alentada e medicinal; na anta ajumentada, dorso longo, pescoço curto e grosso, anca e lombo carnudos, tromba curta, mas terrivelmente dilaceradora, todas fora dos seus ninhos, das suas tocas e esconderijos, em procura das sevas, dos sítios das mais tenras e aromáticas pastagens, de melhores cocos e tubérculo que, em abundância, existem nessa grandiosa floresta. É ela sentida nas cavernas, onde o jaguar (tigre brasileiro) e a onça parda se encontram recolhidos, a amamentar a sua prole, a qual é por eles tratada com um zelo, um carinho, um amor por vezes superior ao do homem, sem educação da vontade, mesmo o das cidades, tidas por civilizadas; e mais claramente sentida é ela, quando esses filhos das selvas, denominados animais ferozes, saem, após a tempestade de chuva e vento, das suas cavernas, e vão à caça do macuco, do nhambu, do uru, da juriti descuidada, do tatu, da cotia, da paca, da capivara, do catete e caetetu, estes últimos perseguidos na cauda da manada ou vara, donde são arrebatados os exemplares que mais agradam aos perseguidores, sem o menor risco de ataque pelos que compõem a vara, os quais, seguindo sempre em frente, para o seu coqueiral ou frutal, não voltam atrás para libertar os companheiros das astutas e fortes garras de tão impiedoso inimigo. É ela sentida ali mesmo quando o estudioso botânico, o audaz vaqueano ou o corajoso caçador, na sua barraca armada à margem de um regato, ou no rancho de beira no chão, coberto com folhas da prestimosa e linda palmeira guaricanga, altas horas da noite, sem um raio de lua a clarear o recinto, embora bela na campina, ouve o rugir, o roncar aterrador, ameaçador, do jaguar, ou da onça parda, porque pressentiu nos seus domínios, no seu grande e belo mundo, o seu natural inimigo, o homem, rei dos animais, como ele próprio se inculca, acampado, tranqüilo, muito à vontade, muito senhor de si, como se estivesse em casa sua, em pleno domínio seu. Nesse roncar e rugir de fera orgulhosa do seu poder, da sua força e do seu direito; sente-se bem a manifestação de revolta e a ameaça dessa partícula da Força, antes meiga, carinhosa, verdadeiramente paternal, quando na caverna, ao lado da sua prole, dos seus filhinhos, e, assim, a manifestação, embora instintiva, da partícula inteligente, a provar ao homem como se ama e defende o seu natural direito e como se cumpre o dever, mesmo entre os seres mais terrivelmente ferozes da criação, que chegam ao ataque, à dilaceração de quem intente contra o mesmo direito e poder, contra a sua propriedade, os seus domínios, que são o corpo físico, para a sua depuração, a sua liberdade, os seus filhos e a sua floresta, que para eles é a mais bela, a mais rica, a mais grandiosa das propriedades da Terra. Em tudo o que aí fica, sente-se a Inteligência Universal, e se observa a sua força e grandeza nas diversas manifestações dos reinos da natureza, porém mais de perto ela se sente quando se trata do ser humano, sua partícula mais evoluída, como o leitor verá a seguir. Como a Inteligência Universal é ainda sentida e observada Além de ser a Inteligência Universal observada e sentida nos diversos reinos da natureza e, sobretudo, nas manifestações, embora simplesmente instintivas, de todos os animais, em plena floresta virgem, como ficou descrito no capítulo anterior, é ela também mais nítida, mais claramente observada e sentida neste planeta: Quando a criança nasce e solta o primeiro vagido, contraindo os lábios, as faces e os olhos, abrindo e movimentando as mãos e as pernas, como que protestando contra a violência da sua ligação, da sua prisão à matéria organizada, e como que querendo soltar-se dela, fugir e alar-se para o mundo de luz de onde veio,...
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Dos homens e suas ideias: estudos sobre as vidas de Diógenes Laércio, 2013
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, 2009
Revista O social em questão, 2023
Phoînix, 2015
Canteiro de Histórias: textos sobre aprendizagem histórica