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ANTEVISÃO E CONSUMAÇÃO DO APOCALIPSE INDÍGENA

2008

RESUMO: O objetivo deste trabalho é analisar o modo como a poesia indianista de Gonçalves Dias "representa" o contato entre os povos do Velho e do Novo Mundos. Filiando-nos aos estudos literários que assumem a relação dialética literatura-sociedade, que observa o modo como o referente social externo transforma-se em elemento interno das obras, faremos uma leitura dos poemas "O canto o piaga" e "Deprecação". Enquanto o primeiro faz um prognóstico da chegada dos europeus e da conseqüente destruição do mundo indígena, o segundo tematiza justamente a consumação da destruição, contrastando a realidade indígena antes e depois das ações européias. Procuraremos demonstrar que o contato entre os povos é descrito nas "Poesias americanas" como causador de resultados catastróficos para os nativos da América, considerados duplamente vítimas das atrocidades da colonização: tanto do genocídio físico, quanto do etnocídio cultural. Imbuída do espírito nacionalista de meados do século XIX, a poesia indianista de Gonçalves Dias expõe-se como uma tentativa de recontar a história da colonização a partir de um outro ponto de vista, o ponto de vista das vítimas, identificando-se não ao riso dos vencedores, mas às lágrimas dos vencidos. Dessa forma, em vez de desenhadas como heróicas, as ações dos europeus são enxergadas como atos de barbárie.