2018, Especulação sobre a luta de classes
Talvez um dos pontos mais polêmicos em torno dos processos da luta emancipatória se dê em torno da luta de classes. Os marxistas mais ortodoxos, herdeiros do movimento operário, empreendem críticas veementes a um conjunto de movimentos descentralizados, ditos pós-modernos, que se mobilizam em torno de questões que não tangem ao trabalho. E os movimentos ligados à classe trabalhadora que passam a incorporar as reivindicações de tais movimentos só o fazem de modo secundário, na medida em que o núcleo duro em torno do qual orientam suas lutas se dá pelas questões que tangem ao trabalho como predicado capaz de unificar as lutas descentralizadas. Frequentemente, os partidos de esquerda, os sindicatos, ou os pequenos coletivos "classistas" apreendem a luta de classes a partir de uma positivação da oposição entre capital e trabalho. Ou seja, a contradição imanente entre capital e trabalho se torna uma oposição extrínseca e exclusiva, na qual os interesses da classe trabalhadora acabam por ser colocados como reflexo do ser objetivo do trabalhador oposto em si ao capital. Assim, ao invés de se lutar pelo fim do trabalho alienado e produtor de valor, se luta pela criação de mais empregos, por salários "justos", redução da jornada, redistribuição do valor produzido, ou, nos casos revolucionários, pela construção de um Estado Proletário com uma economia planejada em "prol" do trabalhador. A luta de classes, assim, é concebida como a forma da afirmação de interesses antagônico de dois polos que, entretanto, são intrínsecos ao processo narcísico de auto valorização do valor e que, portanto, não existem um sem o outro: o interesse do trabalhador e o interesse do capitalista. Ao conceber a luta de tal forma, adiou-se para outros tempos a emancipação do trabalhador em relação à própria peste: o trabalho. É recorrente, desse modo, percebermos que o sujeito que os partidos socialistas visam representar e que é tomado como sujeito político por excelência é aquele sociologicamente identificado com o trabalhador assalariado e, mais frequentemente, com o trabalhador de fábrica, alienados do produto e do valor