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Sobre um problema chamado filosofia no Brasil

2019

A presente comunicação revisita o artigo “o problema da filosofia no Brasil”, de Bento Prado Júnior a fim de questionar a sua ancoragem conceitual. O artigo discute a ideia de “filosofia nacional” a partir dos exemplos ilustrativos dos pensamentos de João Cruz Costa e Álvaro Vieira Pinto. A crítica de Bento Prado visava evitar, no estudo da cultura nacional, os preconceitos do historicismo e do psicologismo, os quais o autor julgava inerente à reflexão sobre filosofia nacional realizada por aqueles seus dois conterrâneos. Desse modo, para Bento Prado, mantendo a reflexão filosófica presa a condicionantes empíricos particulares, a história e a cultura do Brasil, Cruz Costa e Álvaro Vieira estariam, anulando o ideal de universalidade que Bento Prado julga ser inerente à filosofia. Assim, a filosofia seria mera ideologia, não ascendendo ao estatuto de sistema, conceito pelo qual unicamente seria possível, na visão de Bento Prado, a formação da filosofia entre nós. A comunicação questiona justamente a noção de filosofia enquanto discurso sistemático e universal. Apontar-se-á que essa concepção implica uma razão filosófica imperialista, de um universalismo excludente, que se firma às custas da colonização ou do extermínio de outras formas de pensar. Concebendo a si mesma como descorporificada, essa razão reveste o corpo de uma valor pejorativo e anti-filosófico. Nessa medida, passa a utilizá-lo para desqualificar as formas de pensamento que não se adequam ao universalismo excludente. Mostrar-se-á esse procedimento na argumentação de Bento Prado Júnior: os pensamentos de Cruz Costa e Álvaro Vieira Pinto são desqualificados na medida em que eles são corporificados enquanto corpo-história local de uma cultura colonizada. Esse modo de pensar, ao identificar no pensamento brasileiro a presença de um corpo anti-filosófico, reforça a dependência cultural e intelectual em relação ao que vem de fora. Uma filosofia brasileira não será, então, possível enquanto não se abandonar a razão filosófica universalista.