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Medicina e Religião na História (Antiguidade e Idade Média)

2003, In C. P. Correia & J. P. S. Dias (Eds.), Assim na Terra como no Céu. Ciência, Religião e estruturação do Pensamento ocidental (pp. 205–232). Relógio d’Água

1 Medicina e Cristianismo na Antiguidade 1.1 Medicina e religião na Antiguidade Clássica. No século V, o teólogo Teodoreto (ca. 393-458) referia-se a um outro religioso como "estando adornado com a qualidade de padre e também com a arte racional da terapia" 1 , que aprendera em Alexandria e com a qual podia ajudar os doentes e combater doenças. Esta arte racional da terapia é a medicina greco-romana, dominada pelas teorias e de Hipócrates e Galeno, que foi utilizada como metáfora, estudada por várias figuras da Igreja e que se tornou parte integrante da sua tradição cultural até finais da Idade Média. A preocupação com a explicação racional da saúde e da doença em bases naturais nasceu com a filosofia grega e a sua busca de uma explicação da constituição da natureza. Esta ruptura com o pensamento mágico-religioso das sociedades urbanas pré-clássicas é tradicionalmente empolada por uma visão anacrónica e presentista da história, porque para os gregos a natureza não era distinta da divindade e os deuses faziam parte integrante do mundo natural. Alcméon (fl. 535 a.C.) foi o primeiro a caracterizar a saúde como um equilíbrio no corpo humano