2019, Revista Hypnos
Resumo: O artigo pretende destacar o papel da imagem na escrita de Platão que, para além dos estereótipos envolvendo os princípios a ele atribuídos, para criticar a representação, a imagem e os mitos, usando a representação no seu discurso, para impossibilitar a compreensão de uma teoria da representação. Nesse sentido, a República mostra-se como topos privilegiado para observar a profusão de imagens utilizadas por Platão ao longo de sua narrativa, justamente o que leva a propor que sua reflexão sobre a noção de representação é mimética. Palavras-chave: Platão; palavra; imagem; mímesis. Abstract: This article intends to highlight the role of images in Plato's writing, who allows himself, besides all the stereotypes involving the principles attributed to him, to criticize representation, image and myths by means of representation in his speech, so as to enable the understanding of a representation theory. Thus, the Republic presents itself as the privileged topos in which we can envisage the profusion of images used by Plato throughout his narrative. That allows us to set forth that his reflection upon the notion of representation is mimetic. Keywords: Plato; word; image; mímesis. [...] Lembro que Bernard Shaw disse que Platão foi o dramaturgo que inventou Sócrates, tal como os quatro evangelistas inventaram Jesus. Isso talvez seja ir longe demais, mas há nisso uma certa verdade. Num dos di-álogos de Platão, ele fala sobre os livros de modo um tanto depreciativo: "O que é um livro? Um livro, como uma pintura, parece um ser vivo; no entanto, se lhe perguntamos algo, não responde. Vemos então que está morto". Para fazer do livro um ser vivo, ele inventou-felizmente para nós-o diálogo platônico que se antecipa às dúvidas e perguntas do leitor. A imagem de Borges, faz referência a dois momentos específicos do Fedro, o primeiro na retomada da crítica ao discurso de Lísias: "Mas suponho que isto ao menos tu admitirias: todo discurso deve ser organizado assim como um ser vivo, tendo ele mesmo uma espécie de corpo, de modo a não ser desprovido de pé e nem de cabeça, mas ter partes medias e finais, escritas adequando-se umas às outras e também ao todo" (264c); o segundo na continuidade da crítica