2016
Este estudo se propôs, em seus objetivos, compreender a influência das ideias neoliberais na concepção de morte de fiéis de igrejas evangélicas neopentecostais, assim como apreender as representações da morte de evangélicos desse seguimento religioso. Método: a partir do método qualitativo, foram selecionados oito sujeitos evangélicos de ambos os sexos, com idade acima de 18 anos, que frequentam igrejas do movimento neopentecostal. Foi elaborado um roteiro de entrevista com o objetivo de apreender, através do discurso, os sentidos e significados que os sujeitos atribuem a morte. Os dados foram analisados a partir do referencial metodológico proposto por John Thompson (2000), denominado hermenêutica de profundidade, ocupando-se, primordialmente, da análise histórica e discursiva. Para analisar os dados utilizou-se a análise de discurso fundamentada por Orlandi (2009). A análise de discurso prioriza os sentidos e significados contidos nas expressões, seja verbal ou gestual, nesse caso, procura apreender os elementos históricos e ideológicos presentes no discurso. Esse trabalho adotou como pressuposto teórico os estudos de dois autores que contextualizam a morte a partir das formas com que esta foi concebida no decorrer da história da humanidade. Kovács (2002) trabalha a questão da morte como parte natural do desenvolvimento humano e destaca sua negação na sociedade atual; Ariès (2007), que estudou a atitude do homem ocidental diante da morte, desde a alta idade média até os anos 1970, aproximadamente. Os sujeitos foram selecionados por uma rede social de indicações e a abordagem foi feita por meio de contato direto e pessoal. No momento da entrevista o pesquisador entregou ao sujeito a carta de informação e esclareceu os objetivos, metodologias e procedimentos adotados pela pesquisa. Resultados: os resultados mostraram que: 1) evita-se a realização do velório no templo; 2) evita-se o assunto da morte com a família; 3) as crianças não participam dos velórios e enterros; 4) a morte apenas refere-se a “salvação”, passagem; 5) dúvida na existência de vida após a morte; 6) isolamento da morte, doentes não são visitados; 7) os pastores raramente participam dos velórios; 8) morte como punição pelos pecados; 9) a morte ganha um caráter mágico e romântico, no qual as virtudes do morto são exaltadas. Conclusão: os sentidos que o fenômeno da morte possui para esses sujeitos apresentam um caráter catastrófico, em que a morte é concebida como elemento invasor que interrompe uma vida de vitórias e conquistas. Em suma, os preceitos neoliberais, que norteiam as práticas neopentecostais, são atributos centrais dessas igrejas, o que explica a falta de ritualização da morte nos templos. O estudo revelou ainda que a morte perdeu seu caráter transcendental, passando a ser concebida como falha que deve ser corrigida pela ciência médica e pelas orações no templo. Palavras Chaves: Morte; representações sociais; neopentecostalismo