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O CAOS REVISITADO: A DIMENSÃO ESTÉTICA NA CLÍNICA PSICANALÍTICA

Abstract

Introdução: Pensar o afeto, afetar o pensamento. Quando pensamos em "estética", o saber filosófico e a arte que inicialmente seduzem à aventura teórica. Porém, nosso trabalho extrai uma concepção de estética na clínica, presente no laço transferencial do fazer analítico. Em psicanálise, consideramos que a estética é uma dimensão do ato de saber e fazer no reino da alteridade, a partir do qual se estabelecem novos critérios de classificação para as qualidades da experimentação afetiva e do pensar sobre o afeto. Mesmo que esse campo operacional, aparentemente, não pareça trabalhado conceitualmente por Freud, ela está, contudo, presente em sua obra de forma eloquente e mesmo decisiva para que seus conceitos teóricos tenham se erguido com tamanha qualidade inovadora (RANCIÈRE, 2001/2009). Para chegarmos à estética como dimensão na clínica psicanalítica, seguimos o rastro das concepções freudianas a partir de três eixos: 1) aqueles ligados à utilização dos mecanismos de deslocamento e condensação nas produções do inconsciente, tal como o sonho, os atos falhos, o brincar infantil e o humor; 2) a teoria da sublimação; 3) o terreno dos fenômenos ligados ao estranho e ao regressivo. Vamos nos deter nesse último para avançar em nossas hipóteses, considerando que a dimensão estética na clínica aponta para a presença e ação daqueles elementos que, por Freud, foram inseridos no conceito de "estranho" (FREUD, 1919/2010). Esses elementos indicam que existem traços e registros no psiquismo que escapam à tradução como representação verbal a partir do préconsciente, recorrendo em intensidade maior ao registro do figurativo e do analógico na captura do vivido.

Key takeaways

  • O estranho-familiar que inquieta ou a inquietante estranheza do que não é mais reconhecido (originalmente, em alemão, Das Unheimlich) pode envolver uma pessoa, uma impressão, uma palavra, uma vivência, um fato ou situação, uma memória que não sendo propriamente misteriosa provoca uma experiência de angústia, confusãoou mesmo terrore, no entanto, remonta àquilo que é desde há muito conhecido.
  • Do caminho que vai da poética à estética, é justo supor que isso que entendemos como "potência da obra" não se aplica apenas quando há representação e simbolização do "caos" pulsional, que deixam pistas para que o psicanalista vasculhe nos escombros e encontre o fio condutor que conduzirá a sessão.
  • Sendo assim, nossa investigação não tende a tomar a relação de Freud com a arte e, consequentemente, com a estética -como mero "acidente".
  • Não falta às consultas, três vezes por semana, e raramente se equivoca a respeito dos horários.
  • Assinalo: "não consigo te ouvir, não consigo entender o que você diz".