2019, Idem
Em 1973, na várzea de Alfeizerão, uma antiga lagoa completamente assoreada no século XVI, a nordeste da quinta Nova Esperança de Vale Paraíso, uma retroescavadora recuperou uma caverna de navio talhada “em trincado” na extremidade norte de uma vala de drenagem contígua da Vala Real, que a poucos metros lhe corre paralelamente para o oceano. A caverna ficou então guardada num armazém da quinta, que acabou por ser demolido, tendo-se-lhe perdido o rasto. Por felicidade, a notícia da descoberta chegara entretanto ao conhecimento do Eng.º geólogo Manuel Teixeira Pinto, residente em Alfeizerão, incansável andarilho e amante de antigualhas, que cautelarmente a mandou fotografar profusamente, o que incluiu as medições de todos os seus pormenores anotadas em papel vegetal sobreposto sobre cada foto – e que, pouco depois, foi informado de que um pequeno pedaço de madeira que se desprendera da extremidade de um dos braços da caverna, fora guardado como uma relíquia pelo filho do operador da retroescavadora, que imediatamente o disponibilizou para análise. Dois anos depois, nos finais de 1985, o autor, então director do MNAE e promotor de um projecto global na área do património arqueológico náutico e subaquático, ao tomar conhecimento da descoberta e da importante documentação fotográfica correlativa, mas sobretudo devido à importância do resultado da datação por radiocarbono do referido fragmento de madeira, que entretanto promovera (e que confirmou datar entre os finais do séc. X e os meados do séc. XII – ICEN-123), decidiu promover um conjunto de missões de prospecção no local da notável descoberta. A 1ª missão, consistiu na realização de sondagens lito-estratigráficas interpoladas, com sondas-goivas próprias para a recolha de amostras sedimentares, de 3 e de 6cm de diâmetro (esta dita Dachnowsy), na margem esquerda da vala de drenagem, nas imediações do local do achado, e ao longo de um transecto à largura da várzea, aproximadamente perpendicular à vala de drenagem, as quais permitiram conhecer com precisão a estratigrafia do local da descoberta, assim como da própria várzea. A 2ª missão foi uma prospecção por eco-sondagem de penetração sedimentar subaquática (sub-bottom profiler), realizada por uma equipa do Instituto Hidrográfico no troço norte da vala de drenagem, da qual resultou a detecção de uma anomalia eventualmente significativa. A 3ª missão, de sondagens por resistividade elétrica na faixa da margem esquerda da vala de drenagem, a sul da zona do tanque de drenagem, contígua do local da recuperação da caverna, acabou por se verificar irrealizável devido ao elevado índice de encharcamento do terreno. A 4ª e a 5ª missões, no mesmo local, foram realizadas por magnetometria de protões, com pleno sucesso, traduzido num vasto número de anomalias detectadas no subsolo. Desde então, estas anomalias não puderam ser caracterizadas, tanto pela complexidade das infraestruturas requeridas (aqui concebidas), mas também devido à persistente ‘crise existencial’ da arqueologia náutica e subaquática em Portugal, resultante da extinção in 2007 do Instituto Português de Arqueologia (IPA) e, implicitamente, do seu Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS).