2018, Revista Sul-americana de Ciência Política
Às vésperas de 2019, não seria exagero afirmar por ocasião da abertura do presente Dossiê, que as democracias liberais se encontram em uma crise sem precedentes, tanto no norte quanto no sul global. Extrapolando a discussão sobre o déficit de representação e o papel dos partidos políticos travada desde os anos 1990, as motivações para a agonia do modelo democrático hegemônico desde o final da Guerra Fria não são necessariamente encontradas no interior da política, provocando a Ciência Política a rever e reformular algumas de suas bases científicas enquanto disciplina autônoma. Uma delas está relacionada ao reconhecimento de que o fenômeno relacionado ao colapso das democracias liberais contemporâneas, seja no Ocidente imperial ou colonizado, encontra parte de suas origens em variáveis exógenas ao campo político e nacional per se, representando ao mesmo tempo um esgotamento dos discursos, identidades, sociabilidades, instituições, organizações e enquadramentos que lhe oportunizaram historicamente. A crise da democracia liberal talvez seja melhor compreendida como uma crise maior relacionada às profundas transformações sociais do mundo político, econômico e cultural.