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Revista 2i: Estudos De Identidade E Intermedialidade, 2021
Este artigo tem por base o livro Système de la mode (1967) que Roland Barthes consagrou à moda, fenómeno incontornável da vida social de meados dos anos sessenta do século XX, num tempo em que emergem várias revoluções. Interessamo-nos por investigar o tema à luz das suas análises e reflexões e, mais precisamente, o modo como este interage com a semiologia fundamentalmente aberta de Barthes. Atentamos em noções como texto, tecido, sentido e imaginário, e exploramos algumas implicações para a própria conceção da literatura (e do seu estudo) em Barthes, quer do ponto de vista da produção quer do da receção. No final, esta obra sobre moda oferece-se como esclarecedora de vários problemas tratados por Barthes ao longo do seu itinerário intelectual, e o mais vital de todos: a linguagem.
u deveria começar por interrogar-me acerca das razões que inclinaram o Colégio de França a receber um sujeito incerto, no qual cada atributo é, de certo modo, imediatamente combatido por seu contrário. Pois, se minha carreira foi universitária, não tenho entretanto os títulos que dão geralmente acesso a tal carreira. E se é verdade que, por longo tempo, quis inscrever meu trabalho no campo da ciência, literária, lexicológica ou sociológica, devo reconhecer que produzi tãosomente ensaios, gênero incerto onde a escritura rivaliza com a análise. E se é ainda verdade que, desde muito cedo, liguei minha pesquisa ao nascimento e ao desenvolvimento da semiótica, [pág. 07] é também verdade que tenho pouco direito de a representar, tendo sido tão propenso a deslocar sua definição, mal esta me parecia constituída, e a apoiar-me nas forças excêntricas da modernidade, mais próximo da revista Tel Quel do que das numerosas revistas que, através do mundo, atestam o vigor da pesquisa semiológica. É pois, manifestamente, um sujeito impuro que se acolhe numa casa onde reinam a ciência, o saber, o rigor e a invenção disciplinada. Assim sendo, quer por prudência, quer por aquela disposição que me leva freqüentemente a sair de um embaraço intelectual por uma interrogação dirigida a meu prazer, desviar-me-ei das razões que levaram o Colégio de França a acolher-me -pois elas são incertas a meus olhos -e direi aquelas que, para mim, fazem de minha entrada neste lugar uma alegria mais do que uma honra; pois a honra pode ser imerecida, a alegria nunca o é. A alegria, é a de reencontrar aqui a lembrança ou a presença de autores que amo e que ensinaram ou ensinam no Colégio de França: primeiramente, é claro, Michelet, a quem devo a descoberta, desde a origem de minha vida [pág. 08] intelectual, do lugar soberano da História entre as ciências antropológicas, e da força da escritura, desde que o saber aceite com ela comprometer-se; em seguida, mais E perto de nós, Jean Baruzi e Paul Valéry, cujos cursos segui aqui mesmo, quando era adolescente; depois, mais perto ainda, Maurice Merleau-Ponty e Emile Benveniste; e, quanto ao presente, permitam-me abrir uma exceção, na discrição com que a amizade deve mantê-los inominados: Michel Foucault, a quem sou ligado por afeição, solidariedade intelectual e gratidão, pois foi ele quem se dispôs a apresentar à Assembléia dos Professores esta cadeira e seu titular. Uma outra alegria me vem hoje, mais grave porque mais responsável: a de entrar num lugar que pode ser dito rigorosamente: fora do poder. Pois se me é permitido interpretar, por minha vez, o Colégio, direi que, na ordem das instituições, ele é como uma das últimas astúcias da História; a honra é geralmente uma sobra do poder; aqui, ela é sua subtração, sua parte intocada: o professor não tem aqui outra atividade senão a de pesquisar e de falar -eu diria prazerosamente de sonhar alto sua [pág. 09] pesquisa -não de julgar, de escolher, de promover, de sujeitar-se a um saber dirigido: privilégio enorme, quase injusto, num momento em que o ensino das letras está dilacerado até o cansaço, entre as pressões da demanda tecnocrática e o desejo revolucionário de seus estudantes. Sem dúvida ensinar, falar simplesmente, fora de toda sanção institucional, não constitui uma atividade que seja, por direito,
u deveria começar por interrogar-me acerca das razões que inclinaram o Colégio de França a receber um sujeito incerto, no qual cada atributo é, de certo modo, imediatamente combatido por seu contrário. Pois, se minha carreira foi universitária, não tenho entretanto os títulos que dão geralmente acesso a tal carreira. E se é verdade que, por longo tempo, quis inscrever meu trabalho no campo da ciência, literária, lexicológica ou sociológica, devo reconhecer que produzi tãosomente ensaios, gênero incerto onde a escritura rivaliza com a análise. E se é ainda verdade que, desde muito cedo, liguei minha pesquisa ao nascimento e ao desenvolvimento da semiótica, [pág. 07] é também verdade que tenho pouco direito de a representar, tendo sido tão propenso a deslocar sua definição, mal esta me parecia constituída, e a apoiar-me nas forças excêntricas da modernidade, mais próximo da revista Tel Quel do que das numerosas revistas que, através do mundo, atestam o vigor da pesquisa semiológica. É pois, manifestamente, um sujeito impuro que se acolhe numa casa onde reinam a ciência, o saber, o rigor e a invenção disciplinada. Assim sendo, quer por prudência, quer por aquela disposição que me leva freqüentemente a sair de um embaraço intelectual por uma interrogação dirigida a meu prazer, desviar-me-ei das razões que levaram o Colégio de França a acolher-me -pois elas são incertas a meus olhos -e direi aquelas que, para mim, fazem de minha entrada neste lugar uma alegria mais do que uma honra; pois a honra pode ser imerecida, a alegria nunca o é. A alegria, é a de reencontrar aqui a lembrança ou a presença de autores que amo e que ensinaram ou ensinam no Colégio de França: primeiramente, é claro, Michelet, a quem devo a descoberta, desde a origem de minha vida [pág. 08] intelectual, do lugar soberano da História entre as ciências antropológicas, e da força da escritura, desde que o saber aceite com ela comprometer-se; em seguida, mais E perto de nós, Jean Baruzi e Paul Valéry, cujos cursos segui aqui mesmo, quando era adolescente; depois, mais perto ainda, Maurice Merleau-Ponty e Emile Benveniste; e, quanto ao presente, permitam-me abrir uma exceção, na discrição com que a amizade deve mantê-los inominados: Michel Foucault, a quem sou ligado por afeição, solidariedade intelectual e gratidão, pois foi ele quem se dispôs a apresentar à Assembléia dos Professores esta cadeira e seu titular. Uma outra alegria me vem hoje, mais grave porque mais responsável: a de entrar num lugar que pode ser dito rigorosamente: fora do poder. Pois se me é permitido interpretar, por minha vez, o Colégio, direi que, na ordem das instituições, ele é como uma das últimas astúcias da História; a honra é geralmente uma sobra do poder; aqui, ela é sua subtração, sua parte intocada: o professor não tem aqui outra atividade senão a de pesquisar e de falar -eu diria prazerosamente de sonhar alto sua [pág. 09] pesquisa -não de julgar, de escolher, de promover, de sujeitar-se a um saber dirigido: privilégio enorme, quase injusto, num momento em que o ensino das letras está dilacerado até o cansaço, entre as pressões da demanda tecnocrática e o desejo revolucionário de seus estudantes. Sem dúvida ensinar, falar simplesmente, fora de toda sanção institucional, não constitui uma atividade que seja, por direito,
Resumo: Embora tenha dedicado muitos de seus textos ao teatro e escrito inúmeros ensaios sobre literatura, além de seu notório ensaio sobre fotografia, o interesse crítico e teórico de Roland Barthes pelo cinema é relativamente reduzido. Se, em entrevista à revista Cahiers du Cinéma, em 1963, Barthes afirmou ir ao cinema ao menos uma vez por semana, por outro lado, em " Ao sair do cinema " (1975), abre o texto dizendo que o seu prazer consiste em sair da sala de cinema. Tendo em vista a relação paradoxal de Barthes com o cinema, o objetivo desta comunicação é apresentar algumas ideias barthesianas sobre a sétima arte a partir do ensaio " O terceiro sentido " , dos textos de Mitologias que versam sobre o cinema, bem como de sua entrevista à Cahiers e do ensaio " Ao sair do cinema " .
O Percevejo Online, 2011
Tradução de Isabel Tornaghi Resumo Essa entrevista apresenta alguns aspectos centrais do trabalho da diretora Anne Bogart com a SITI Company, tais como o papel da composição no processo de criação e o lugar da improvisação. Discute-se ainda a relação entre a arte e a ciência, o interculturalismo e a interdisciplinaridade. Anne Bogart analisa a estreita relação entre o ensino, a pesquisa e a criação artística, situando seu trabalho em um contexto histórico. Palavras-chave | Anne Bogart | improvisação | composição | interdisciplinaridade | interculturalismo ISSN 2176-7017 2 Volume 02-Número 02 -julho-dezembro/2010 Imagem 1: Anne Bogart. Foto: Michael Brosilow. Matteo Bonfitto: Em que nível a composição é explorada durante os ensaios das peças dirigidas por você? Anne Bogart: Ah, no começo. Em outras palavras, é a maneira de começar. Porque para você começar, você tem algumas ideias, […] você imagina qual o universo da peça. O que eu faço é chegar no início do processo de ensaio com toneladas de material de pesquisa, como todo mundo faz. E eu falo cada ideia que já pensei, todas elas, toda mera noção, cada ideia estúpida ou boa -basicamente, é "botar tudo para fora". A partir desse momento, o trabalho de composição vira uma maneira para os atores, e às vezes para a equipe técnica também (cenógrafo, figurinista, iluminador), começarem a fazer o seu trabalho; não necessariamente "na ordem" da peça, mas para perceber as ideias e começar a criar um mundo usando tempo e espaço -de modo que é cedo, é principalmente no início. É um tipo de trabalho de base. É um modo de dizer: -"aqui temos muitas ideias intelectuais; como fazer para transformá-las em teatro, em ideias poéticas?" Portanto, é um uso muito prático. MB: Ok. Que tipo de materiais você usa nesse processo de composição? AB: Depende do projeto, por exemplo, eu estava trabalhando nas fotos do Hotel Cassiopéia, que é sobre o artista norte-americano Joseph Cornell. Não sei se você conhece a obra dele, ele fazia trabalhos em pequenas caixas. Então, você literalmente pega os objetos com que ele trabalharia, ou adereços, ou pedaços de textos que talvez você esteja pensando em usar... Ou talvez eu dissesse: -"como se faz para cair sem bater no chão?
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BARD - DE CRITÉRIO TÉCNICO A RECURSO HONORÍFICO, 2023