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HEINER MÜLLER E A INVOCAÇÃO DA ESTRANGEIRA

Abstract

Inserido no contexto da história da imigração e suas escritas, o presente trabalho tem por objeto a releitura de Heiner Müller para um dos mitos originários da estrangeiridade. Ao retomar na década de 1980 a história de Medéia, a estrangeira primordial, o dramaturgo e poeta alemão reafirmou naquele momento a presença do mito da feiticeira da Cólquida, personagem trágica que contem em si todas as modificações identitárias inerentes ao atribulado processo de imigração, que é permanentemente acossado por ondas de xenofobia e violência. Passados trinta anos de sua escritura, o texto de Müller, Margem Abandonada Medeamaterial Paisagem com Argonautas, com sua "forma difícil", parece não ter perdido sua força haja vista seu potencial desestabilizador da hegemônica lógica cultural do capitalismo tardio. Publicada no ano de 1982, a peça Margem Abandonada Medeamaterial Paisagem com Argonautas, de autoria do poeta e dramaturgo alemão Heiner Müller, falecido em 1995, foi construída a partir de fragmentos escritos em anos anteriores, como, aliás, nos informa o próprio autor em sua autobiografia publicada em 1992 (MÜLLER, 1997, p. 232). Percorrendo um largo espectro de tempo, indo do pós-guerra até a década de 1990, quando se deu a queda do muro de Berlim e a posterior reunificação da Alemanha, a obra de Müller tratou dos dilemas vividos pela então República Democrática Alemã (RDA) e a complexa relação com sua contrapartida capitalista, a República Federal da Alemanha (RFA).