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Quando o escritor é anfitrião da própria cidade

2017, De volta ao futuro da língua portuguesa Atas do V SIMELP - Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa

Escrivães de bordo de um metafórico navio-cidade, tal como no último livro de José Cardoso Pires, Lisboa, livro de bordo: vozes, olhares, memorações; peregrinos anónimos, de passagem pela capital de um país cuja geografia corresponde a um mapa interior, como o viajante de Saramago, protagonista de Viagem a Portugal; passageiros de um automóvel modernista, como o apressado turista guiado por Fernando Pessoa em Lisbon: what the tourist should see; substancialmente viandantes, como o Piéton de Paris de Léon-Paul Fargue. Estes são apenas alguns exemplos de escritores que dedicaram às suas próprias cidades (de origem ou de adoção, mais ou menos profunda) textos que não são obras de ficção, em que o universo urbano não é usado apenas como um cenário ao serviço de uma qualquer trama narrativa, mas onde este último é a própria trama, uma rede de signos e uma personagem com um estatuto igual a quem, como o escritor, está empenhado em traçar o seu próprio percurso, feito de memória e sentimento.