“Amas Machado de Assis?... esta inquietação me melancoliza.” Mário de Andrade traz esta indagação logo no primeiro parágrafo de seu texto sobre o autor em Aspectos da Literatura Brasileira. O texto de Andrade foi escrito em celebração ao centenário do autor e destaca as contribuições de Machado enquanto romancista, poeta, contista e cronista; além de discutir as posições ideológicas e o papel do autor na sociedade letrada oitocentista. O texto, espécie de exaltação melancólica da carreira de Machado de Assis, será ponto de partida para a reflexão sobre os aspectos que contribuíram para a canonização de Machado de Assis A compreensão do complexo processo de canonização começa com o estudo das escolhas literário-comerciais feitas por Machado de Assis ao longo da vida, enfatizando a sua longa relação com o livreiro B. L. Garnier. Destacam-se também suas contribuições para a crítica literária, com especial atenção aos textos “Ideal do crítico” e “Instinto de Nacionalidade”. No primeiro, Machado discute o papel do crítico naquele período, propondo que a crítica feita deveria seguir determinados preceitos, deixando de lado intrigas e amizades. “Instinto de nacionalidade” propõe uma reflexão sobre o estado da Literatura Brasileira, colocando em xeque a contribuição que o excesso de obras que tratavam da “cor local” para a consolidação da literatura no país, propondo a ideia de que era possível escrever obras que se detivessem na análise de caracteres. Segundo Machado de Assis, só a crítica fecunda poderia contribuir para a consolidação da Literatura Brasileira. Considerando que o processo de canonização depende da aceitação – ou não – pelos pares, assim como de instâncias de consagração que reafirmam a posição central de Machado de Assis no campo literário brasileiro, será necessário levar em conta para esta singela reflexão os textos de crítica do próprio Machado, de seus contemporâneos, e de críticos atuais.