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2017
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Comento como a obra de José Geraldo Vieira, com o auxílio de Francisco Escorsim, nos revela a importância de recuperamos nosso "senso histórico", e os desafios envolvidos. Meados de 2017
O que é mais doloroso: não conseguir esquecer ou não conseguir lembrar? Não sei. Eles não sabem, mas eu sei que ele se lembra de uma parte considerável, uma parte enorme, quero dizer, do que viveu quando criança. Na verdade, não consegue se esquecer dessa memória absoluta na falta quase total de lembranças. Quase tudo lhe escapa. Algo lhe sobra. Sabe, às vezes, que está sozinho nesta clínica, que chamam de casa de repouso e até mesmo de Jardim da Melhoridade, e que daqui não vai sair. Só no caixão. Um caixão pelo qual anseia, quando se lembra quem é, embora não tenha um só conhecido para segurar as suas alças. Ouço conversas sobre o seu estado de saúde. Em seguida, tudo se apaga e tudo se ilumina num tempo inesquecível. O tempo dele. Sim, eles sabem que ele se lembra obsessivamente do seu passado, faz parte, por assim dizer, dessa doença nojenta, numa das suas etapas, acho que são três, pelo que li, mas não se interessam por suas lembranças, essas memórias que ele vomita até se estafar e morrer. O sono para ele é como uma morte bem-vinda que custa a acontecer. A sua vida agora se resume a vegetar no excesso de uma lembrança, que lhe vem como uma golfada de vômito, e no esquecimento. Aos poucos, vai perdendo as palavras. Quando chegou aqui, havia uma beleza triste, quase trabalhada, na história que repetia sem parar. Era um velho estranho que falava como um livro e revirava os olhos.-Se me faço entender-repetia. * Ele pode contar dez vezes a mesma parte da história. Por vezes, é silenciado com um sonífero. Então, se apaga como uma planta que murcha respirando, pela janela, a poluição da nossa rua, disso que chamam de nosso * Vez ou outra ele fala dos seus livros, que ninguém conhece. Eu mesmo os procurei em livrarias e em bibliotecas. Nenhum rastro. Deve ser uma fantasia. Deve ter querido ser escritor nalgum momento da vida. Hoje ouvi os médicos conversando sobre o caso dele. Consideram que ele pode durar até uns dez anos perdido no seu nevoeiro. É incrível o quanto não se importam de falar na minha frente. Quantas expressões já ouvi a seu respeito: velho navio abandonado, carcaça falante, memória atrofiada, papagaio de uma nota só, coisas assim. Quem vai se importar com suas histórias, ou, melhor, com sua história, sempre a mesma, infinitamente repetida, contada a partir de algum ponto sem que eu consiga descobrir o critério? De repente, recomeça. Às vezes, do momento em que vai buscar seu cachorro. Outras, de quando encontra o potrinho. Outras, ainda, enquanto pedala. Sim, tenho a impressão de que ele se sente pedalando. Há muita sujeira na sua fala, um emaranhado de cacofonias, de restos, de redundâncias, de cacos que vou retirando lentamente. Tenho tempo. Eu me sento ao seu lado e isso funciona para ele como uma senha. Começa a falar. Está sempre com frio. Cobre as pernas com uma manta branca que lembra a pele de um cordeiro. Usa um casaco de lã cinza com os cotovelos desgastados. Tenta não perder as pantufas marrons que lhe protegem os pés hesitantes quando se arrasta até a poltrona onde desaba. Tem uma voz metálica escandida. Nos últimos meses, vem perdendo poder de articulação. As palavras já não lhe saem tão claras. Em certas situações, uma palavra lhe escapa e ele fica com os lábios trêmulos e os olhos perdidos rodando no vazio a sua busca desesperada por uma luz. Implora por uma ajuda que não dou. * * * * Não me foi fácil reconstruir essa passagem. A digressão sobre a casa do João-de-Barro encheria umas duzentas páginas. Devo reconhecer que, sem as hesitações e esquecimentos, o relato teria certa beleza, quase uma prosa
Rua, 2020
Haunted places are usually associated with the psychic effects of collective fears and traumas. According to Michael Mayerfeld Bell, Tim Edensor and Yi-Fu Tuan, the concepts of place and space are essential to understand how the cultural memory attached to one place operates in the creation of legendary, literary, and mythical accounts of History. The present study examines historical, literary and sociological aspects of the idea of space in public and private memories, focusing on the works of Gilberto Freyre, Jayme Griz and Pedro Nava. The aim of this paper is to expose that ghost stories are shared mental representations in response to the past and a complex cultural heritage that unites possible interpretations of the meaning of a fact to the symbolic value of places, combining many discourses.
Brasil/Portugal. Diálogos sobre literatura, 2022
O artigo aborda práticas de leitura e escrita na Bahia colonial, centrando-se no caso do jovem poeta luso-baiano Bartolomeu Fragoso, condenado pela Inquisição na Bahia em 1592, e na leitura proibida, e musical, do livro La Diana, de Jorge de Montemor.
Revista Brasileira de História, 2003
O objetivo deste artigo é analisar o uso da memória pelas Ciências Sociais a partir da investigação de fontes orais e escritas. Ao longo do trabalho, serão consideradas cinco narrativas sobre o assassinato de um lavrador da Ilha Grande por um grupo de presos que havia fugido do Instituto Penal Cândido Mendes (IPCM). Além disso, são objetos de análise a notícia sobre o caso que aparece na imprensa e o relatório oficial sobre a fuga dos presos encaminhado pelo diretor da penitenciária ao diretor-geral do Departamento do Sistema Penitenciário (DESIPE). Em que pese a diferença entre os relatos apresentados, procurar-se-á mostrar que as memórias relacionam-se a perspectivas e códigos existentes entre grupos de pertencimento e que elas podem fornecer dados importantes sobre contextos, processos e conflitos sociais que fazem parte da vida dos diversos narradores do caso em questão.
Miguilim - Revista Eletrônica do Netlli
Este trabalho preocupa-se em tecer pontos de contato entre a narrativa da obra A Ladeira da Memória (1977 [1950]) com as figuras evocadas pelo plano de fundo temporal e espacial aludidos, a Segunda Grande Guerra e o locus no qual as personagens transitam. Preocupa-nos, neste trabalho, também, o embate entre o sentimento particular da Miguilim-Revista Eletrônica do Netlli | v. 10, n. 4, p. 1535-1545, nov.-dez. 2021 personagem principal, Jorge, versus o sentimento do mundo trazidos à tona em seu romance com a personagem Renata; de tal maneira, buscamos investigar como os contatos entre experiência pessoal e experiência coletiva são tratados na ficção de José Geraldo Vieira, nesta que é a obra mais conhecida do autor brasileiro. Baseamo-nos, sobretudo, no aporte teórico de Erich Auerbach (1977) ao investigarmos como as recorrentes figuras costuram as tensões da narrativa; e, também, na teoria do romance, com foco na problemática do herói moderno de Georg Lukács (2000).
Revista NUPEM, 2024
Os livros biográficos, no Brasil, representam um lugar privilegiado para as histórias de vida de pessoas conhecidas ou anônimas. Temos como objetivo, portanto, neste artigo, refletir sobre o processo de produção das biografias de João Gilberto e Caetano Veloso, ambas escritas por jornalistas, a partir de dois operadores metodológicos, que são a memória e o testemunho. A análise das obras, tendo como referência esses operadores, nos possibilitam indicar que o jornalismo testemunhal amplia as temporalidades do campo, antes visto especialmente pela lógica do tempo presente, e passa a ser também um poderoso agente de memória cultural.
'Estou a tentar explicar o que consiste escrever, ter um determinado estilo. É preciso que isso nos divirta. E para nos divertir torna-se necessário que a nossa narração ao leitor, através das significações puras e simples que lhe apresentamos, nos desvende os sentidos ocultos, que nos chegam através da nossa história, permitindo-nos jogar com eles, ou seja, servir-nos deles não para os apropriarmos, mas pelo contrário, para que o leitor os aproprie. O leitor é, assim, como que um analista, a quem o todo é destinado.' Jean Paul Sartre A História é feita com o tempo, com a experiência do homem, com suas histórias, com suas memórias. Bem sabemos que a profissionalização do Magistério, pela qual tanto lutamos, não acontecerá de uma hora para outra, sem investimento na melhoria das condições de trabalho e da formação profissional dos educadores 1 e sem um processo de transformação da cultura predominante, de velhas idéias, de práticas cristalizadas. Mas sabemos também que, diante do muito ainda a fazer, toda conquista tem seu valor e será sempre bem-vinda. Para a nossa merecida alegria, cada vez mais, os profissionais da educação são reconhecidos como protagonistas das mudanças das quais depende a construção de um novo tempo para o Magistério. A perspectiva da formação de profissionais reflexivos, que vem se consolidando como uma tendência na comunidade educacional, ao mesmo tempo reflete esse reconhecimento social e contribui consolidá-lo. É nesse contexto que a valorização da escrita dos educadores ganhou lugar. Afinal, se é necessária a reflexão sobre a prática profissional e se escrever favorece o pensamento reflexivo, a conclusão acaba por ser inevitável: a produção de textos escritos é uma ferramenta valiosa na formação de todos. Entretanto, para além dos ganhos individuais que a escrita reflexiva favorece, há um aspecto político de igual ou maior relevância: a publicação dos textos produzidos pelos que fazem a educação deste país – narrando suas experiências, revelando suas idéias, refletindo sobre o que fazem – na verdade é uma conquista de toda a categoria profissional. Quando os educadores tornam públicos os seus textos, todos ganhamos. Até bem pouco tempo, os textos produzidos por professores, coordenadores pedagógicos, diretores e formadores geralmente eram resposta a exigências de natureza institucional e tinham uma publicação bastante restrita: circulavam nas próprias escolas de origem e em alguns ambientes acadêmicos – quando esse tipo de escrita é tomado como objeto de pesquisa, o que, muitas vezes, implica, inclusive, a omissão da autoria dos textos, sejam orais ou escritos. Ou seja, na prática, a escrita dos educadores não era de fato valorizada como uma produção legítima, que veicula os saberes produzidos no exercício da profissão e que, por isso, merece ser publicada, divulgada, tomada como subsídio por outros profissionais. Lentamente – muito lentamente ainda, mas de forma animadora – uma nova situação se anuncia. Por um lado, em alguns círculos acadêmicos, já se questiona a omissão da autoria das falas e dos textos escritos 1 Neste artigo, utilizamos o termo 'educadores' como sinônimo de 'profissionais da educação'.
Mirabilia Revista Eletronica De Historia Antiga E Medieval, 2012
Resumo: O presente artigo analisa a presença do milenarismo na obra de Joaquim de Fiore (1132-1202) e na de Padre Antônio Vieira (1608-1697). Em um primeiro momento, mostra-se que não há propriamente um milenarismo na obra joaquimita, e que o milenarismo imputado ao abade calabrês provém dos franciscanos espirituais, dos jesuítas e de alguns textos anônimos atribuídos indevidamente a Joaquim. Com base nisso, em um segundo momento, relativiza-se a ligação entre Vieira e Joaquim, tendo em vista que, além de este último não ser milenarista, o jesuíta português não baseou suas teses proféticas nas obras autênticas do abade. Daí que o milenarismo vieiriano, muitas vezes associado ao abade, seria proveniente dos círculos joaquimitas e de alguns textos pseudojoaquimitas.
O artigo discute a produção dos memorialistas grapiunas, nestes considerados os intelectuais da região cacaueira que se dedicaram a produzir um conhecimento sobre a história regional, mas que não possuem formação acadêmica em História. A metodologia empregada centra-se na análise bibliográfica voltada à produção de revisão literária.
Diálogos, 2019
A recuperação da memória histórica em escritos biográficos e autobiográficos já não está mais restrita a um campo de pesquisa exclusivo. Autores como Georges Bataille, John Hersey e Beatriz Sarlo perscrutaram as correlações entre História e memória na literatura, avaliando questões éticas e de natureza social. A partir de tais estudos, este artigo comenta alguns excertos de Assombrações do Recife Velho (1955), do sociólogo Gilberto Freyre e Baú de ossos (1972), do memorialista Pedro Nava. O objetivo é expor como elementos ficcionais e históricos se articulam nessas duas obras. Palavras-chave: literatura, ficção, memória, história.
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Arquivos Brasileiros De Psicologia, 2012
Amazônica - Revista de Antropologia da Universidade Federal do Pará, 2019
Matraga - Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ, 2022
O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira, 2007
Percursos Linguisticos, 2014
R@u. Revista de antropologia social dos alunos do PPGAS-UFSCar, 2019
Gilberto Freyre e Fidelino de Figueiredo, 2011
REVISTA DE LETRAS - JU�ARA
Anais do IV Congresso Norte-Nordeste da Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa (ABRAPLIP). Manaus: UEA Edições, 2012., 2012
Filologia e Linguística Portuguesa