No âmbito da unidade curricular Cidade e Centro Histórico do mestrado em Património Cultural da Universidade, decidimos abordar o centro histórico da cidade de Braga, quer por uma questão de proximidade geográfica e social, quer pela riqueza e diversidade histórica e arquitetónica da mesma devido ao longo período de ocupação urbana e ao facto de o seu desenvolvimento ter sido lento. Para tal, recorremos a fontes diversificadas, tais como as fontes arqueológicas que chegaram até nós nos dias de hoje, fontes iconográficas e cartográficas existentes, fontes escritas histórico- documentais (livros e publicações académicas) e o próprio edificado e ordenamento urbano atual. Tentámos abordar todas as áreas do saber que estão intrinsecamente ligadas à história das cidades, interligando a antropologia, a sociologia e a geografia com a arqueologia, a arquitetura, a história da arte, o urbanismo e até o direito e a economia. Como as variáveis que influenciam o desenvolvimento de uma cidade (ou a falta dele) são inúmeras, as cidades nunca são iguais. Mas há um fator em que são semelhantes: as cidades são lugares onde se concentram elites e onde aqueles que as servem também moram. No nosso caso de estudo, a Igreja, os arcebispos, os cónegos, influenciaram marcadamente o desenvolvimento da cidade. Por outro lado, praticamente todas as cidades históricas europeias, excetuando as de génese industrial, passaram por 4 períodos preponderantes no seu desenvolvimento: a cidade romana, a cidade medieval, a cidade moderna e a cidade contemporânea. Isto faz das cidades históricas, e também da cidade de Braga, um complexo «palimpsesto repleto de marcas físicas que foram sendo inscritas no plano da cidade ao longo da sua ancestral história ocupacional».2 Mas a noção de cidade foi-se alterando ao longo dos tempos. Na antiguidade grega, Aristóteles definiu a pólis como sendo o Estado e vice-versa. No período medieval, Afonso X, no século XIII, considera que uma cidade só o é se existerem muralhas a defendê-la. Na Europa renascentista começam a circular tratados de urbanismo, em busca de uma cidade racional, baseados essencialmente no de Vitrúvio, da Roma Clássica, que favoreciam uma cidade organizada segundo uma grelha ortogonal com uma praça central onde os edifícios mais importantes podiam ser encontrados (Portocarrero, 2010: 16). Cantillon, no século XVIII, definiu a cidade barroca como a residência senhorial, consumista e luxuosa (Chueca, Goitia, 1996). Os centros históricos são, ainda hoje, centros polarizadores de diferentes dinâmicas sociais e estão repletos de edifícios emblemáticos dos quais os seus habitantes se orgulham de preservar. A importância da preservação e revitalização dos centros históricos foi reconhecida em vários documentos internacionais, dos quais destacamos a Recomendação de Nairobi. Nela é determinado e aconselhado, que a conservação destes autênticos testemunhos culturais devem fazer parte das prioridades dos governos e cidadãos. Falar de Braga não é falar de uma cidade mas sim de várias, tantas foram elas que ocuparam esta geografia. Daí o título que escolhemos para este trabalho: Braga é uma polipólis, no sentido em que albergou várias cidades. Abordámos as fases que mais marcaram a história e o desenho urbano da cidade, começando pelos bracari, passando pela Bracara Augusta, a Braga medieval, a Braga Barroca e o surto demográfico do século XX.