O papel dos Princípios de Economia, obra magna de Alfred Marshall, foi proeminente no processo de consolidação da revolução marginalista e posterior hegemonização da teoria neoclássica na ciência econômica. A escola neoclássica moderna inclui em seu corpo explicativo diversas formulações originadas em Marshall, em alguns casos na forma quase original, em outros com maior grau de formalização matemática ou desenvolvimento teórico. Destarte, a crítica à obra marshalliana é necessária não somente para fazer uma genealogia das ideias dominantes, mas igualmente para perceber que as polêmicas e problemas centrais das formulações modernas também se apresentam nas origens do seu desenvolvimento, não sendo, portanto, resultado meramente de formas que a teoria assume ao longo do tempo, mas sim de sua fundamentação ontológico teórica ou, poderia dizer, de sua teoria do valor. É a partir desse pensamento que coloco, como objetivo principal deste trabalho, realizar uma crítica ontológica da teoria do valor marshalliana, desenvolvida nos Princípios, e, ao mesmo tempo, a defesa da teoria marxiana como um discurso teórico alternativo com maior poder explanatório. O resultado a que chego é que, justamente por causa da ontologia que o autor assume como base da teoria do valor, as relações sociais de produção próprias do modo de produção capitalista são desde o princípio retiradas da análise, e assim a teoria não pode conhecer o principal mecanismo causal dos eventos empíricos da economia. Portanto não pode entender de maneira satisfatória esses próprios eventos.