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Crítica a teoria do valor marshalliana

Abstract

O papel dos Princípios de Economia, obra magna de Alfred Marshall, foi proeminente no processo de consolidação da revolução marginalista e posterior hegemonização da teoria neoclássica na ciência econômica. A escola neoclássica moderna inclui em seu corpo explicativo diversas formulações originadas em Marshall, em alguns casos na forma quase original, em outros com maior grau de formalização matemática ou desenvolvimento teórico. Destarte, a crítica à obra marshalliana é necessária não somente para fazer uma genealogia das ideias dominantes, mas igualmente para perceber que as polêmicas e problemas centrais das formulações modernas também se apresentam nas origens do seu desenvolvimento, não sendo, portanto, resultado meramente de formas que a teoria assume ao longo do tempo, mas sim de sua fundamentação ontológico teórica ou, poderia dizer, de sua teoria do valor. É a partir desse pensamento que coloco, como objetivo principal deste trabalho, realizar uma crítica ontológica da teoria do valor marshalliana, desenvolvida nos Princípios, e, ao mesmo tempo, a defesa da teoria marxiana como um discurso teórico alternativo com maior poder explanatório. O resultado a que chego é que, justamente por causa da ontologia que o autor assume como base da teoria do valor, as relações sociais de produção próprias do modo de produção capitalista são desde o princípio retiradas da análise, e assim a teoria não pode conhecer o principal mecanismo causal dos eventos empíricos da economia. Portanto não pode entender de maneira satisfatória esses próprios eventos.

Key takeaways

  • Essa prescrição de método pode ser percebida claramente não só nas passagens de Marshall (1985a) Como disse Marx (1986b, p. 280), a teoria neoclássica "não é nada mais do que uma tradução didática, mais ou menos doutrinária, das concepções cotidianas dos agentes reais da produção, nas quais introduz certa ordem compreensível" 13 .
  • "Quando o preço de procura é igual ao de oferta, a quantidade produzida não tende a aumentar nem a diminuir: ela está em equilíbrio" (Marshall, 1985b, p. 32).
  • Como, para o autor, a curva de demanda social não é mais do que o agregado das curvas individuais, e cada produtor apresentará a tendência a aumentar a escala de produção, todo o ramo produtivo produzirá mais, movendo-se ao longo da curva de oferta para a direita.
  • Se o valor é criado na produção e somente realizado na circulação, já que concretamente as condições de realização dependem da conjuntura de mercado -e com isso queremos dizer não só se o valor é realizado ou não, mas em que medida esse valor é realizado -, esse momento também parece ser um determinante da criação de valor:
  • Por outro lado, se considerarmos na análise, como é realizado n'O Capital, as relações sociais de produção próprias do modo de produção capitalista, então perceberemos que as contradições entre oferta e demanda somente podem ocasionar desvios do preço do mercado em relação ao valor, mas não podem diretamente ser um determinante para esse mesmo valor, justamente porque sua determinação quantitativa -em termos de criação e não de apropriação -é dada pela quantidade de trabalho socialmente necessário para a produção da mercadoria.