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Texto Mat para todos (1)

Abstract

Aprender Matemática é um direito básico de todas as pessoas-em particular, de todas as crianças e jovens-e uma resposta a necessidades individuais e sociais. A Matemática faz parte dos currículos, ao longo de todos os anos da escolaridade obrigatória, por razões de natureza cultural, prática e cívica que têm a ver ao mesmo tempo com o desenvolvimento dos alunos enquanto indivíduos e membros da sociedade e com o progresso desta no seu conjunto. A matemática constitui um património cultural da humanidade e um modo de pensar. A sua apropriação é um direito de todos. Neste sentido, seria impensável que não se proporcionasse a todos a oportunidade de aprender matemática de um modo realmente significativo, do mesmo modo que seria inconcebível eliminar da escola básica a educação literária, científica ou artística. Isto implica que todas as crianças e jovens devem ter possibilidade de contactar, a um nível apropriado, com as ideias e os métodos fundamentais da matemática e de apreciar o seu valor e a sua natureza. Todas as pessoas precisam de desenvolver as suas próprias capacidades e preferências, bem como interpretar as mais variadas situações e tomar decisões fundamentadas relativas à sua vida pessoal, social ou familiar. A educação matemática pode contribuir, de um modo significativo e insubstituível, para ajudar os alunos a tornarem-se indivíduos não dependentes mas pelo contrário competentes, críticos e confiantes nos aspectos essenciais em que a sua vida se relaciona com a matemática. Isto implica que todas as crianças e jovens devem desenvolver a sua capacidade de usar a matemática para analisar e resolver situações problemáticas, para raciocinar e comunicar, assim como a auto-confiança necessária para fazê-lo. Com alguma frequência, as necessidades básicas em termos de formação matemática são identificadas com as competências elementares de cálculo, designadamente a aptidão para efectuar os algoritmos das operações aritméticas ou, num nível mais avançado, para realizar os procedimentos algébricos rotineiros. Trata-se, porém, de uma visão ultrapassada e inadequada do que são as competências matemáticas que todas as pessoas devem desenvolver. O cálculo faz, naturalmente, parte integrante da matemática mas aprender procedimentos de cálculo isolados, só por si, não promove o contacto dos alunos com as ideias e os modos de pensar fundamentais da matemática e não garante que eles sejam capazes de mobilizar os conhecimentos relevantes quando tiverem que enfrentar mesmo as situações problemáticas mais simples surgidas num contexto diferente. A Declaração Mundial sobre Educação para Todos da UNESCO (1990) indica explicitamente a resolução de problemas como um dos instrumentos de aprendizagem essenciais (ao lado de outros como a leitura, a escrita e o cálculo) e refere que, além dos conhecimentos, também as capacidades, os valores e as atitudes constituem conteúdos básicos de aprendizagem. É esta, igualmente, a perspectiva dos programas de Matemática para todos os ciclos do ensino básico aprovados no âmbito da última reforma curricular, aliás em consonância com o que sucede na generalidade dos países e de acordo com as recomendações dos mais importantes documentos programáticos internacionais sobre o ensino da Matemática. Pensar naquilo que é básico, essencial, para todos, remete-nos habitualmente para a noção do que é ser-se alfabetizado. A verdade é que esta noção tem evoluído consideravelmente. No primeiro sentido em que o termo foi utilizado, consideravam-se alfabetizados todos aqueles que tinham feito um conjunto de aprendizagens básicas (de leitura, escrita e cálculo) como resultado de terem frequentado a escola durante um certo número de anos. Mas esta identificação de alfabetizado com formalmente escolarizado não resistiu à verificação de que sectores significativos da população, embora escolarizados, não eram capazes de realizar adequadamente tarefas da vida corrente que requeriam a mobilização dos conhecimentos supostamente adquiridos. Num