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Iatrogenia em endoscopia - parte II

2006, Jornal Portugues De Gastrenterologia

Abstract

As complicações infecciosas são consequências raras da endoscopia gastrointestinal. Podemos dividi-las em três áreas principais: as complicações infecciosas resultantes da própria flora microbiana do doente; infecções transmitidas de doente para doente através do endoscópio; infecções transmitidas entre o doente e o pessoal de saúde. A frequência média da bacteriémia pós-endoscopia alta diagnóstica referida em diferentes publicações é muito heterogénea, mas uma compilação de nove estudos encontrou uma média de 4,2% (275). O principal organismo encontrado em hemoculturas após endoscopia alta diagnóstica foi o Streptococcus sp. (275). A dilatação de estenoses esofágicas é o procedimento gastrointestinal com maior taxa de bacteriémia, registando-se em 8 estudos, que incluíram 368 exames, uma taxa média de 22,8% (276-283). A escleroterapia de varizes esofágicas também se associa a uma taxa elevada de bacteriémia. Quer quando é efectuada no contexto de uma hemorragia aguda, quer no decorrer de um programa de erradicação de varizes esofágicas, foram registadas taxas de bacteriémia oscilando entre 0% e 52%, com uma frequência média de 15,4% (284-296). Como já foi assinalado, a laqueação elástica de varizes veio diminuir para metade a taxa de complicações comparada com a esclerose de varizes. Com efeito, a taxa média de bacteriémia após a laqueação de varizes em 4 estudos envolvendo 179 exames foi de 8,9% (294, 296-298). Em qualquer caso a duração da bacteriémia é curta, não ultrapassando em regra os 30 minutos e quase sempre assintomática, o que torna pouco clara a relevância clínica desta ocorrência. Apesar de se efectuarem milhões de endoscopias altas em todo o mundo, só houve 12 casos referidos de endocardite associada à endoscopia nos últimos 20 anos, sendo a maioria mal documentados e fornecendo apenas uma associação temporal . Quanto à endoscopia baixa, a sigmoidoscopia flexível, apesar de se tratar de um exame num meio altamente contaminado, mesmo num intestino bem preparado, tem uma taxa de bacteriémia baixa, com uma taxa média de 0,5% (308, 309). Quanto à colonoscopia, uma revisão de 13 estudos que incluíram 528 doentes referiu uma taxa média de bacteriémia de 2,2% (275), não se registando diferenças significativas entre colonoscopia apenas ou colonoscopia com biopsia ou polipectomia (310). Surpreendemente, os organismos mais frequentemente encontrados nas hemoculturas dos doentes com bacteriémia pós-endoscopia baixa foram semelhantes aos da endoscopia alta. A CPRE envolve a injecção de contraste em ductos biliares. Se estes estiverem obstruídos e colonizados por bactérias, a própria pressão da injecção pode levar à translocação de bactérias para a circulação. O mesmo pode acontecer aquando da dilatação de estenoses, colocação de próteses ou na esfincterotomia. A bacteriémia após CPRE em ductos biliares normais ou não obstruídos é de cerca de 5,6%, enquanto que se for efectuada em ductos biliares obstruídos por colecodolitíase ou neoplasia, aproxima-se dos 11% (275). Os organismos mais frequentemente encontrados em hemoculturas após CPRE são a Escherichia coli, a Klebsiella sp, a Pseudomonas aeruginosa e o Enterobacter sp.