Academia.edu no longer supports Internet Explorer.
To browse Academia.edu and the wider internet faster and more securely, please take a few seconds to upgrade your browser.
2016, Artefilosofia
…
10 pages
1 file
Talvez não seja errado dizer que o conceito de humanidade é concomitante à constatação, por nossos ancestrais mais remotos, de que havia uma diferença fundamental entre eles e as outras classes de seres que compunham o seu ambiente mais próximo, tais como as pedras, as plantas e os animais privados do dom da fala. Tanto é que mitologias das mais diferentes origens, em relatos sobre o aparecimento dos seres humanos, apontam, de algum modo, para a especificidade desses diante das outras coisas. Isso não impediu, no entanto, que, em narrativas posteriores à mencionada constatação, a auto-compreensão da humanidade enquanto diferente do restante dos seres se apresentasse como que entrelaçada ao ambiente natural que a circundava, o que durante muito tempo terá sido mesmo uma característica evidente em inúmeros relatos míticos. Um estágio ulterior dessa experiência, é a consolidação paulatina da crença de que a diferenciação entre humanos e não-humanos se dá especificamente pelo fato de que aqueles são dotados de racionalidade stricto sensu enquanto esses não o são. A consolidação desse ponto de vista, num processo longo e tortuoso, veio a desembocar na consciência da distinção entre relações humanas baseadas pura e simplesmente na força e aquelas mediadas pela razão enquanto âmbito através do qual a concórdia e a compreensão preferencialmente poderiam ser alcançadas e, onde isso não fosse possível, alguma forma de compensação seria proporcionada à parte ofendida numa contenda ou, na pior das hipóteses, seria infligida punição à parte ofensora.
Resumo: O canto IX, da Ilíada de Homero, apresenta o relato do encontro entre Odisseu e Polifemo. Trata-se de um acontecimento central nessa epopéia. Dois seres, que pertencem a culturas distintas, civilizada e não civilizada, trocam experiências na tentativa de um diálogo. No entanto, não há a possibilidade de um contato no qual esteja presente a harmonia e o respeito; pelo contrário, prevalece a violência, a destruição e o engano. Abstract: Book IX of Homer's Iliad tells the story of the encounter of Odysseus and Polyphemous. It is a central point of the epic poem. Two beings belonging to different cultures, civilized and non-civilized, exchange experiences in an attempt to establish a dialogue. However, there is no possibility of a contact in which harmony and respect are present; on the contrary, violence, destruction and cheating prevail. A epopéia Odisséia apresenta-se como um retrato de um mundo ainda repleto de particularidades a serem investigadas. As esferas das quais o canto IX se ocupa não se limitam a viagens pelo desconhecido, mas apresentam relações de força, de sabedoria e de mediocridade humana. Saúda-se a grandeza do homem; entretanto, se ele realmente conseguiu alguma, isso não nasceu de um processo pacífico. Foi, pois, o resultado de uma longa luta de sofrimento e de perda do controle diante da capacidade de destruir um indivíduo. Bruno Snell localiza o momento da descoberta do espírito do homem na irrupção da tragédia, da poesia lírica, além de destacar os textos de Homero (SNELL, 2001: 17). De fato, o mito de Odisseu é resultado de uma nova compreensão do homem acerca do mundo, mais precisamente na cena entre Polifemo e Odisseu, pois tudo inicia pelo enfrentamento de um ser contra outro. Odisseu passa a refletir, uma vez que ele está relatando aos feácios as suas viagens, as experiências que teve com um ser colossal, representado por Polifemo, quando o herói procurava retornar à Ítaca. Há a presença do truque lingüístico quando Polifemo aceita que o nome do herói seja 'Ninguém', canto IX, v. 366. Nessa relação que o herói mantém com o gigante, isso possibilita a Odisseu a construção de especulações a respeito de si mesmo. Na verdade, é a partir do estranho (Polifemo) que Odisseu delimita quem é o seu eu. De fato, o seu estratagema faz do * Doutor em Letras Clássicas pela USP e é pesquisador na área de Literatura Grega e Comparada. O email do autor é [email protected].
Nuntius Antiquus, 2011
que pode despertar a curiosidade do leitor moderno, não serve como tradução, nem mesmo aproximada, para nenhum termo grego presente no texto original, o que não impede, porém, que ele possa eventualmente designar um tema ou questão apreensível apenas a partir das situações narrativas deste mesmo texto (desafiando, assim, uma abordagem lexical estrita para a qual um tema ou questão só pode existir se existir uma palavra que o designe).
Revista de Ciencias Sociais Aplicadas UEPG vol. 20, 2012
O presente trabalho tem como objeto de análise a Justiça em sua face criminal, a partir de duas fi guras que são entendidas como arquetípicas – a Justiça Penal e a Justiça Restaurativa – e de dois elementos que são apontados como preponderantes a cada uma delas: o espírito da vingança ou retributivo, e o espírito do perdão ou restaurador. A fi gura da Justiça Penal estatal e retributiva-vingativa contemporânea é permeada pelo cientificismo positivista discursivamente neutro e sua dinâmica mecanicamente engessada, que engendra uma prática rotular e seletiva de exclusão social e inflição mecânica e consciente de dor ao selecionados. A fi gura da Justiça Restaurativa se preconiza na sua forma comunitária e não judicial, sendo, portanto, participativa, dialogal, desburocratizada. É permeada pelo espírito do perdão mútuo e tem como escopo principal a restauração do tecido social que foi rompido pela agressão. Este trabalho tem como objetivo repensar o Direito e, sobretudo, a ciência penal como vem sendo construída pelas instâncias oficiais, e demonstrar como existem alternativas para além do deserto do real que a dogmática positivista preconiza e, inclusive, para fora das suas estruturas hierarquizantes. Assim, o presente trabalho é resultado eminentemente de uma revisão bibliográfica na qual subjaz um posicionamento crítico reflexivo e pluralista comunitário. Palavras-chave: Justiça Restaurativa. Sistema Penal. Vingança. Perdão. Pluralismo jurídico.
Aletria: Revista de Estudos de Literatura, 2012
O ensaio consiste em reflexões literárias e históricas sobre osesportes nos arquivos-poemas homéricos, priorizando-se ashistórias de guerra e regresso do aedo grego e não o elogio ou aanálise de desempenhos físicos de críticos e espectadores decompetições. Buscamos, na esteira de Hans Ulrich Gumbrecht,captar o espaço sagrado dos jogos a partir da intimidade entreUlisses e a deusa estrategista Atena.
Ensaio publicado nas Revistas Consultor Jurídico e Recanto das Letras Não se sabe exatamente se Homero (de algum modo o antepassado mais distante da literatura) teria existido de fato ou não. Imagina-se um poeta cego e errante. Homero é sinônimo de poeta, de tradição, de cânone literário. É muito provável que os poemas a ele atribuídos sejam o resultado de longa tradição oral: eram recitados pelos rapsodos (trovadores) que vagavam pelas cidades gregas cantando glórias e batalhas em forma de versos polidos em uma linguagem artificial e sofisticada. É a teoria coletivista. Memorizavam os cantos. Por isso, uma métrica tão consistente, são versos hexâmetros (seis sílabas) que facilitam a mnemônica. A tradição atribui a Homero a autoria da Ilíada (que narra o fim da guerra de Tróia) e a Odisseia (que conta o retorno do guerreiro Ulisses para seu reino, Ítaca). A Ilíada centra-se em Aquiles (e em sua ira). A Odisseia centra-se em Ulisses (enfatizando sua astúcia). São poemas memoráveis. Aquiles é passional, suas reações são explosivas, é um tipo sanguíneo. Aquiles é um colérico. Ulisses é racional, reflete, pensa, sabe o momento certo para falar, o que falar, o que não falar, é moderado. Como se lê no Canto XX da Odisseia, "consegue conter os impulsos e medita". Mente, se necessário. E se não for necessário, mente também. Dissimula. Inventa. Distorce palavras e fatos. Héris, a deusa da discórdia, por não ter sido convidada para uma festa no Olimpo, lançou entre os convivas um pomo de ouro, com a inscrição: para a mais bela das deusas. É o pomo da discórdia. Atenas (sabedoria), Afrodite (beleza) e Deméter (agricultura) disputaram o título. Os deuses se negaram a escolher. Chamaram um mortal, Páris, filho de Príamo, rei de Tróia, para que indicasse qual das deusas era a mais bela. Afrodite o subornou, prometendo a mais bela entre as mortais. O juiz aceitou a prebenda. Um caso para o Conselho Nacional de Justiça. A mais bela era Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta. Recebido pelo rei espartano, em cujo palácio foi alojado, Páris, o príncipe troiano, seduziu e raptou a mais bela das mulheres que já houve. O marido ensandecido reuniu exércitos de toda Grécia. Ainda que julgando-se traído o marido apaixonado sublimou a dor justamente porque
Educação & Sociedade, 2003
RESUMO: Quando, em 1987, Jacques Rancière publicou O mestre ignorante, de Joseph Jacotot, o método universal de emancipação intelectual e o aprendizado de leitura sem mestre explicador inscreviam o nome de seu autor no livro de ouro dos precursores da escola e da pedagogia. Após uma releitura do estatuto que, em 1911, o Dictionnaire de pédagogie de Ferdinand Buisson lhe havia conferido, Stéphane Douailler, professor do departamento de filosofia da Universidade Paris VIII, busca ressaltar, neste breve artigo, algumas das linhas de ruptura graças às quais o livro de Jacques Rancière conseguiu estilizar a aventura de Jacotot num paradigma excepcional da questão filosófica da igualdade das inteligências e da emancipação universal, na contramão das verdades em torno das quais, historicamente, a escola se fundou.
Minissérie em análise: sujeito, corpo(s), imagens, 2018
Kriterion: Revista de Filosofia, 2019
RESUMO Em nosso artigo, pretendemos verificar as teses de Trasímaco sobre a justiça e se estas são consistentes entre si. Para isso, há de se observar a relação da justiça com o governo e a força (krátos) que a determina. O intuito é reavivar as discussões hodiernas sobre as teses de Trasímaco dentro da filosofia platônica, assim como demonstrar sua importância para o âmbito da filosofia política.
Revista Portuguesa De Humanidades, 2009
This is an Jungian analysis of the Odissey. As is typical from the Jungian point-of-view the different charecters in the myth are seen as subjective unconscious characteristics of the hero, Odysseus. So, just to give a few examples, the Cyclop Polyfem is seen as the still untamed masculinity of Odysseus. Besides the fact of beeing one-eyed, it shows Odysseus, still as an onesided man who cannot yet look at circumstances, at facts seeing them with a dubious look. Circe, the sorceress is seen, first as a still untamed Anima, the unconscious feminine side of Odysseus, but after the intervention of Hermes, a symbol of consciousness strengheting, she becomes more human and the relatyedness which is the characteristic typical for the Anima as an Jungian archetype of the Collective Unconscious, becomes real, becomes a fact: Circe stops beeing a sorceress, enchanting, to become acquainted with Odysseus. (We have to take into account here that I took the classical position of Jungian studies). What is important is to see that this journey home, to Ithaca is Odysseus way of Individuation and I would add that it symbolizes the way of Individuation of each one of us. From having to tame his masculinity, só to recognize his Shadow and top consciencialize his feminine unconscious, the Anima, not forgetting his descent to the Hades and his encounter with Tiresias, as a symbol of the Old Wise Man, in order to gain the scared wedding with Penelope. Obviously that much more had to be said about what I Wrote. I only add that the way of Individuation is always an unfinished way, as the episode of Dante's Odysseus in the Divine Comedy só well shows us. There are foward steps and backward ones. Hopefully the direction is always forward, though through a long and winding road.
Loading Preview
Sorry, preview is currently unavailable. You can download the paper by clicking the button above.
Revista Criação & Crítica, 2009
Revista Textos Linguisticos, 2010
Adriana Freire Nogueira (ed.), Otium et Negotium: Antíteses na Antiguidade, 2007
Artefilosofia, 2016
Polymatheia, 2007
Revista Brasileira de Pesquisas Jurídicas (Brazilian Journal of Law Research)
in PINTO, Ana Paula; SILVA, João Amadeu; LOPES, Maria José & GONÇALVES, Miguel (Orgs.), «Mitos e heróis – a expressão do Imaginário» (Atas), Braga: Publicações da Faculdade de Filosofia, pp. 545-554.
Estupro: Perspectiva de Gênero, Interseccionalidade e Interdisciplinaridade, 2019
Heródoto: Revista do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Antiguidade Clássica e suas Conexões Afro-asiáticas
Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, 2019