Academia.eduAcademia.edu

Ética e anti-ética

2009

Abstract

Em documentário, a ética que se tem e que se usa é geralmente uma questão de consciência pessoal. Noutros campos profissionais, como no jornalismo, há regras estabelecidas, códigos de conduta – mesmo se os seus limites são frequentemente ultrapassados. Em cinema, onde as práticas são mais livres e mais individuais, não existem regras predefinidas. Pode afirmar-se que, em documentário, a questão ética está presente em todas as fases de trabalho. Cada realizador, à sua maneira, procura honrar essa relação de confiança, sem perder a capacidade crítica e a distância de que depende a sua independência. A ponderação ética que percorre este processo não tem, rigorosamente, nada a ver com a obtenção de autorizações escritas ou outras.

Key takeaways

  • A intimidação funcionou, mesmo se a realizadora defendeu a projecção do filme com a justificação de que "tal empresa nunca é identificada no filme e seus os direitos legítimos nunca são postos em causa" e que "o que está filmado não é mais do que aquilo que qualquer pessoa pode ver ao viajar nessas excursões".
  • Não é compreensível que a realizadora corte uma cena daquelas sem nos dar a conhecer a resposta, ou a falta de resposta, àquele apelo.
  • A questão que aqui se põe já não é a da forma ou a da distinção entre o melhor e o pior cinema, mas a questão da relação do realizador ao real que filma.
  • Mas igualmente importante será a ética relativa ao espectadoraquela que lhe assegura que um documentário não é manipulativo e lhe dá provas de confiança.
  • Apesar de ter achado muito interessante Enemies of Happiness, um filme da dinamarquesa Eva Mulvadsobre a deputada afegã Malalai Joya, também não gostei do uso que faz do mesmo tipo de banda sonora, porque é uma forma de hipocrisia o duplo discurso que ostenta: por um lado diz ao espectador: olha, vê como é a realidade; por outro, junta-lhe um tempero de emoçõezinhas adequadas à sua cultura americani-zada, para o fazer sentir mais intensamente -como se não bastassem as emoções da protagonista, suficientemente interessantes e reveladoras sobre o que é ser mulher afegã.